Gosto dos editoriais do GLOBO. Normalmente concordo com bastante coisa, à exceção de quando o assunto é desarmamento ou política americana. Mas, no texto de hoje, fiquei um tanto perplexo com a vã esperança demonstrada de que a própria presidente Dilma ainda pode fazer o que é certo em termos de “ajuste fiscal”. Diz o jornal:
De muito difícil trânsito no Congresso, a CPMF precisa ser substituída por um corte real de despesas, nas contas governamentais em busca de um superávit primário de 0,7% do PIB, em 2016.
Reportagem do GLOBO de ontem sobre a caixa-preta da folha do funcionalismo confirma que nela há muita margem para o Planalto começar a compensar o não relançamento da CPMF — e respeitando a estabilidade dos servidores.
Por exemplo, havia em julho 100.313 cargos ditos de confiança no Executivo, 51% mais que os 66.040 existentes em 2000, ainda com FH. Numa folha que ultrapassará este ano os R$ 100 bilhões (três CPMFs), há incontáveis aberrações. Uma delas, a acumulação de gratificações que compõem salários acima de R$ 150 mil mensais.
Cortar 3 mil destes cargos, como prometido pelo Planalto, é algo modesto. Dilma, para ser coerente com a defesa da permanência de Levy, precisa agir. Muito pode ser feito.
Ora, que qualquer ajuste fiscal sério que mereça o nome seria totalmente focado em corte de gastos públicos, não em aumento de impostos, isso está claro para qualquer um que não se alimenta de quatro. Agora, que haveria qualquer possibilidade de a própria presidente Dilma fazer isso, aí já é demais.
Essa expectativa de que Dilma poderá fazer a coisa certa se ao menos for pressionada com bons argumentos é ingênua, pois ignora a essência da presidente. De onde menos se espera é que não sai nada mesmo. Esperar reformas e cortes estruturais nos gastos públicos desse governo é viver à espera de Godot. Prefiro ser mais realista e compreender que ou Dilma cai, ou o Brasil afunda. No other option here!
Rodrigo Constantino
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