Em minha coluna impressa da revista Veja, escrevi no final de julho um texto cujo título já ia direto ao ponto: Recessão à vista! O que era apenas uma previsão agora é realidade: estamos oficialmente em recessão técnica, ou seja, dois trimestres consecutivos de queda de atividade geral:
A economia brasileira registrou contração de 0,6% no segundo trimestre de 2013 na comparação aos três meses anteriores, informou nesta sexta-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado do primeiro trimestre foi revisado para queda de 0,2%, o que significa que a economia brasileira entrou em recessão técnica, quando há dois resultados trimestrais seguidos negativos. A agropecuária cresceu 0,2%, enquanto a indústria retraiu 1,5% e o setor de serviços também teve um desempenho de 0,5% negativo. O PIB apresentou queda 0,9% no segundo trimestre de 2014 em relação a igual período de 2013.
Com o resultado, o crescimento acumulado no ano é de 0,50% em relação ao mesmo período de 2013. A soma de todas as riquezas produzidas pela economia do país entre abril e junho foi de 1,271 trilhão de reais. Desse total, o setor de serviços respondeu por 750,1 bilhões de reais, seguido por indústria (255 bilhões) e agropecuária (82,5 bilhões), segundo o IBGE.
Ano contra ano, uma análise mais fiel do quadro, vemos uma queda de quase 1% do PIB. E se estamos em recessão com uma elevada inflação ainda no topo da meta, estamos, na verdade, em estagflação, o pior quadro econômico que existe: atividade em queda, preços para cima.
O segundo trimestre de 2014 traz dados realmente preocupantes. Por exemplo: uma queda de 3,4% na indústria, e o mais assustador de tudo, uma queda de 11,2% na Formação Bruta de Capital Fixo, o que pode ser traduzido como investimentos.
São os investimentos que garantem a expansão da oferta e da produtividade, ou seja, a única forma sustentável de crescer sem gerar inflação ou rombo nas contas externas. A taxa de investimento no segundo trimestre de 2014 foi de míseros 16,5% do PIB, patamar muito aquém do que necessitamos e inferior aos já reduzidos 18,1% do mesmo período do ano anterior.
Aécio Neves, só para se ter uma ideia, fala em levar esse patamar para 24% do PIB, um nível considerado adequado por muitos economistas para permitir um crescimento de verdade, e não voos de galinha como na era lulopetista.
Eis o resumo: temos uma indústria em frangalhos, o investimento despencando, e apenas o consumo das famílias já endividadas segurando um pouco as pontas junto com os gastos públicos. É um modelo terrível, insustentável, que incha o estado ainda mais e depende do consumo de famílias cada vez mais asfixiadas por dívidas.
Se o Brasil insistir no modelo atual, no nacional-desenvolvimentismo de Dilma, não resta muita dúvida: o trágico destino da Argentina será também o nosso.
Rodrigo Constantino