Dois casos recentes expõem aquilo que Greg Lukianoff denunciou em seu livro Unlearning Liberty: o crescente autoritarismo nas escolas e universidades americanas. No primeiro deles, um aluno teve sua foto do livro de final de ano adulterada por Photoshop para que o nome do presidente Trump desaparecesse da imagem.
Os pais ficaram revoltados e exigiram e reimpressão do livro. Não foi um caso isolado. Outros alunos passaram por coisas semelhantes. Os pais cobraram uma explicação da escola, e lembraram da Primeira Emenda constitucional, sobre a liberdade de expressão.
Antes de o jovem tirar a foto oficial com a camisa, o pai disse que fez questão de verificar se havia ou não algum impedimento oficial para isso, e não havia restrição alguma. Foi a primeira eleição na qual o garoto se interessou, disse o pai, e ele queria memorizar esse fato.
Outro aluno com uma camisa do Led Zeppelin não foi vetado, não teve a imagem apagada. Houve casos no passado de alunos com camisas do Obama que tampouco foram censurados. Mas Trump, pelo visto, não pode. E quem decide? A administração da escola, de forma arbitrária e ex-post facto.
“Eu não acho que houve uma grande conspiração aqui, mas acho existe um comitê e um conselho para o livro de final de ano, e em algum lugar na mistura, alguém ou várias pessoas decidiram censurar três estudantes”, disse Berardo, que teve a camisa “apagada”. “O fato de o comitê achar que é certo censurar o nome do presidente ou qualquer coisa que não fosse ofensiva é simplesmente errado”, concluiu. Talvez Trump seja ofensivo pela ótica de alguns, não é mesmo?
Já no segundo caso um rapaz que graduava na High School se recusou a ler o discurso preparado pelos administradores, e teve seu diploma retido por conta disso. Marvin Wright, presidente de classe da escola secundária, passou duas semanas trabalhando em seu discurso de graduação, ficando até às 5 da manhã do dia do evento para terminá-lo.
Mas mais tarde naquele dia, o diretor do Southwest Edgecombe High disse que estaria dando um discurso diferente, um parágrafo de cinco sentenças preparado pelos administradores da escola. Ele não deu nenhuma explicação. “Eu me senti roubado de uma chance de dizer minhas próprias palavras”, Marvin, de 18 anos, disse ao The Washington Post. Sua mãe, colegas de classe e professores pediram que ele pronunciasse seu discurso de qualquer maneira. Quando ele subiu ao púlpito, abriu a pasta com os dizerem preparados pela própria escola, cujo conteúdo era esse:
Gostaria de agradecer a todos os nossos amigos e familiares por estar aqui esta noite. Gostaria também de me dirigir aos meus colegas diplomados uma última vez antes de sairmos deste ginásio. Embora todos nós talvez nunca estejamos no mesmo quarto ao mesmo tempo, nós sempre compartilharemos as memórias que criamos dentro dessas paredes. E não importa o que todos façamos depois da formatura, nunca esqueça que este é um lugar que todos nós temos em comum, este lugar é uma casa. Parabéns diplomados, nós conseguimos!
Mas, em vez de ler esse discurso, o garoto puxou seu telefone celular e leu uma cópia do discurso original, com seus amigos e parentes na audiência acenando em aprovação. O reitor, Craig Harris, imediatamente se virou para outro membro da equipe da escola e sussurrou algo em desaprovação, como imagens de vídeo mostram.
Após os aplausos, os alunos se enfileiraram para pegar seus diplomas, mas um deles estava faltando: o de Marvin. Avisaram a ele que o reitor havia removido seu diploma porque ele leu o discurso errado. “Todos os meus amigos tirando fotos do lado de fora com seus grandes diplomas amarelos, e eu lá dentro, tentando obter o meu”, desabafou o jovem. “Me senti machucado, constrangido, basicamente humilhado”, concluiu.
Seu discurso original, aprovado pela professora de inglês, não tinha nada demais. Em aproximadamente cinco minutos, ele agradecia a Deus, aos familiares dos alunos, ao time da escola e a sua mãe, que observava em lágrimas. Ele continuou:
Não sou especialista nessa jornada que chamamos de vida, mas todos nós temos a capacidade de fazer a diferença e de ser essa mudança que o mundo precisa. Os últimos 13 anos nos equiparam num tempo como esse a nos mantermos firmes em quem somos. Então, eu digo aos meus colegas de classe, apreciem esses últimos minutos que passamos aqui e as memórias que criamos e se preparem para a jornada pela frente.
O rapaz finalmente teve o diploma entregue em sua casa, e recebeu um telefonema com pedido de desculpas da escola. Ele quase foi prejudicado, pois precisava do diploma para se alistar na Marinha, como fez imediatamente após recebê-lo.
O que ambos os casos mostram é como a administração das escolas tem sido mais autoritária. O mesmo tem ocorrido nas universidades. É o que demonstra Lukianoff no livro. O ambiente politicamente correto tem fornecido aos administradores um pretexto para impedir inclusive críticas à própria administração. Diz o autor:
Nos campus universitários de hoje, os estudantes são punidos por tudo, desde sátira leve, até escrever histórias curtas politicamente incorretas, ter a opinião “errada” sobre praticamente todas as questões do momento e, cada vez mais, simplesmente criticar a administração da faculdade.
[…] Os administradores conseguiram convencer os estudantes bem-intencionados a aceitar a censura definitiva criando a impressão de que a liberdade de expressão é de alguma forma o inimigo do progresso social.
[…] Então, o que acontece quando os alunos recebem a mensagem de que dizer o que é errado pode causar problemas? Eles fazem o que seria de esperar: eles falam com pessoas com quem eles já concordam, mantêm a boca fechada sobre temas importantes em companhia mista e, muitas vezes, não se incomodam em discutir com a pessoa mais raivosa ou mais ruidosa da sala.
[…] Deveria ser o contrário, não? Uma boa educação deve ensinar aos cidadãos a procurar ativamente as opiniões de pessoas inteligentes com quem eles discordam, a fim de evitar o problema do “viés de confirmação”.
[…] O isolamento de diversos pontos de vista pode levar a um processo desenfreado de polarização grupal, extremismo e pensamento coletivo. Esse processo ainda rouba as pessoas do crescimento intelectual que vem de submeter suas próprias ideias a desafios.
[…] A mente se revolta no pensamento de que pode estar errada, e superar essa resistência defensiva natural exige uma prática constante e rigorosa em desafiar nossas opiniões deixando as nossas zonas de conforto. A educação superior é supostamente para servir esta função, mas códigos de discurso onipresentes e punição de pontos de vista controversos fazem o contrário.
Ou seja, temos um quadro bem preocupante, em que atitudes agressivas contra grupos adversários são toleradas, em nome do politicamente correto, enquanto opiniões divergentes são desestimuladas ou desencorajadas, quando não punidas. O ambiente acadêmico fica, assim, cada vez mais asfixiante, autoritário, e empobrecido naquilo que deveria ser sua função precípua: o debate de ideias.
Rodrigo Constantino
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