João trabalhou a vida inteira na iniciativa privada. Todo mês via um pedaço do seu salário, fruto do seu esforço, ser destinado na marra para a sua aposentadoria futura. Ele não tinha liberdade para escolher quanto poupar, menos ainda onde investir sua poupança compulsória.
Quando João efetivamente se aposentou, descobriu ter direito a uma pequena fração do que teria se tivesse investido o mesmo montante esses anos todos em títulos de renda fixa ou em ações no mercado. O governo, sob o pretexto de proteger o trabalhador, não lhe deu esse direito.
Pedro deu duro a vida toda, desde os quinze anos. Nunca teve moleza, e como não possuia escolaridade, não encontrava empregos formais. Os potenciais patrões alegavam que não tinham como lhe pagar o mínimo exigido pelo governo, pois com todos os encargos trabalhistas ficava proibitivo.
A informalidade foi o ar rarefeito que Pedro precisou respirar por conta da asfixia estatal. Hoje, aos setenta anos, ainda não pode parar, pois não tem direito à aposentadoria alguma.
Marcos também começou a trabalhar muito cedo, mas teve mais mérito e sorte, e foi capaz de empreender em negócios de sucesso. Quase faliu diversas vezes, mas ganhou algum dinheiro. Não fosse o patrimônio que amealhou nesse período, morreria de fome com sua aposentadoria.
As histórias de João, Pedro e Marcos são distintas, mas tocam num ponto comum: nenhum pode contar com uma aposentadoria decente, atrelada ao que produziram. Um recebe menos do que deveria, o outro não recebe nada, pois foi expelido do mercado formal pelos excessivos encargos, e o último só pode contar com sua poupança paralela, conquistada apesar do governo.
Os três representam a classe trabalhadora e empreendedora do setor privado. Adorariam maior liberdade para poupar e investir de acordo com seu próprio juízo. Em contrapartida, conhecem diversos casos como o de Luís, deputado que se aposentou precocemente como “perseguido político”, ou Fernando, que foi governador de um estado pequeno por poucos anos e saiu de lá com aposentadoria integral.
O rombo com a aposentadoria dos quase trinta milhões de trabalhadores da iniciativa privada é similar ao rombo dos cerca de dois milhões de aposentados do setor público. E o governo vem falar de uma reforma que protege justamente os servidores públicos privilegiados!
Tudo o que João, Pedro e Marcos queriam era a liberdade para criar contas individuais de capitalização, fugindo desse esquema de pirâmide coletiva atual. Mas continuam forçados a labutar para pagar as aposentadorias de Luís, Fernando e outros marajás…
Originalmente publicado na revista IstoÉ
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