A jornalista Miriam Leitão entrevistou o ministro Guido Mantega e o ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga, em programa que foi ao ar hoje, às 19h30, na Globo News.
Arminio Fraga começou lembrando que o Brasil tem um histórico de inflação alta e que é muito perigoso deixá-la sair do controle. Os mais jovens não lembram ou não viram a época de hiperinflação, mas era caótico, e os mais pobres são os que mais sofrem. A sensação que o povo tem, com vários preços represados, é a de que o índice não está em 6,75%, o que já seria um patamar elevado, e sim bem acima disso. É um risco grande e a perda de confiança no governo é total.
Mantega abriu sua fala repetindo que a inflação está “sob controle” (e tossiu nessa hora, o que Freud explica). Disse que o índice está 6,75% no acumulado em 12 meses, mas que deve terminar o ano abaixo disso, em 6,4% (que maravilha!). Disse que o governo sempre entregou uma inflação dentro da meta, e culpou as commodities pela alta. E tentou espetar Arminio, afirmando que a inflação em seu período no Banco Central foi maior.
Ou seja, para Mantega a meta é acima de 6%, e não os 4,5% do governo. Responsabilizar as commodities é uma piada, uma vez que a inflação é mais forte no setor de serviços, e que o resto do mundo emergente tem inflação bem menor. E sobre a acusação a Arminio, Mantega simplesmente resolveu ignorar a crise de 1999, que tinha o Brasil no epicentro dos problemas e cuja desvalorização da moeda impactou diretamente os preços.
Arminio lembrou, ainda, que o risco Lula esteve no centro do nervosismo em 2002, afetando negativamente os indicadores. Mantega rejeitou a “tese” (um fato, na verdade), afirmando que o problema era a fragilidade de nossa economia, e não tinha nada a ver com qualquer tensão em relação à vitória iminente de Lula. O ministro da Fazenda de Dilma realmente vive em Marte.
A postura de lorde britânico, de verdadeiro gentleman de Arminio, o impediu de ser mais duro com as mentiras e malandragens de Mantega. Preciso ao menos admitir a coragem ou a extrema cara de pau de Mantega de aceitar o debate. A voz rouca e um tanto embargada demonstra que havia um resquício de vergonha na cara. O ministro repetiu ad nauseam que a culpa é da tal crise internacional, ignorando que todos os emergentes crescem mais do que a gente e com menos inflação. Restou ao ministro de Dilma nos comparar com a Europa!
Acho que Arminio perdeu uma ótima oportunidade de esfregar na cara de Mantega suas mentiras com mais contundência, mostrando as taxas de crescimento dos países latino-americanos da Aliança do Pacífico em comparação com a brasileira. Cheguei a preparar uma tabela comparativa e enviar ao ex-presidente do BC, mas infelizmente soube que a entrevista era gravada e já tinha ocorrido. Era preciso desmascarar sem piedade essa falácia repetida por Mantega, tentando colocar o Brasil junto com o resto do mundo emergente. Apenas no final Arminio citou com mais ênfase que estamos crescendo dois pontos percentuais abaixo da média latino-americana.
Perguntado sobre qual seria a diferença em uma gestão Aécio Neves, Arminio Fraga respondeu se tratar de uma diferença fundamental, que é a capacidade de fomentar o crescimento. Lembrou que o governo Dilma ficou cinco anos sem fazer concessões por questões ideológicas. Disse, ainda, que a transparência é crucial, e que o governo fracassou nesse aspecto. Retomar uma agenda de reformas também teria um impacto favorável.
Já Mantega repetiu a ladainha de que estamos em crise e que precisamos de medidas anticíclicas, aquelas que já duram vários anos, sem resultado positivo para mostrar. Insinuou que Arminio usaria o resgate do tripé macroeconômico para combater a inflação, e que isso seria negativo. Talvez o ministro ache que ter abandonado o tripé foi algo inteligente, e por culpa dos marcianos estamos em estagflação. Por fim, reforçou a importância de um estado hiperativo na economia, com subsídios e tudo mais, ou seja, aquilo que só serviu para beneficiar grandes grupos enquanto a taxa de investimento despencava em relação ao PIB.
Arminio não perdeu a oportunidade de citar isso, e ainda mencionou o BNDES. Tal modelo não foi capaz de entregar bons resultados. Ainda puxou da cartola que foi o governo FHC que criou o Bolsa Família, e que o uso do BNDES para poucos empresários custa muito mais com menos impacto na vida dos brasileiros. Depois dessa, não sei como Mantega não pediu para ir ao banheiro e saiu de fininho…
Mantega, o ministro que Dilma precisou “demitir” em campanha para tentar resgatar alguma credibilidade, teve de insistir como um fanático na tecla da crise internacional, que não existe para países emergentes. Segundo o ministro, o cenário é muito adverso para investimentos. Será que ele não sabe que o custo de capital nos países desenvolvidos ainda está negativo e que os investidores estão desesperados atrás de alternativas em mercados emergentes?
Em suma, poderia ter sido um massacre muito maior, mas mesmo com a postura tímida de Arminio, é covardia colocar o Barcelona para jogar com o time de Várzea. O excesso de polidez de Arminio o segurou muitas vezes, e imagino como deve ter sido difícil se controlar. Com isso, a malandragem de Mantega passou relativamente impune em alguns momentos, e os mais leigos podem sair com a impressão de que esse quadro lamentável de nossa economia é mesmo fruto de uma suposta crise internacional. Não é. É tudo culpa dos trapalhões liderados por Dilma e Mantega. Se o Brasil não se livrar do PT, o PT vai afundar de vez o Brasil.
Rodrigo Constantino