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Arma é civilização. Ou: Reinaldo Azevedo entrou num buraco e não para de cavar…

No seu programa “Os pingos nos is” de ontem, Reinaldo Azevedo resolveu atacar o MBL, que pretende voltar às ruas tendo como uma das pautas a revogação do Estatuto do Desarmamento, e decidiu bancar o desarmamentista, adotando um discurso talvez até mais à esquerda do que o do seu amigo José Serra. Vejam lá, aos 53 minutos:

Foi alvo de uma legítima reação de Bene Barbosa, o maior especialista brasileiro no assunto:

Reinaldo Azevedo afirmou hoje em seu programa que mais armas significam mais crimes e ponto final! Decreto Azevediano! Comparou EUA com Portugal e Alemanha e disse que a diferença é a circulação de armas! É a prova cabal que a ignorância pode ficar muito bem escondida, por um bom tempo, atrás de uma suposta erudição. Triste fim…

Tenho publicado vários textos aqui refutando as teses desarmamentistas, que Azevedo decidiu abraçar (talvez num abraço dos afogados). Hoje, por acaso, recebi mais um bom texto sobre o assunto, do Major L. Caudill, do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos, em que ele diz com todas as letras que “arma é civilização”. Segue um longo trecho:

As pessoas só possuem duas maneiras de lidar umas com as outras: pela razão e pela força. Se você quer que eu faça algo para você, você tem a opção de me convencer via argumentos ou me obrigar a me submeter à sua vontade pela força. Todas as interações humanas recaem em uma dessas duas categorias, sem exceções. Razão ou força, só isso. Em uma sociedade realmente moral e civilizada, as pessoas somente interagem pela persuasão.

A força não tem lugar como método válido de interação social e a única coisa que remove a força da equação é uma arma de fogo (de uso pessoal), por mais paradoxal que isso possa parecer.

Quando eu porto uma arma, você não pode lidar comigo pela Força. Você precisa usar a Razão para tentar me persuadir, porque eu possuo uma maneira de anular suas ameaças ou uso da Força.

A arma de fogo é o único instrumento que coloca em pé de igualdade uma mulher de 50 Kg e um assaltante de 105 Kg; um aposentado de 75 anos e um marginal de 19, e um único indivíduo contra um carro cheio de bêbados com bastões de baseball.

A arma de fogo remove a disparidade de força física, tamanho ou número entre atacantes em potencial e alguém se defendendo. Há muitas pessoas que consideram a arma de fogo como a causa do desequilíbrio de forças. São essas pessoas que pensam que seríamos mais civilizados se todas as armas de fogo fossem removidas da sociedade, porque uma arma de fogo deixaria o trabalho de um assaltante (armado) mais fácil. Isso, obviamente, somente é verdade se a maioria das vítimas em potencial do assaltante estiver desarmada, seja por opção, seja em virtude de leis – isso não tem validade alguma se a maioria das potenciais vítimas estiver armada.

Quem advoga pelo banimento das armas de fogo opta automaticamente pelo governo do jovem, do forte e dos em maior número, e isso é o exato oposto de uma sociedade civilizada. Um marginal, mesmo armado, só consegue ser bem sucedido em uma sociedade onde o Estado lhe garantiu o monopólio da força.

[…]

Quando eu porto uma arma, eu não o faço porque estou procurando encrenca, mas por que espero ser deixado em paz. A arma na minha cintura significa que eu não posso ser forçado, somente persuadido. Eu não porto arma porque tenho medo, mas porque ela me permite não ter medo. Ela não limita as ações daqueles que iriam interagir comigo pela razão, somente daqueles que pretenderiam fazê-lo pela força. Ela remove a força da equação. E é por isso que portar uma arma é um ato civilizado.

Então, a maior civilização é onde todos os cidadãos estão igualmente armados e só podem ser persuadidos, nunca forçados.

Ontem, pouco depois das besteiras ditas por Reinaldo Azevedo, Paulo Figueiredo Filho fez um “live” no Facebook sobre legislação armamentista nos Estados Unidos, dando uma verdadeira aula sobre o assunto. Talvez Azevedo devesse investir alguns minutos para entender melhor a questão:

Não está fácil compreender as mudanças no discurso de Reinaldo Azevedo, alguém que sempre admirei. Cultura certamente não lhe falta, mas ele tem defendido coisas bem estranhas para alguém que se diz um liberal ou um conservador. Sua guinada à esquerda salta aos olhos. Resta entender o motivo.

Deixo uma pequena lista de 4 livros sobre o tema. Também gosto muito de Machado de Assis, mas quando o assunto é armas, é preciso mergulhar em algo mais específico e técnico:

Quando se entra num buraco, a primeira coisa a fazer é parar de cavar. Pare de cavar, Reinaldo…

Rodrigo Constantino

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