Por Lucas Berlanza, publicado pelo Instituto Liberal
É natural que, em sendo Hamilton Mourão o vice-presidente do país, a promoção de seu filho no Banco do Brasil, no mínimo realizada em um momento inoportuno, seja o foco das atenções. Peço licença, no entanto, para chamar a atenção a eventos mais domésticos, relativos ao governo do estado do Rio.
Preocupou aos fluminenses liberais e conservadores, particularmente aos eleitores do atual governador Wilson Witzel (PSC), uma série de notícias veiculadas neste começo de semana dando conta de que o líder do governo na Assembleia Legislativa, indicado por Witzel, Márcio Pacheco (PSC), decidiu apoiar o petista – ressalte-se: petista – André Ceciliano, atual presidente da Alerj, para ser reeleito para o cargo por seus pares. A justificativa de Pacheco: o pragmatismo. Ele acredita que não teria votos suficientes para vencer uma disputa com Ceciliano e é melhor apoiá-lo – segundo O Globo, em troca da presidência da Comissão de Constituição e Justiça e da facilitação da governabilidade.
Flávio Bolsonaro, do PSL, estaria pressionando Witzel a demover Pacheco da ideia, ainda segundo o jornal, mas hoje o fato concreto é que o líder do governo na Alerj apoia o candidato do PT à presidência da Câmara. O próprio Witzel oficialmente não declara apoios, mas elogiou Ceciliano, segundo o Extra, como alguém que “tem sido parceiro” e “continuará sendo parceiro do governo”. É claro que, se Ceciliano permanecer no cargo, é inevitável que o governo procure dialogar com ele, mas entre isso e apoiar sua candidatura vai uma grande diferença – e, ao se calar perante o fato de que o líder de seu governo o está fazendo, Witzel está ou estará atestando sua conivência.
Abro parênteses. Quando os candidatos ao governo do Rio foram anunciados, o Partido Novo ofereceu uma alternativa aos eleitores fluminenses pela primeira vez ao governo estadual, o que parecia alvissareiro. No entanto, critiquei duramente o candidato Marcelo Trindade, em especial por dois motivos.
O primeiro foi a indicação de Eduarda La Rocque à coordenação de seu programa de governo. A economista não apenas havia sido conselheira econômica de Marcelo Freixo (PSOL), o pior candidato possível a qualquer cargo, como defendeu o ex-presidente – vulgo presidiário – Lula como alguém “injustiçado” pela Lava Jato e por Sérgio Moro. La Rocque representaria, portanto, posições vivamente repudiadas por todo brasileiro ansioso por uma inflexão de princípios e valores na política nacional e seria absolutamente incompatível com os fundamentos mínimos assumidos em público pelo próprio Partido Novo.
Recorrendo a argumentos tecnocráticos, Trindade e sua vice Carmen Miguelles chegaram a alegar que ela era uma profissional competente e respeitada e por isso seu nome era mais que bem-vindo, mas, ainda que a contragosto deles, a pressão pela saída de La Rocque se impôs. Por quê? Porque eficiência, técnica, pragmatismo para alcançar objetivos, tudo isso tem limites. Há diretrizes e valores básicos que não são negociáveis, tampouco politicamente admissíveis.
O segundo motivo foi o apoio financeiro confessado de Trindade à candidatura petista de Alessandro Molon em 2014: uma importância respeitável de 15 mil reais. Trindade justificou que ajudou Molon por ter sido seu professor, guardar grande afeto pessoal por ele e acreditar em sua sinceridade, a despeito de não compartilhar suas posições políticas. A amizade, o fato de ter sido seu professor, justificariam, em sua perspectiva, apoiar um candidato pelo partido que estava destruindo o país, militando ao lado da escória que nos estava assaltando as esperanças, o imaginário, o futuro. Não, mil vezes não.
Repugnei as duas atitudes do candidato do Partido Novo. Fecho agora os parênteses e volto ao tema do governo Witzel: por uma questão de coerência, não poderia em hipótese alguma admitir a conivência com uma candidatura petista. Não existe pragmatismo que permita respeitar uma tal decisão.
O pragmatismo se justifica para atingir objetivos considerados mais importantes ou mais valiosos, que tornem aceitável certa dose de sacrifício, não diria das convicções, mas dos pudores em negociar com esse ou aquele indivíduo, algo que a política impõe. Escorraçar o PT de qualquer posto que for possível está no topo da escala de objetivos; logo, apoiar a candidatura de um petista nunca é um preço aceitável a pagar.
Não existe benefício a colher ou propósito a atingir premiando o partido que nos afundou, que nos execrou, que destilou seu ódio pela divergência enquanto avançava contra nossas instituições democráticas e nossa saúde financeira. O governo Witzel não começará bem se seguir esse caminho – e o Rio de Janeiro precisa desesperadamente de um bom governo. Espero que tal infelicidade não seja a tônica da administração.
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS