O ministro Gilberto Carvalho, aquele dos “movimentos sociais”, rebateu críticas sobre o Decreto 8.243 alegando, talvez em ato falho, que tais conselhos sociais existiam “até na ditadura”. O ministro disse:
Quero lembrar de novo: os conselhos no Brasil existem desde 1937, quando foi criado o primeiro conselho de participação. As conferências, de 1941. Até durante a ditadura foram criados conselhos. E é próprio de qualquer democracia madura você ter uma prática de ouvir a sociedade. O que o decreto faz é simplesmente regulamentar, estimular a ampliação daquilo que já existe.
Já eu quero lembrar de outra coisa: soviet, termo russo, quer dizer justamente… conselho! “Todo poder aos soviets” era o mantra dos comunistas. Funciona mais ou menos assim: militantes ligados ao poder se infiltram nos “conselhos” e deles tomam conta, preservando as aparências de “opinião popular”.
O “orçamento participativo” do PT gaúcho, colocado em prática por Olívio Dutra, partia da mesma estratégia. No começo o “povo” participava, e um ou outro cidadão comum realmente conseguia expor sua opinião. Com o tempo, ficou claro para todos do que se tratava: um engodo, um embuste, um simulacro de democracia direta controlada pelos fantoches do governo.
O deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO) comparou a proposta de criação dos conselhos à adotada na Venezuela: “Estamos com um projeto de decreto legislativo para tentar sustar esse decreto absurdo do governo, que cria o sistema de coletivos da Venezuela para poder substituir o Legislativo brasileiro. Vamos para esse debate, e todas as matérias do Executivo vamos obstruir, até que possamos derrubar esse decreto, que é um atentado contra a democracia e o estado democrático de direito”.
Sim, a Venezuela é um bom exemplo do que o PT pretende copiar. Não custa lembrar que o ex-presidente Lula afirmou que lá existia “excesso de democracia” com Hugo Chávez. A “democracia direta” é um instrumento populista criado para driblar o Congresso, os representantos do povo, facilitando assim o abuso de poder por meio da demagogia. O PT não suporta contemporizar com o Congresso, tanto que tentou comprá-lo com o mensalão.
O editorial do GLOBO fez um alerta hoje nessa linha. É a própria democracia brasileira que está em xeque, e toda reação é pouco contra o projeto autoritário do PT, pois ficou claro, após o discurso de Gilberto Carvalho, que os golpistas não vão desistir facilmente. Diz o jornal:
Não é de hoje que frações do PT agem para contornar o Congresso. São ainda do primeiro governo Lula conselhos para empresários e sindicalistas decidirem a reforma sindical, bem como para empresários e governo se entenderem. As duas instâncias formulariam propostas para o Congresso aprovar. Terminaram dando em nada, mas denunciaram a visão de sociedade que está por trás do PNPS. Neste universo institucional, o Legislativo seria um carimbador de decisões tomadas em fóruns sob o controle do partido e de “movimentos sociais” aliados. Extingue-se, então, a democracia representativa.
O sonho do PT, e o pesadelo dos brasileiros. Muitos incautos gostam de repetir com ar de superioridade que a Guerra Fria acabou, dando a entender que os anticomunistas são seres presos no tempo, reféns do passado, paranoicos que enxergam comunistas por todo lugar. O único detalhe é que muita gente, inclusive no poder, não abandonou o fracassado sonho comunista.
São os socialistas tupiniquins, com nova roupagem, com o discurso bolivariano, que na prática quer dizer a mesma coisa: todo poder aos soviets! A defesa da tirania está no sangue dessa turma, que tem verdadeira ojeriza ao regime democrático, visto como coisa de pequeno-burguês. Aos leitores, fica um conselho: muito cuidado com esse papo de criação de “conselhos sociais”.
Rodrigo Constantino
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS