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É lindo um amor em cabana, não é mesmo? Ao menos nos filmes fica bonito. Mas e na realidade? O romantismo é uma válvula de escape do ser humano, e não é de hoje. Mas o que é moderno é confundir deliberadamente nossas fantasias com a realidade, tudo em nome do “marketing do comportamento”. Para uma geração mimada e narcisista, isso é um prato cheio.

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O filósofo Luiz Felipe Pondé tem sido um dos maiores críticos dessa postura infantil e acovardada. É o melhor herdeiro intelectual de Nelson Rodrigues, que hoje até a esquerda aprendeu a “amar”, de longe e de forma bem seletiva (ah, se lessem mesmo o grande dramaturgo!).

Em sua coluna de hoje na Folha, Pondé retorna ao tema do “dinheiro compra até amor verdadeiro”, aprofundando um pouco mais esse insight de Nelson Rodrigues. Para os corajosos, a constatação é uma obviedade: sem grana tudo fica mais difícil, até o amor. Já os românticos vão preferir fechar os olhos, para não machucar muito. Segue um trecho:

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Grana cria horizontes no quais você se desenvolve e pode sonhar com melhores modelos de você mesmo. Grana dá a você a chance de ser generoso, ousado, seguro de si mesmo. No caso das meninas se dá a mesma coisa.

Acrescentaria que no caso das meninas existe também um delicado sentimento (às vezes enterrado no mais fundo do cotidiano) de que, se alguém te dá uma bijuteria no lugar de uma joia, você se sente uma bijuteria, e não uma joia. E, em alguma medida, com razão. Porque o preço de uma joia representa o valor investido na mulher para quem você dá essa joia.

Homens, que na maioria das vezes ganham mais e são mais escravos da obrigação do sucesso material, se sentem investidos de amor pela mulher quando ela demonstra serem eles a sua prioridade. Quando ela reconhece potência em tudo o que eles fazem –o que não significa só ganhar dinheiro.

Falta de grana mata o amor porque ele perece diante da falta de horizontes. Do sentimento de que a vida está acabada naquela fórmula pobre de ser. Num cotidiano em que a rotina é sempre a da falta de liberdade de escolha. A dificuldade de enxergar isso torna ainda mais o afeto dependente da grana. A mentira sobre isso torna o amor ainda mais barato porque mais indefeso diante das contingências do dia a dia.

O dinheiro atuaria como um “potencializador da vida”. Pondé provoca o leitor: “Onde bons sentimentos nascem? Num final de semana prolongado em Roma ou no trânsito de oito horas para Praia Grande?” Sabemos a resposta. Dinheiro não é tudo, claro! Mas é importante, e quem nega isso normalmente tem muita grana.

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Pondé dá alguns exemplos de como a grana entra na equação de afeto, como no caso de um marido com sua ex-mulher e o ciúmes da atual por conta dos gastos materiais elevados com a outra, ou de filhos de mães diferentes que comparam as preferências financeiras do pai: um quarto novo para o “irmãozinho” em vez de uma viagem para o filho mais velho com a ex-mulher.

Dissecar os relacionamentos sem o manto do romantismo é um exercício árido, mas acredito que válido, pois a alternativa é esse mundo de mentiras que o “marketing do bem” fomentou, num mercado do pensamento público dominado por essa turma “poser” que finge acreditar nas próprias ilusões.

Rodrigo Constantino