Em entrevista para a Folha neste domingo, João Amoedo, do Partido Novo, disse que o governo Bolsonaro tem se perdido em polêmicas desnecessárias. Sobre a queda da popularidade do governo em pesquisas, ele disse: “Sempre se cria uma expectativa muito maior do que a capacidade de entrega. Então é natural que haja uma queda da popularidade. E esse governo em especial acabou se envolvendo em muitas polêmicas desnecessárias. Com isso, na atividade econômica, houve uma certa frustração em relação à velocidade das mudanças e da nossa retomada de crescimento.”
Para Amoedo, falta ao governo definir melhor as prioridades, ter equipe mais coesa e atrair parlamentares para um projeto comum: “A primeira coisa que eu faria seria selecionar as pautas prioritárias. E eu colocaria a reforma da Previdência como a número um, estaria falando disso a todo momento, mostrando para as pessoas que o sistema, além de insustentável, é injusto. O segundo ponto seria ter uma equipe muito alinhada, sem desavenças, em que a gente não ficasse falando de coisas que não interessem, não ficasse ouvindo opiniões de pessoas que não estão participando do governo e estão dando palpites a todo momento. Em terceiro, diálogo com o Congresso”.
Mas a articulação com o Congresso virou sinônimo de corrupção para muitos bolsonaristas, e eles saíram fortalecidos com as manifestações deste domingo. Nas redes sociais, o grau de ódio e revanche contra os liberais foi impressionante: a julgar pelo Twitter, esses bolsonaristas odeiam mais o MBL e o Novo do que o próprio PT – o que talvez seja justificável, já que Bolsonaro depende do PT para sobreviver politicamente.
Nada disso invalida as críticas de Amoedo, porém, ou os alertas feitos pelo MBL. Se o relativo sucesso dos atos pró-governo subir à cabeça de Bolsonaro e sua ala mais radical, e o clima com as demais alas do governo e com o Congresso azedar ainda mais, isso será péssimo não só para o futuro do governo, mas do Brasil como um todo. Tomara que as críticas construtivas não sejam ignoradas, abafadas pelos gritos das ruas.
De acordo com entrevista do presidente, há esperanças. Jair Bolsonaro disse neste domingo que tem culpa pela falta de comunicação com as Casas Legislativas. O presidente concedeu entrevista à TV Record após atos pró-governo terem sido realizados pelo país. O chefe do Executivo disse que manifestações vieram “do coração do povo para cobrar o Legislativo”.
“Foi uma manifestação espontânea. É um povo ordeiro que veio cobrar, pedir aos poderes Executivo, Legislativo trabalhem. Coloquem em pauta matérias que interessam para o futuro do nosso Brasil”, falou.
Ao ser questionado sobre sua relação com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), Bolsonaro respondeu: “Vai indo bem. É uma pessoa que é diferente de mim. Ele não tem esse poder dentro da Câmara. Está fazendo a sua parte”.
Voltou a falar também em “harmonia” entre os Três Poderes. Disse que voltará a procurar Maia, Davi Alcolumbre e Dias Toffoli. Todos eles foram alvo dos manifestantes que foram às ruas neste domingo.
“Vou voltar a conversar com o Rodrigo Maia nesta semana novamente, com o Davi Alcolumbre, o Dias Toffoli, para gente ter 1 pacto entre nós para colocar o Brasil no destino que toda a população quer. Temos tudo para sermos uma grande nação. Falta nós aqui em Brasília conversarmos 1 pouco mais e discutir o que temos que votar em especial.”, afirmou.
O chefe do Executivo assumiu, ainda, culpa na articulação com o Legislativo. “Devemos conversar um pouco mais. A culpa é minha também”. Além disso, Bolsonaro reconheceu, em sua entrevista à Record, que “os parlamentares do dito Centrão nunca me procuraram para discutir partilha de ministérios, de estatais ou bancos oficiais”. Ué? Pelo visto a narrativa dos bolsonaristas e a fala do presidente não batem.
As reformas continuam dependendo da articulação com o Congresso, que não precisa ser sinônimo de corrupção, como alega o deputado Paulo Eduardo Martins, um dos que mais têm lutado pela reforma previdenciária, em resposta a um comentário feito pela página Bolsonaro Raiz:
Enfim, Bolsonaro precisa priorizar mais a reforma previdenciária, deixar de lado picuinhas e polêmicas desnecessárias, inspirar uma coesão maior em sua própria base e governo, e liderar o país trazendo o Congresso para a mesma pauta de interesse nacional, em vez de alimentar cizânia e flertar com uma ruptura institucional, como desejam vários de seus seguidores mais fanáticos.
Rodrigo Constantino
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