Já apresentei meus primeiros pensamentos sobre essa decisão esdrúxula da primeira turma do STF de transformar Jair Bolsonaro em réu por “apologia ao estupro”. Enquanto Dilma, Lula e Renan Calheiros aguardam ad infinitum por alguma ação do Supremo, eis que Bolsonaro, incomodando cada vez mais a esquerda e crescendo em pesquisas, sofre um golpe desses. É absurdo sim! O bom senso ficou com o único voto favorável a Bolsonaro, de Marco Aurélio Mello, reconhecendo o óbvio: tratou-se de um “arroubo retórico”. O próprio deputado já se explicou em entrevista após a decisão:
Mas Reinaldo Azevedo discorda dele. O ultralegalista, que tem batido bastante em Bolsonaro, escreveu um texto aplaudindo a decisão do STF. Diz Azevedo:
Bolsonaro considera Maria do Rosário desprezível, certo? Tão desprezível, diz ele, que não mereceria nem mesmo ser estuprada. Logo, para este senhor, sofrer um estupro é um merecimento de quem exibe as devidas qualidades para tanto. Quais, senhor parlamentar? Quando é que uma mulher “MERECE” ser estuprada?
É uma fala asquerosa, pela qual, que eu saiba, ele nem mesmo se desculpou. Tem de ser processado, sim! Quando menos para que, ao se defender, esclareça o que quis dizer quando associou estupro a algo meritocrático.
[…]
A mulher que concordar com o deputado tem de concordar que, sob certas circunstâncias, qualquer mulher “merece” ser estuprada, inclusive ela própria. O homem que concordar com Bolsonaro terá de concordar que, sob certas circunstâncias, sua própria parceira, filha ou mãe merecem ser estupradas. Mais do que isso: terá de concordar que, sob condições tais e quais, qualquer homem pode dar o que a tal mulher “merece” — sendo, pois, um estuprador em potencial.
Bolsonaro não tem saída. Poderia se desculpar para ver se consegue limpar a sua barra. Mas ele e seus seguidores são valentões demais pra isso.
Espero que a Justiça faça a sua parte e puna Bolsonaro.
Já Joice Hasselmann, ex-Veja, soltou o verbo contra o STF leniente, enviesado, e mesmo discordando de várias falas do deputado Bolsonaro, saiu em sua defesa pelo que isso representa, pela hipocrisia da coisa, pela suspeita de ligação com a eleição de 2018, da qual muitos gostariam de ver Bolsonaro longe. Vejam seu vídeo:
Entre Reinaldo Azevedo e Joice Hasselmann, fico com a loura porreta nessa! Joice toca nos pontos certos: o contexto precisa ser levado em conta. E Azevedo parece se deixar dominar ou por um excessivo legalismo ingênuo, que olha a árvore e ignora toda a floresta, ou por seu desprezo por Bolsonaro, o que seria o lado emocional. De qualquer forma, não se pode brincar com uma coisa dessas. A decisão é sem sentido, fora de timing, hipócrita, desproporcional e abre perigoso precedente quanto à imunidade parlamentar.
Para o STF, eis a impressão que fica: pode roubar à vontade, pode quebrar a Petrobras, o Brasil, pode cuspir na cara, pode defender estuprador assassino menor de idade. Só não pode falar que uma mulher não merece ser estuprada, numa colocação infeliz, mas que ainda assim alega que ela não deve ser estuprada, numa reação a uma ofensa sem tamanho a alguém que foi chamado de “estuprador” enquanto prega a castração química e penas mais pesadas para estupradores. É bizarro.
Rodrigo Constantino
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