Toda generalização é simplista e grosseira, mas mesmo assim pode ilustrar bem um ponto às vezes. É o que pretendo fazer a seguir em relação aos modelos econômicos da Alemanha e da França. Comentei hoje sobre o esforço do governo francês de retirar um pouco os fortes grilhões sobre os negócios no país, mesmo vindo de um partido socialista, e usei a comparação que Sardenberg fez entre França e Alemanha para mostrar a gritante diferença de postura.
Claro que a coisa é bem mais complexa, que há muitos fatores envolvidos na diferença de produtividade entre os dois países. Mas é inegável que a França adota mais uma postura de “cigarra”, e que a Alemanha seria a “formiga” da fábula. A “dolce vita” de Paris versus a labuta determinada alemã. É óbvio que não é bem assim, mas o leitor entende o ponto. E também é evidente que o método que vou usar a seguir para ilustrar o resultado desse fenômeno tampouco é perfeito, mas também cumpre seu papel.
Vamos comparar o CAC, índice de ações das empresas francesas, com o DAX, índice das empresas alemãs, nos últimos cinco anos. O que podemos perceber é que esse engessamento da economia francesa, repleta de regalias irrealistas, custa caro em termos de valor de seus ativos. Em apenas cinco anos o índice francês perdeu quase 35% de valor relativo ao alemão:
O intelectual que adora Paris pode achar que isso não é relevante, que interessa apenas aos especuladores de Wall Street. Nada mais falso. Isso mostra que as empresas alemãs valem cada vez mais do que as francesas, sintoma de que a economia de um país apresenta melhor saúde e perspectivas que a do outro.
Também afeta indiretamente os trabalhadores, pois significa menos lucros para reinvestir e pagar melhores salários à frente. E ainda significa menos capacidade de pagamento de impostos por parte dos criadores de riqueza, o que compromete o próprio estado de bem-estar social no futuro.
Enfim, a tendência é clara, que a França segue seu declínio relativo à Alemanha. O vinho ainda é ótimo, os cafés de Paris podem ser um charme, e que delícia respirar aquele ar rebelde e contestador do país que nos deu Voltaire. Mas não é isso, no fim do dia, que coloca a comida na mesa das pessoas. Não é isso que garante a competitividade e a sobrevivência econômica de um povo.
Os franceses deveriam ler a fábula de Esopo e recontada por La Fontaine, poeta francês. Há um preço alto a se pagar por levar a vida como se fosse uma cigarra em eterno verão, cantando e se divertindo como se o inverno nunca fosse chegar. Os “chatos” dos alemães, trabalhadores produtivos em ambiente de maior liberdade econômica*, já precisam pagar a fatura da farra grega. Não vão aguentar bancar também os franceses…
* Basta comparar o Índice de Liberdade Econômica dos dois países, calculado pelo Heritage Foundation. Enquanto a Alemanha ostenta a décima-sexta posição no ranking, a França está na septuagésima-terceira colocação, e caindo! É um país cada vez menos livre, e por isso menos próspero.
Rodrigo Constantino
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