Um dos temas mais recorrentes aqui no blog tem sido o abismo que se abriu entre a elite em sua bolha “progressista” e o povo de carne e osso. Somente quem entendeu bem esse fenômeno da era moderna será capaz de fazer boas análises políticas. A alternativa é se fechar numa câmara que ecoa sua própria voz e busca apenas alimentar o viés de confirmação, confundindo torcida com análise. É o que quase todos à esquerda tem feito.
Bruno Garschagen publicou um artigo na Gazeta hoje sobre isso, reconhecendo alguns deslizes pessoais e resgatando um dos livros mais importantes para se compreender o fenômeno: A rebelião das elites e a traição da democracia, de Christopher Lasch, que já resenhei aqui. Ele diz:
Em ambos os casos, Reino Unido e Estados Unidos, trata-se, sobretudo, de um descolamento fatal da sociedade por parte de intelectuais e da intelligentsia. Desvinculados do povo, numa prepotência arrogante, esses intelectuais de gabinete têm cometido um erro de análise atrás do outro porque só conhecem a patuleia pelos livros ou de “ouvir falar”.
O fato mais recente que expõe esse afastamento entre elite e povo é o índice de aprovação de Trump, mesmo depois do encontro com Putin, mesmo depois da imprensa trata-lo como um maluco imbecil dia sim, dia também:
O índice de aprovação do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, subiu para 45%, segundo nova pesquisa conjunta de Wall Street Journal/NBC News, a marca mais alta de sua presidência e 1 ponto porcentual a mais do que em junho. A pesquisa foi realizada em um período de quatro dias que começou em 15 de julho, um dia antes da entrevista coletiva com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, na qual Trump questionou a conclusão das agências de inteligência norte-americanas de que a Rússia interferiu nas eleições de 2016. Trump tinha o apoio de 88% dos eleitores republicanos. Dos quatro ocupantes anteriores da Casa Branca, apenas George W. Bush, após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, teve um índice de aprovação maior dentro de seu próprio partido em igual período de sua presidência.
Ou seja, a mídia detona Trump diariamente, como nunca antes se viu na história da imprensa, e mesmo assim a população continua simplesmente ignorando todo esse esforço homérico, essa cruzada ensandecida. Sobre isso, Leandro Ruschel comentou numa série de tuítes:
Trump tem a segunda maior aprovação entre republicanos na história, 88%, atrás apenas de Bush após o 11 de setembro. No público geral, a aprovação é de 45%, mais do que Obama com o mesmo tempo de mandato.
Sobre Trump, quase todos os republicanos o apoiam e quase todos os democratas se opõem a ele. A divisão no país é a maior desde a Guerra Civil. Não é que os republicanos ficaram mais conservadores. Os democratas estão cada vez mais próximos da extrema-esquerda. Obama é o marco.
Essa é a pegadinha da esquerda, não só nos EUA, mas no resto do mundo: buscar uma mudança radical na sociedade e acusar o adversário de extremista quando na verdade ele quer apenas conservar as bases morais existentes. A “polarização política” é criada e mantida pela esquerda.
Veja o ponto que chegou o extremismo da esquerda americana: a bandeira não é mais nem legalizar os imigrantes ilegais, é acabar com o próprio controle das fronteiras, o que obviamente representaria o fim dos EUA em algum tempo. Se você é contra isso, só pode ser um fascista.
Nas primárias do Partido Democrata para a última campanha presidencial, o pré-candidato só não foi o marxista Bernie Sanders porque a Hillary Clinton manipulou o processo. A principal corrente interna do partido hoje é a DSA, tão esquerdista quanto o PSOL.
Talvez nunca tenha ficado tão claro quanto hoje o conceito gramsciano de hegemonia: se você é contra os ideais utópicos da esquerda, você é um monstro e nem deve fazer parte da sociedade. É a mensagem que a imprensa americana e o resto do aparelho esquerdista passa sobre Trump.
A cobertura da presidência de Trump demonstra, sem sombra de dúvidas, como a esquerda dominou quase que completamente a grande imprensa, o meio cultural e as universidades. Nos EUA ainda há alguma resistência, como a Fox News e think tanks conservadores. No Brasil, não há mais.
No Brasil simplesmente defender que bandidos sejam punidos virou uma opinião de “extrema-direita”. A esquerda transforma bandidos em “vítimas da sociedade”, produzindo uma dos maiores índices de violência no mundo, mas quem luta contra está “polarizando a sociedade”.
A esquerda, cada vez mais radical, tem simplesmente impedido qualquer debate, e patrulha aquele que tenta “atravessar o corredor” para conversar com alguém da direita. Vimos um caso lamentável recentemente aqui nos Estados Unidos, quando o ator Mark Duplass resolveu elogiar Ben Shapiro após uma visita ao seu escritório. Foi massacrado nas redes sociais e acabou postando que não compactuava com racismo, xenofobia ou homofobia, insinuando que Shapiro defende tais absurdos.
Ben Shapiro gravou um podcast em que comentou o caso, e também deu entrevistas sobre o assunto. Ele sequer tinha tornado pública a visita do ator, justamente porque sabe como o simples fato de estar com ele pode ser terrível em Hollywood. Direita é sinônimo de lepra contagiosa nesses meios. Duplass decidiu tecer um elogio ao pensador conservador por conta própria, e depois se viu no papel de covarde sem caráter para sobreviver profissionalmente, tendo que detonar Shapiro em público. E poderia ser qualquer outro conservador famoso!
A esquerda, mais e mais extremista, fechou-se numa bolha onde só entram os mesmos tipos radicais e intolerantes, e com isso perdeu qualquer contato com o mundo real aqui fora. A boa aprovação de Trump é apenas um sintoma que ilustra com perfeição essa distância entre a elite “progressista” e o povo. Quanto mais os esquerdistas reagirem se enclausurando e atacando todos os demais como se fossem alienados imbecis ou monstros morais, mais surpresas negativas eles terão na vida. É que seu mapa de fundo para “analisar” a política está completamente equivocado.
Rodrigo Constantino