O espanhol Pedro Almodóvar ganhou projeção nos anos 1980 com filmes que celebravam a liberdade de expressão e sexual. Acostumado a capturar o estado de ânimo de seu país nas telas, o diretor registra, em seu mais recente longa, “Julieta” (que estreia no Brasil em 7 de julho), uma Espanha triste. Ele diz que a história de mãe torturada pela ausência da filha, que fugiu de casa, é reflexo do fracasso político de seu país. Os espanhóis estão sem governo desde as eleições de dezembro, por nenhum partido ter apoio suficiente no Parlamento para governar. “Sou solidário com o que acontece no Brasil por estarmos enfrentando uma fase difícil parecida, de incertezas”, disse o cineasta de 66 anos, vencedor de dois Oscars: de melhor filme estrangeiro com “Tudo Sobre Minha Mãe’’ (1999) e de roteiro com “Fale Com Ela” (2002). Em entrevista à ISTOÉ, concedida durante a 69ª edição do Festival de Cannes, ele falou de sua decepção com o sistema democrático, lamentou o avanço da direita no mundo e disse ser apenas um figurante no caso Panama Papers, investigação sobre recursos investidos em paraísos fiscais.
Eis um trecho:
ISTOÉ – Como o sr. vê o crescimento dos partidos de direita na Europa?
Almodóvar – Estou aterrorizado com o avanço da direita. Não tenho filhos, mas, se tivesse, ficaria preocupado com o destino deles, por temer um futuro atroz para o mundo.
ISTOÉ – Nos Estados Unidos, o magnata Donald Trump conquistou um espaço inesperado na campanha presidencial.
Almodóvar – Não quero sequer pensar na possibilidade de Donald Trump chegar à Casa Branca, pelo retrocesso que ele representa. A situação é preocupante no mundo todo. Nunca imaginei que manifestações contra o casamento gay e contra o aborto pudessem arrastar tanta gente na França. Para nós, espanhóis, a decepção com a França é ainda maior.
A esquerda “progressista” plantou as sementes que levaram ao crescimento dessa direita nacionalista e “xenófoba”. Mas os “progressistas” se recusam a fazer uma reflexão profunda sobre seu mea culpa nessa história. Desde a década de 1960, em que prometem “liberdade” por meio da libertinagem, ajudaram a fomentar um sentimento de vazio, tédio e até niilismo nos jovens ocidentais. A prometida felicidade não veio com todas as quebras de tabus. Mas a esquerda não se questiona sobre o que pode ter dado errado. Francisco Razzo, autor de A imaginação totalitária, dissecou o cadáver moral:
O cineasta espanhol Pedro Almodóvar lamenta a onda de conservadorismo na Europa e nos EUA e diz que Brasil e Espanha vivem uma crise de lideranças e que está aterrorizado com o avanço da direita no mundo.
Oh dó.
Fácil nomear de direita tudo aquilo que ele não suporta. Difícil, e difícil mesmo, é encarar um pensador conservador de frente. Almodóvar é uma espécie de Chico Buarque do cinema. Tem lá sua sensibilidade estética, mas acha que detém autoridade para falar de qualquer assunto.
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