Primeiro fato: o PSDB é um partido social-democrata, portanto, de centro-esquerda. Segundo fato: o PSDB, por inúmeros motivos, sempre deu muita trela para o PT, sempre foi condescendente demais com os petistas, achando que, só por serem ambos de esquerda, haveria a possibilidade de um debate civilizado em prol do país. Essa ingenuidade está, aos poucos e finalmente, dissipando-se. Os tucanos estão, depois de muito tempo, acordando para o que é o PT. Querem um exemplo?
O economista Samuel Pessôa, que sempre escreveu textos técnicos e com profundo respeito aos adversários ideológicos, jogou a toalha e reconheceu que não é possível dialogar com petistas. Ele chegava a rebater com argumentos as baboseiras de Andre Singer na Folha, o que, para mim, sempre foi um espanto. Será que não percebia que o lado de lá está blindado contra argumentos, que dispensa a razão, que é cínico, desonesto e fanático? Agora abriu os olhos:
Filiado ao PSDB, o economista Samuel Pessoa costumava fazer elogios públicos a programas dos governos do PT. Era uma voz a favor da distensão política e tentava abrir espaços de interlocução com economistas heterodoxos, com linha de pensamento diferente da dele. Samuel mudou. Um dos autores do estudo que diz que o problema da solvência das contas públicas do país só será resolvido com reformas estruturais, ele se tornou um cético quanto à possibilidade de um pacto nacional para enfrentar essa agenda. “Sou o efeito de uma campanha eleitoral sórdida e suja”, diz ele.
O problema de ser “moderado” demais é que você acaba dando corda para os radicais, que passam a ser vistos e aceitos como interlocutores razoáveis. Sempre foi meu problema com muitos tucanos e jornalistas simpáticos ao PSDB. Eles acham que nós, liberais e conservadores, somos os verdadeiros radicais, e pensavam que era possível manter um debate amistoso e construtivo com a ala retrógrada da esquerda.
Hoje estão vendo que não é possível, e que o debate certo, numa democracia que se pretende avançada, deve ser travado entre eles, a esquerda social-democrata mais moderna, e nós, liberais e conservadores da direita democrática. O PT não tem espaço nessa equação, assim como certos grupos radicais de direita, que desprezam o processo democrático republicano, também não.
Já disse e repito: o ideal é a disputa política e o debate intelectual ocorrerem entre a social-democracia, o liberalismo e o conservadorismo. O problema é que, no Brasil, o PSDB social-democrata já é visto como parte da direita (absurdo), enquanto os xiitas e desonestos do PT são tratados como moderados. Passou da hora de a esquerda decente (sim, ela existe) acordar e parar de fazer tantas concessões aos revolucionários e golpistas do PT.
Rodrigo Constantino
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