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Jantava com minha esposa em um desses restaurantes badalados no fim de semana quando comentei com ela sobre o enorme cavalo de polo estampado na camisa de um sujeito ao lado. Ocupava metade da blusa. Tentamos compreender, com certa nostalgia, por que as marcas tinham aumentado tanto de tamanho nas roupas. Aquele símbolo discreto da Ralph Lauren costumava ser tão mais bonito…

Ao ler a coluna de Luiz Felipe Pondé hoje na Folha, veio à mente que isso pode ter ligação com a era das redes sociais. O filósofo tem certa implicância estética com a burguesia, o que é absolutamente compreensível. Podemos defender todas as vantagens materiais e até mesmo morais do advento da burguesia como classe, e ainda assim admitir que, do ponto de vista estético, ela pode ser vulgar muitas vezes, no afã de simular uma aristocracia que não possui.

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O “Face” e o Instagram potencializaram essa tendência, ao criar o “momento Caras” para todos nós. Todos desejam ter seu dia de celebridade, de “aristocrata”, de gente importante, e isso acaba produzindo uma corrida por atenção. Tudo acaba mais espalhafatoso nessa disputa por aparências. Diz Pondé:

A afetação com vinhos é um sintoma clássico. Chegamos ao ponto de ser melhor não falar sobre vinhos em jantares inteligentes para que não pensem que somos gente que faz curso de enologia. Na verdade, quem entende mesmo de vinhos deve ficar calado quando os outros começam a expor seus cursos feitos por aí. Nunca se deve usar expressões como “amadeirado”.

Sim, falo das afetações típicas de brasileiros e paulistanos, mais especificamente. A burguesia sempre sofreu de um complexo de vira-lata em relação à aristocracia medieval, porque esta era o que era, enquanto a burguesia é o que tem, e nada mais.

Em seguida, Pondé elenca outros exemplos desse complexo vira-lata, como querer mostrar que entra na fila de europeus no aeroporto porque tem passaporte italiano, tentar encontrar nobreza na ancestralidade, frequentar os “melhores restaurantes do mundo” após meses de filas de espera só para ser visto por ali, ou falar mal do Brasil o tempo todo (tentação difícil de resistir, especialmente nos dias atuais com o PT no poder).

Claro que podemos e devemos ser críticos com nosso país, apontar seus defeitos, mas o que Pondé condena é a idealização dos outros povos, principalmente os europeus. Como dizia Jorge Luís Borges, a “Europa” só existe em Buenos Aires, isto é, aquela Europa perfeita descrita pelos argentinos era pura obra de ficção.

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Curiosamente, é algo análogo ao que os europeus fazem, só que em direção oposta, ao idealizar o “bom selvagem” dos países mais pobres e atrasados, e o que as elites desses países fazem ao enaltecer a vida na periferia e nos guetos. Os favelados são tão mais felizes em sua “simplicidade”, eles pensam, ignorando que não pode ser agradável viver sem saneamento básico, em meio a tiroteios e controle do tráfico, ou bailes funks infernais pela madrugada.

Já essas pessoas da periferia partem para o “funk ostentação”, querendo mostrar que podem consumir marcas de grife também. E tudo fica mais escandaloso, mais “chamativo”, mais gritante. O mundo parece ter virado um palco em que todos disputam a tapas os holofotes disponíveis.

Voltando ao complexo vira-lata burguês, Pondé lembra que essa afetação toda não tem nada de elegante ou sofisticada, pois denuncia justamente a origem que pretende ocultar. Ele conclui:

No final das contas, como sempre, toda elegância é discreta, assim como toda virtude é silenciosa. Esta é, talvez, uma das maiores contradições do mundo contemporâneo pautado pelo ridículo das redes sociais: todo mundo tem que aparecer para existir. Esta contradição aparece, por exemplo, quando reclamamos de que as pessoas invadem nossa privacidade quando a maioria de nós “posta tudo” pra ser visto.

Rodrigo Constantino

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