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Alguns leitores cobram uma homenagem ao empresário Antônio Ermírio de Moraes, que faleceu recentemente aos 86 anos. Não tinha escrito nada ainda pois conheço pouco de sua vida pessoal e sua trajetória, e seria chover no molhado. Não li a biografia que Pastore escreveu do empresário, o que pretendo fazer agora. A impressão que tinha dele, entretanto, era muito boa.

A imagem de alguém comprometido com a ética e com o país, disposto a investir aqui para criar riqueza e empregos, a despeito de todas as barreiras criadas pelo governo. Não gosto do termo nacionalista, que tem sido usado para descrevê-lo, pois me remete a ufanismo, a uma mentalidade quase xenófoba. Prefiro patriótico, alguém que ama a Pátria, mas reconhece seus defeitos e luta para combatê-los. Ermírio de Moraes parecia um desses.

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Muitos falam de como era incansável no trabalho, outra virtude em falta no Brasil, país em que muitos querem um “emprego”, mas não necessariamente trabalhar de verdade. O fato de ser um bilionário apenas reforça aquilo que muitos liberais fãs de Ayn Rand já sabem, mas que os socialistas ignoram: não é a conta bancária que importa apenas. Muitos empreendedores são apaixonados pelo que fazem, gostam do desafio, do propósito produtivo, independentemente de quanto já acumularam de fortuna.

Claro que ninguém vai trabalhar de graça, sem os incentivos, sem a recompensa pelo sucesso. E o sintoma do sucesso é o lucro. Ele muitas vezes não é a causa, como pensam os materialistas de esquerda, mas o resultado, o subproduto que atesta os acertos nas decisões dos negócios, e que por isso  permite um regozijo especial do empresário.

Outra falácia que casos como o de Ermírio de Moraes derrubam é a noção absurda de que os ricos não trabalham, apenas exploram os trabalhadores. Uma pesquisa recente da revista Forbes mostrou que os bilionários trabalham, em média, 60 horas ou mais por semana. Raros são os casos de puro rentismo, aquela velha imagem de um ricaço só curtindo a vida. Mais comum é um nababo desses vir da política esquerdista, após vender muito socialismo igualitário para os idiotas úteis.

Além disso, muitos dizem que Ermírio de Moraes era um filantropo de mão cheia, ainda que discreto. Como deve ser! Ou seja, não era pelas aparências que praticava caridade, e sim porque julgava decente e fazia bem a ele mesmo ajudar os demais. Não endosso a tese de que a filantropia é uma retribuição à sociedade por parte dos ricos, pois a retribuição já veio em forma de riqueza e empregos produzidos. Mas claro que é um ato louvável, se feito com boa intenção genuína e, de preferência, no anonimato.

Antônio Ermírio de Moraes era um ícone da indústria nacional, e merece nosso respeito por sua trajetória. Tinha certo preconceito com os “financistas”, o que me parece injusto: a culpa pelas altas taxas de juros do Brasil não é da ganância dos banqueiros, a mesma em todo lugar do mundo, e sim dos obstáculos criados pelo governo. Condenar o sintoma em vez de olhar para as verdadeiras causas do problema é um erro.

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Por fim, e por falar em bancos, uma mancha no currículo que não posso omitir: a fusão do Banco Votorantim (sim, o próprio industrial era também um banqueiro) com o Banco do Brasil, após grandes perdas em operações equivocadas do banco privado do grupo. Essa parceria entre grandes empresas e estado é o câncer de nossa economia, um sistema de capitalismo de estado que precisa ser abandonado, mesmo que ao custo (necessário) de mais bancarrotas. Estado que salva empresas faz mal para o próprio capitalismo. Não é sua função ser hospital de empresas, e sequer deveria ser banqueiro.

Feito o balanço todo, de forma superficial, fica minha singela homenagem ao grande empresário. O Brasil precisa de mais empresários que apostem no país com visão de longo prazo, focando na ética e valorizando o trabalho. Claro que o empresário é, por definição, pragmático, e não ideológico. Acho apenas que o prazo desse pragmatismo poderia ser maior, com um horizonte mais distante, pois não há empresa que aprecie viver sob um regime bolivariano como o da Venezuela, por exemplo.

As vantagens de curto prazo não compensam a situação de refém do governo, tampouco o caos social em que o país mergulha num caso desses. Vivemos no Brasil, pretendemos criar nossos filhos e netos aqui, e o entorno é fundamental. Não podemos desistir do Brasil ou vê-lo apenas como uma oportunidade para se ganhar dinheiro e depois se mudar. Tal mentalidade por parte das elites empresariais jamais permitirá a construção de uma nação próspera e admirada!

Rodrigo Constantino