O governo Kirchner anuncia congelamento “voluntário” de preços e culpa especuladores pela crise:
Na tentativa de conter a disparada de preços ocorrida após a maxidesvalorização na semana passada – a cotação do dólar oficial subiu de 6,72 pesos para 8,015, uma perda de 16,15% no peso -, a Casa Rosada anunciou nesta quarta-feira um acordo “voluntário” com empresas do setor de alimentos, insumos industriais, eletrodomésticos e outros produtos incluídos no chamado plano de “Preços Cuidados”, lançado recentemente, que estabelece um mecanismo retroativo para congelar os preços no patamar de 21 de janeiro. O congelamento tem prazo indeterminado e abrange todo o país, não só a área da Grande Buenos Aires.
No caso dos eletrodomésticos, o governo da presidente Cristina Kirchner permitiu reajuste máximo de 7,5%, abaixo dos aumentos de até 30% verificados nos últimos dias. O ministro da Economia, Axel Kicillof, voltou a questionar os comerciantes, e o secretário de Comércio Interior, Augusto Costa, chegou a dizer, em tom irônico, que “cortaria a cabeça de alguns que sobem os preços”.
Aprendemos com a história que muitos não aprendem com a história. A repetição de certos erros chega a assustar. Não há nada de novo sob o sol aqui.
Quando um país se abre para o fluxo internacional de recursos, é impossível controlar tanto a inflação quanto o câmbio. Várias crises recentes aconteceram em países que tentaram isso. Queriam ter e comer o bolo ao mesmo tempo.
No sistema de câmbio flutuante, os ajustes no fluxo de capital ocorrem por meio da taxa de câmbio. Com o câmbio fixo, entretanto, o governo não tem como controlar os juros e a inflação. Tentar fazer isto é como servir a dois mestres simultaneamente, e o resultado é a traição a ambos.
Nada disso é novo. Trocam-se os personagens, mas a trama continua a mesma. Robert Schuettinger e Eamonn Butler escreveram um livro em 1979, chamado Quarenta séculos de controles de preços e salários. Pelo título, já fica claro como esta política é antiga.
Tão velha quanto a Babilônia, para ser mais preciso. O Código de Hamurabi já impunha um rígido sistema de controles de salários e preços. Naturalmente, não funcionou. Os autores resumem:
O registro histórico mostra uma sequência sombriamente uniforme de repetidos fracassos. De fato, não existe um único episódio em que os controles dos preços tenham conseguido deter a inflação ou acabar com a escassez. Em vez de conter a inflação, os controles de preços acrescentam outras complicações à doença da inflação, como o mercado negro e a escassez, que refletem o desperdício e a má alocação de recursos provocada pelos mesmos controles.
A razão para o fracasso é clara: os controles de preços não atacam a verdadeira causa da inflação, que é “o aumento dos meios de pagamento superior ao aumento da produtividade”. O governo argentino insiste no erro. Pretende evitar o aumento da inflação decretando controle de preços e punindo “especuladores”. Não se brinca impunemente com os preços de mercado.
Outro grave problema do controle de preços é que sabemos onde ele começa, mas nunca onde termina. O economista austríaco Ludwig von Mises descreveu a desagradável experiência alemã:
Nos seus esforços para fazer funcionar o sistema de controle de preços, as autoridades ampliaram passo a passo a gama de mercadorias sujeitas ao controle de preços. Um após o outro, os setores de economia passaram a ser centralizados, sendo colocados sob a administração de um comissário do governo.
O controle de determinado preço gera consequências indesejadas, e novos controles são demandados para atacar os novos problemas. Algo como aqueles desenhos animados antigos, em que o personagem tentava conter o vazamento de água tampando um buraco, mas logo apareciam inúmeros outros buracos, levando-o ao desespero.
Seria bem mais inteligente atacar a raiz do problema, a saber, as finanças públicas fora de controle, a taxa de juros abaixo da inflação, o excesso de intervencionismo no mercado, etc. Infelizmente, a Argentina escolhe o caminho da desgraça anunciada. Quem não aprendeu uma lição de 4 mil anos, não aprendeu nada mesmo!
Rodrigo Constantino
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