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A sensação que dá a leitura dos jornais brasileiros é a de que ingressei numa máquina do tempo. Apesar da devastação deixada pelo PT, do estrago causado pelas mirabolantes ideias esquerdistas, da destruição produzida pela heterodoxia nacional-desenvolvimentista, eis que os “debates” continuam girando em torno das mesmas baboseiras.

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Pegue o caso do Banco Central, por exemplo. No mundo todo desenvolvido, não há dúvidas de que tê-lo independente das pressões do governo, com uma meta de inflação estabelecida que deverá ser sua prioridade, representa o modelo mais eficiente para impedir abusos populistas, ou seja, inflacionistas.

Mas não no Brasil. Mesmo depois de o governo Dilma ter tornado o Bacen completamente subserviente ao Planalto, com os terríveis resultados apresentados, a triste realidade é que o “debate” ainda está entre a autonomia operacional ou não do banco. Independência legal sequer entra em pauta.

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No GLOBO de hoje há o editorial do jornal tomando o partido mais racional, e um petista, que deveria estar respondendo por dólares na cueca do assessor, pregando que a política monetária é decisão do governo e não de tecnocratas.

O jornal toca nos pontos certos, mas não tem a coragem de defender abertamente a única conclusão lógica de suas premissas: o Bacen deve ser totalmente independente por lei. Diz o editorial:

Entre inúmeros conceitos econômicos em torno dos quais especialistas e políticos se digladiam está a autonomia do Banco Central. A inevitável contaminação ideológica do debate produz bizarrices. Como a ideia de o BC ser capturado por interesses malévolos do capitalismo financeiro e, assim, preservar juros nas nuvens e espalhar miséria pelo país. O ícone desta fantasia foram os filmetes da campanha à reeleição de Dilma Rousseff produzidos por João Santana e Mônica Moura, em que banqueiros faziam a comida desaparecer da mesa do pobre. Foi um grande estelionato eleitoral. No fim, Dilma perdeu o mandato e o casal foi preso.

Dilma, na campanha, centrou fogo contra qualquer autonomia do BC, política defendida pelo seu adversário mais forte, o tucano Aécio Neves. Entre vários argumentos, há o de que o manejo dos juros é tão importante que apenas quem for eleito tem legitimidade para tratar do assunto. O problema é que voto não dá conhecimento técnico, nem bom senso.

A própria Dilma Rousseff era, ela mesma, um forte argumento contrário à interferência na ação do BC. Pois foi o que fez, ao induzir a autoridade monetária, presidida por Alexandre Tombini, a reduzir os juros na base da canetada. Assim ocorreu e, de 2011 para 2012, as taxas caíram de 12,5% para 7,25%. Tudo faturado politicamente.

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Como esperado, a inflação subiu de patamar — passou para a faixa dos 6%/6,5%, este o teto da meta de 4,5%. Depois, vitoriosa na campanha, Dilma não sobreviveu à mistura das criminosas fraudes contábeis, da recessão e da disparada do desemprego. Com um BC sem credibilidade — palavra-chave em política monetária —, a inflação atingiu a zona de extremo perigo dos dois dígitos.

Para o editorial, “não há o que discutir sobre o conceito de autonomia dos bancos centrais”. E é verdade. O que dá para discutir seriamente é se deve existir um banco central, algo que economistas “austríacos” questionam com razão.

Mas debater se um banco central deve ter ou não autonomia é algo completamente ultrapassado. E para garantir a autonomia, é óbvio que o banco central deve ser independente por lei, para não correr o risco de ser capturado pelo governo.

O petista convidado para expressar a “outra opinião” acha que não é nada disso. Ele “pensa” que tratamos a independência do Bacen como uma “panaceia”, e que é entrar numa “barca furada” essa postura, pois o banco seria capturado pelos “conglomerados financeiros”. Logo, eis a “brilhante” conclusão:

Quem tem de definir a política econômica do país, com forte impacto no dia a dia da população, é um governo eleito, e não técnicos financeiros. O governo não pode abrir mão de sua autoridade monetária. Mesmo porque ninguém garante que maior independência do BC signifique menores índices de inflação e menos privilégios para o setor financeiro.

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Ninguém garante? Só a comprovação empírica. Não serve? Só a sólida teoria econômica. Não serve? Então vamos testar uma vez mais um modelo como aquele colocado em prática por Dilma, para ver se dessa vez vai. Quem sabe assim o Brasil não chega ao patamar incrível de progresso da Venezuela?

O professor Denis Rosenfield, em coluna no mesmo jornal, compara o Brasil com o Titanic, para reforçar a ideia de que, sem as reformas propostas pelo atual governo de transição, o país afundará. Novamente, são questões pacíficas para economistas sérios, coisas evidentes como as vantagens de leis trabalhistas mais flexíveis, da terceirização, das estatais com gestão profissional (o certo seria privatizá-las) ou das mudanças previdenciárias. Rosenfield conclui:

Se a reforma da Previdência não vier a ser aprovada, o Brasil pode afundar como o Titanic. Vamos continuar dançando como se estivéssemos em um salão de festas? Vamos perseverar na verborragia demagógica e ideológica?

Eis a dúvida cruel: será que algum dia o Brasil vai se livrar da verborragia demagógica e ideológica? Ela não teve um passado glorioso em nosso país? E tudo não indica que ainda possui um futuro promissor? Ao julgar pelo nível de nossos “debates”, parece que sim.

Um economista sério fica com a impressão de que, se o assunto fosse física, estaríamos debatendo se a Terra é quadrada ou redonda, em vez de avaliar as nuanças do seu arredondamento. E, para piorar a coisa, não é apenas a esquerda que flerta com o atraso: o candidato da direita tem uma obsessão espantosa com o nióbio, e parece desejar que sua exploração seja por meio do estado. O Brasil definitivamente cansa…

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Rodrigo Constantino