O discurso adotado pelo governo Jair Bolsonaro de minimizar dados sobre aumento de desmatamento, de flexibilizar regras sobre áreas de preservação e os frequentes embates com outros países relacionados ao tema ambiental causam apreensão e têm sido classificados como prejudiciais pelo agronegócio. O incômodo se tornou explícito após publicações estrangeiras, como a revista britânica The Economist, criticarem a atual política ambiental do Brasil.
A repercussão negativa, aliada a pressões do setor, levou a área de comunicação e o Itamaraty a prepararem uma campanha no exterior para tentar rebater narrativas que, na visão de integrantes do governo, podem afetar o País comercialmente. O agronegócio aponta risco de impacto negativo em acordos comerciais e, por tabela, na arrecadação com exportações.
O alerta foi levado ao Palácio do Planalto pela ministra da Agricultura, Tereza Cristina, que chegou ao cargo por indicação da Frente Parlamentar da Agricultura (FPA), a chamada bancada ruralista no Congresso. Ela defende uma campanha sobre o assunto para mostrar que o Brasil é uma “potência agrícola séria”.
Durante as tratativas do acordo entre Mercosul e União Europeia, a ministra ouviu de europeus que o mais importante para concluir a negociação não é convencer autoridades, e sim combater a disseminação de informações negativas sobre o Brasil.
Tanto conteúdo como forma importam. Não acho que o governo Bolsonaro esteja errado quanto ao conteúdo, ao menos não no essencial. Há muito alarmismo por parte dos ambientalistas sim, e a causa virou refúgio das viúvas do comunismo, para continuarem detonando o capitalismo e pregando uma espécie de governo mundial concentrando poderes para interferir em tudo.
Basta ver o Green New Deal proposto pela socialista Alexandria Ocasio-Cortez, um projeto stalinista. São os melancias, verdes por fora, mas vermelhos por dentro. A esquerda fala em nome da ciência, mas há muito que a ciência por trás do ambientalismo foi capturada pela ideologia. Al Gore que o diga, com seu alarmismo infundado, histérico e, claro, oportunista.
Dito isso, parece inegável que o mundo como um todo resolveu abraçar as principais bandeiras ambientalistas. A preocupação com o meio ambiente, em que pesem os excessos paranóicos com o aquecimento global, é legítima, e inclusive cara aos conservadores. Roger Scruton tem livros sobre o assunto, mostrando a abordagem conservadora para a preservação do meio ambiente.
Apontar abusos de ONGs, interesses obscuros por trás de certas causas exageradas, mostrar quem financia esses projetos e que pode estar por trás, como no slogan “florestas lá, fazendas aqui” que campanhas americanas adotam, tudo isso é válido e necessário. Mas é preciso cuidado na forma. É importante evitar a retórica exagerada do lado de cá, uma ideologia de sinal trocado.
Passar a impressão ao mundo de que não estamos nem aí para a causa ambiental é um problema grave de estratégia de marketing. O presidente pode estar “mitando” nas redes sociais, jogando para sua plateia, ganhando “likes”, mas está levantando a bola para que os ambientalistas possam cortar e, com isso, prejudicar o agronegócio brasileiro.
Como os ruralistas vivem de resultados, precisam ser pragmáticos. Se não é possível derrota-los, então junte-se a eles, diz o ditado. Com tato, com jeito, é fundamental reverter essa imagem negativa, demonstrar que há comprometimento com o meio ambiente sim, e que isso não precisa significar uma postura xiita, romântica, que impeça nosso desenvolvimento econômico.
Combater excessos ambientalistas é uma coisa; transmitir a ideia de que nada que venha de ambientalistas importa é outra, bem diferente. Fazendo uma analogia com minha seara, é como apontar o viés ideológico da imprensa, o que é louvável e necessário, em vez de demonizar praticamente todo o trabalho jornalístico da “extrema-imprensa”, o que é uma campanha idiota e autoritária.
O governo precisa aliviar na retórica que alimenta sua base mais aguerrida, sua militância engajada. Cada vela acendida para esse grupo fanático representa mais pontos perdidos com os moderados. E esses são maioria, apesar da impressão contrária ao julgar pelo barulho nas redes sociais…
Rodrigo Constantino
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