A conservadora Ann Coulter cancelou sua palestra na Berkeley, após não ter suporte da universidade para a segurança do evento, disse a agência de notícias Reuters. “É um dia triste para a liberdade de expressão”, teria desabafado Coulter, segundo o NYT. Ela insistira para que o evento continuasse na data marcada, enquanto a universidade tentava jogá-lo para uma data de maio em que não haverá aulas.
O grupo de estudantes conservadores Young America’s Foundation alegou não ter mais condições de levar Coulter para o evento, uma vez que a universidade se recusou a fornecer o aparato necessário para a segurança dos envolvidos – além até mesmo de um local adequado para a palestra. O YAF disse que Coulter ainda pode falar em algum local do campus, mas que não vão colocar a integridade física dos alunos em risco.
Mesmo ícones da esquerda, como os senadores Bernie Sanders e Elizabeth Warren, condenaram a postura dos manifestantes de esquerda que ameaçaram a palestrante e têm usado de violência para intimidar conservadores. O YAF deve entrar na Justiça contra a Berkeley, mas alguns alunos criticaram o recuo da entidade, alegando que estavam cedendo à pressão de terroristas, o que iria apenas fomentar novos ataques futuros.
Ron Robinson, presidente do YAF, diz que é fácil criticar e rotular os membros da entidade de fracos ou covardes, quando não se conhece todos os fatos. Os alunos são corajosos, diz ele, mas não idiotas. Sem apoio da universidade, os alunos jamais teriam como organizar um evento desse porte e garantir a segurança das pessoas envolvidas. Ele afirma que as próprias autoridades da universidade fomentam o ódio e a intolerância contra movimentos conservadores.
Os conservadores do YAF não querem um confronto físico com os “manifestantes” de esquerda, mas um debate de ideias, e isso seria impossível sem as garantias da universidade. De fato, faz sentido, ainda mais depois do que já se viu em “manifestações” contra outros palestrantes conservadores. São atitudes de fascistas criminosos, dispostos a apelar para a agressão a fim de calar o contraditório.
Recomendo a todos os interessados no tema liberdade de expressão o livro Unlearning Liberty: Campus Censorship and the End of American Debate, do democrata Greg Lukianoff. Ele, que jamais votou ou votaria no Partido Republicano, reconhece a gravidade do problema e o viés “progressista” nas perseguições atuais, especialmente aos conservadores cristãos. Diz o autor, que trabalha há mais de uma década numa entidade chamada F.I.R.E., que luta justamente pela liberdade de expressão nas universidades americanas:
Se você me dissesse há doze anos que eu, um ateu “liberal”, dedicaria uma parcela considerável de minha carreira à defesa de grupos cristãos, eu poderia ter ficado surpreso. Mas quase desde o meu primeiro dia na F.I.R.E., fiquei chocado ao perceber quão mal os grupos cristãos são muitas vezes tratados. Se eu pessoalmente acredito em Deus ou não, eu certamente acredito no direito de seguir a fé que você escolher.
Lukianoff mostra diversos casos que corroboram sua afirmação, incluindo um em que o filme “A paixão de Cristo” foi vetado no campus, mesmo quando uma encenação chamada “Fucking for Christ” havia sido liberada, mostrando masturbação diante de uma imagem de Jesus. O duplo padrão é evidente, principalmente quando o argumento de “liberdade religiosa” é usado somente para proteger muçulmanos, nunca cristãos, na própria América cristã.
“Os grupos de devotos cristãos são frequentemente alvo de tratamento desfavorável e desigual no campus”, afirma o esquerdista. “As universidades precisam entender que estão promovendo a intolerância, não a tolerância, tentando deslegitimar os grupos cristãos pelo que acreditam”, acrescentou. A intolerância, hoje, vem justamente daquela esquerda que tanto fala em tolerância, mas não suporta nem mesmo uma simples palestra de uma conservadora cristã na universidade.
A liberdade de expressão só faz sentido quando temos que tolerar aqueles de quem discordamos, inclusive veementemente. Permitir a fala só de quem já gostamos não é liberdade de expressão, mas narcisismo tribal. Até Kim Jong-un, o tirano da Coreia do Norte, pode “tolerar” palestras de quem defende o comunismo e seu regime opressor. O teste é quando temos que respeitar quem pensa diametralmente oposto a nós.
No ambiente universitário de hoje, sob o domínio do politicamente correto e a “marcha das minorias oprimidas”, tudo vira “microagressão” e “ofensa”, e os grupelhos organizados se sentem no direito de intimidar e calar os demais, mesmo quando falam em nome da maioria. Isso, no meu dicionário, chama-se fascismo.
Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal
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