O State of The Union (SOTU) virou uma ocasião de pompa e circunstância em que o presidente é tratado quase como um rei e recebido pelos parlamentares numa demonstração de grande poder do Executivo sobre o Legislativo. Dos tempos do primeiro presidente americano, George Washington, que poderia ter sido rei se quisesse, caminhamos demais para uma hipertrofia do poder presidencial, e alguns reclamam do evento por conta disso, como Ben Shapiro.
Mas como já virou uma tradição, mesmo liberais que torcem o nariz para a excessiva concentração de poder no Executivo (e olha que estamos falando da América federalista, que não dá nem para comparar com nosso querido Brasil) reconhecem a importância simbólica desse discurso feito pelo presidente perante todos os congressistas. E Trump fez na noite desta terça possivelmente o melhor discurso já feito na ocasião.
É preciso tirar o chapéu para sua presença de palco, seu carisma, seu timing das pausas e dose certa de emoção (sensacionalismo). Trump fez também um discurso moderado e de união, focando naquilo que pode aproximar os dois partidos. Não é, convenhamos, a pessoa mais adequada para falar em união, pois ele mesmo representa uma reação às divisões identitárias promovidas pelos democratas e pelo ex-presidente Obama. Mas nesta terça sua fala encontrou eco no independente, no moderado, naquele que quer resolver problemas em vez de alimentar uma eterna disputa partidária.
Claro, devido ao grau de radicalismo dos democratas, esse discurso repleto de bom senso não foi suficiente para quebrar resistências, e o ódio a Trump já é patológico. Mas em vários momentos os democratas, vestidos de branco, aplaudiram de pé, e até a ultraesquerdista CNN reconheceu o bom discurso em linhas gerais. É verdade que os momentos de aplausos democratas expõem bem os “valores” atuais do partido. Levantaram e ovacionaram o presidente quando ele falou da maior presença feminina no Congresso, mas fizeram cara feia quando ele condenou a morte indiscriminada de bebezinhos no ventre.
Sobre a segurança nas fronteiras, momento mais esperado do discurso e razão do shutdown mais longo da história do país, Trump foi capaz de expor o radicalismo democrata uma vez mais. Falou o óbvio, o básico, sobre como defende uma imigração até maior para a América, desde que legal. E reforçou a importância de se controlar melhor as fronteiras para impedir a entrada ilegal na América. Uma bandeira que deveria ser bipartidária, consensual, evidente. Mas por algum estranho motivo os democratas adoram a imigração… ilegal. Trump soube explorar bem isso.
Mostrou seus bons resultados no trabalho de dois anos, indicadores econômicos fortes, especialmente para as minorias, e adotou tom nacionalista e até mercantilista em alguns momentos, o que liberal algum vai aplaudir, mas que tem seu apelo eleitoral. O homem é fera na arte da comunicação, é preciso admitir. E teve seu ápice quando disse, sem meias palavras, que a América jamais será socialista, fazendo Bernie Sanders e Alexandria Ocasio-Cortez visivelmente desconfortáveis. Os americanos amam a liberdade, e os socialistas nunca vão vencer.
Pauta deixada totalmente de fora foi o clima, para desespero dos ecoterroristas. Ocasio-Cortez e Sanders acham que o aquecimento global representa a maior ameaça ao planeta, mesmo num mundo com radicalismo islâmico, China, Rússia, Coreia do Norte, dívida pública impagável etc. Trump sabe que essa agenda só interessa aos “progressistas” da elite, e fez bem de ignorá-la por completo. A histeria ambientalista não faz parte das preocupações do cotidiano do cidadão comum.
Em suma, Trump focou nas pautas convergentes, adotou tom moderado, mas não deixou de transmitir seu recado e de alfinetar os democratas radicais, cada vez em maior número no partido. Foi um discurso brilhante, um show de política e comunicação, uma fala que deu um nó na narrativa oficial da imprensa, que só sabe pintar Trump como se fosse uma espécie de fascista maluco e extremista. Construir um muro para dificultar a entrada de imigrantes ilegais passou a ser uma proposta insana e imoral para jornalistas e democratas. E isso mostra apenas como a mídia e a esquerda se tornaram insanas e imorais…
Rodrigo Constantino
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