Foi com muita satisfação que soube que o livro da historiadora Joyce Malcolm, Guns and Violence, que li há alguns anos, ganharia finalmente uma versão em português. A apresentação, claro, coube ao amigo Bene Barbosa, do Movimento Viva Brasil, que tem lutado com muita garra pelo nosso direito básico de ter uma arma.
Abaixo, segue um texto mais antigo que escrevi com base no livro que o leitor agora tem a oportunidade de comprar e ler em nossa própria língua:
Guns and Violence
“Um homem sábio toma suas próprias decisões, um homem ignorante segue a opinião pública.” (Provérbio chinês)
A historiadora Joyce Malcolm escreveu um livro recentemente, com o mesmo título desse texto, sobre a experiência inglesa em relação ao armamento da população. O estudo contempla desde a Idade Média até o presente. Ela cita evidências estatísticas de crescimento da violência apesar de cada vez mais rigorosas leis anti-armamento. Faz também comparações interessantes com os Estados Unidos, onde, apesar de milhões de pessoas serem detentoras de armas, os crimes violentos continuam declinando.
Na Inglaterra, as taxas de criminalidade já vinham caindo séculos antes da lei contra o armamento e, de fato, começaram a subir após a aprovação da lei. O que isso tudo quer dizer, no mínimo, é que não existe razão alguma para se considerar o armamento da população como causa relevante da maior criminalidade. São outras as causas, como crescimento das cidades, miséria, impunidade, para dar alguns exemplos.
Isso se deve, claramente, ao fato de que os bandidos não deixarão nunca de se armar, sem falar que muitas vezes suas armas são curiosamente as proibidas, permitidas apenas nas Forças Armadas. Em contrapartida, a grande maioria dos detentores de armas seria incapaz de matar uma mosca em situações normais. Claro que, em defesa própria ou da família, eliminariam um bandido por necessidade. Assim, acabar com o direito de auto-defesa do cidadão livre com o pretexto de reduzir a violência não passa de uma farsa.
Pesquisando melhor as origens desse tipo de ato, fica ainda mais clara esta evidência. Em 1920, quando foi aprovado um estatuto que eliminava o direito de todos os indivíduos possuírem armas na Inglaterra, a medida fazia parte de um contexto maior, denominado “Defense of the Realm Act”, que concedia ao governo amplos poderes de intervenção na economia em função da guerra. Documentos do gabinete inglês deixavam claro que o temor não estava relacionado com o crime, mas com a desordem e a possibilidade de revolução popular.
Após esse período, com a Segunda Grande Guerra, o governo voltou atrás e estimulou a população a se armar. Ou seja, o governo havia assumido o monopólio da defesa pessoal de indivíduos, variando de acordo com seus interesses e medos, e não relacionado a algum medo real de aumento da violência urbana.
A Suíça é outro bom exemplo, onde quase toda a população possui armas, sem que isso se reflita em índices elevados de violência. Eles entendem bem o papel do direito à liberdade individual e à defesa pessoal. Justamente por essa razão, lá nunca foi possível um golpe totalitário de algum governo ou mesmo a invasão por outra nação.
Aqui no Brasil, esse movimento pelo desarmamento começa justamente por partidos de esquerda. Eles utilizam uma forte propaganda, usando basicamente mulheres, que costumam ser mais impulsivas, criando uma insuportável pressão sobre os homens para aderirem à causa. “Arma? Ou ela ou eu!”, dizem os cartazes. Os que ousam ir contra tal atitude politicamente correta, ou pedem maior debate para um tema tão delicado e complexo, são logo tachados de potenciais criminosos, pessoas violentas ou contra a paz. Que bela inversão dos fatos!
Dessa forma, quem agradece são os bandidos, já que o caminho para o crime fica mais livre. Invadir uma residência num país em que é proibido ter armas é uma beleza, negócio quase sem risco. Enquanto as pessoas não entenderem que o debate sobre esses temas complicados precisam ser intensos, mantendo sempre o ceticismo de que outros interesses podem existir nessas atitudes aparentemente nobres, nunca vamos ter um avanço concreto nessas áreas. E confesso que é dura a tarefa de lutar contra os slogans bonitos dos “pacifistas”, “ambientalistas”, “humanitários” e todos esses que muitas vezes não passam de lobos vestidos em pele de cordeiro.
Concluindo, sempre que o governo de algum país aparecer com medidas populistas de desarmamento da população, saiba que isso não passa de propaganda ou, num caso mais preocupante, de um interesse obscuro em enfraquecer a população. O direito de auto-defesa pertence ao indivíduo, como o nome já diz. Em uma sociedade livre, não deveríamos nunca abdicar deste direito. O Estado não deveria ter a permissão de se meter em tal assunto, ainda mais quando se trata de um governo incompetente num país violento como o nosso.
Rodrigo Constantino