No dia 31 de julho de 1912 nascia Milton Friedman, um dos grandes pensadores do liberalismo moderno. Não poderia deixar passar a data em branco. Com um dia de atraso, portanto, segue minha singela homenagem a este gigante, com um texto escrito à época de seu falecimento, em 2006:
O adeus a Milton Friedman
“Não existe almoço grátis.” (Milton Friedman)
Em 1976, ano em que nasci, o economista Milton Friedman – de família pobre vinda da Ucrânia – ganhava seu prêmio Nobel pelas grandes contribuições ao debate econômico. Friedman foi um dos maiores economistas do século XX, e travou uma incansável batalha pela maior liberdade individual. A clareza de suas idéias, assim como a solidez de seus argumentos, raramente encontraram substitutos à altura. Ao lado dos austríacos como Hayek e Mises, e da escritora Ayn Rand, Milton Friedman foi uma das minhas maiores influências. Com a notícia de seu falecimento, o mundo perde um grande economista e defensor da liberdade.
Seus dois livros mais conhecidos são Capitalism and Freedom e Free to Chose, o qual escreveu com sua esposa Rose Friedman. Neles, Friedman expõe com objetividade seus pensamentos, sempre defendendo os mercados privados em vez de o planejamento central e o controle estatal. Estava convencido de que a liberdade econômica era uma condição necessária para as liberdades civis.
Lutou, portanto, contra a visão paternalista do Estado, lembrando que o governo não é o patrão, mas sim o empregado dos cidadãos. Para os indivíduos livres, o país é um somatório de indivíduos, não algo acima deles. A maior ameaça a liberdade seria a concentração de poder. O escopo do governo deve ser limitado, e suas funções básicas devem ser preservar a lei e a ordem, garantir contratos privados e estimular os mercados competitivos. O poder do governo deve ser disperso, sempre evitando sua centralização.
Partindo dessas premissas, Milton Friedman propôs várias idéias concretas, como o fim de subsídios agrícolas, das tarifas de importação, do controle de preços, do salário mínimo, das regulamentações detalhadas das indústrias, do serviço militar compulsório, etc. Ele explicou que no livre mercado as trocas são voluntárias, e portanto ambas as partes se beneficiam delas, sendo a cooperação a regra básica. Em contrapartida, a intervenção estatal levaria a uma disputa entre as partes, transformando toda negociação de troca numa briga política, fomentando o conflito. A corroboração empírica dessa teoria lógica é visível diariamente em nosso país.
Sobre um tema que muita ignorância permite afirmações firmes porém errôneas, Milton Friedman deu uma grande contribuição também. Trata-se da crise de 1929, onde muitos leigos culpam, sem embasamento, o livre mercado. Não vem ao caso entrar nos detalhes da argumentação, mas Friedman deixa claro a sua conclusão: “A depressão não foi produzida por uma falha da empresa privada, mas sim pela falha do governo numa área onde ele tinha sido designado como responsável”. Para melhor compreensão da culpa dos atos governamentais nesse grande crash, sugiro a leitura do excelente livro de Murray Rothbard, America’s Great Depression.
As contribuições de Milton Friedman não ficaram limitadas ao mundo acadêmico. O mais famoso expoente da Escola de Chicago foi também conselheiro dos presidentes Nixon, Ford e Reagan – este considerado por ele o melhor que os Estados Unidos já tiveram. Fora isso, foi conselheiro de Pinochet no Chile, cujas medidas econômicas – não obstante os claros abusos políticos – salvaram o país do caos herdado da era Allende. Milton Friedman, portanto, exerceu forte influência positiva nos rumos de milhões de vidas.
Infelizmente, muitos preferem respeitar pessoas com maior retórica e apelos emocionais que a razão e o bom senso dos mais humildes, que não fazem tanta questão do crédito de suas ações. Assim, a morte de um grande homem merecerá poucos comentários por parte da mídia, e sequer será notado pela grande platéia. No entanto, quando um ditador assassino como Fidel Castro morrer – e como vaso ruim demora a quebrar! – haverá uma comoção nacional, com direito a profundas lamentações do presidente [Lula] e de vários “intelectuais”.
Mas não tem problema. Os íntegros não só reconhecem o esforço hercúleo de Milton Friedman na luta contra a tirania de gente como Fidel Castro, como serão eternamente gratos por suas ideias. Estas não morreram com seu dono. Pelo contrário: saem mais vivas que nunca, num mundo tão necessitado de mais liberdade!
Rodrigo Constantino