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Nem só de funk vive o Brasil. Há outro lado, mas ele não recebe a mesma atenção da imprensa, e não é tratado como “grande arte”, pois não vem da periferia e não pretende falar em nome das “minorias”. Em suma, não atende aos requisitos de mascote da esquerda caviar, e por isso é ignorado.

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Falo, por exemplo, de música clássica. Composta em pleno século XXI, e no Brasil. Um desses “compositores” é também um liberal defensor do capitalismo, André Catelli, que tinha um blog chamado Pugnacitas, assinando com o nome Catellius. Ele é, na verdade, arquiteto, e por isso não tem o “selo” exigido por um país obcecado por títulos em vez de resultados. Eis o que conta:

Após tentar marcar audiência com um maestro de Brasília e não obter resposta, enviar a partitura dessa minha composição a dois outros dessa cidade, na qual a Cultura natimorta consegue agonizar, e também não ter retorno – talvez por eu não fazer parter da patotinha acadêmica -, enviei-a ao maestro sino-australiano Dr. Brian Chatpo Koo, que analisou a partitura, fez algumas exigências técnicas e, para minha enorme surpresa, inseriu-a na programação seguinte de sua orquestra, no Concerto de 6 de outubro de 2017 no Verbrugghen Hall, no Sydney Conservatorium of Music, na mesma área da Ópera de Sydney. 

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Enviei também a meia dúzia de outros maestros e orquestras mundo afora e praticamente todos responderam e comentaram a música. A Orquestra Filarmônica de BRNO, na República Checa, se propôs a gravá-la em CD, juntamente com outras composições de outros contemporâneos, mas eu teria que pagar meu quinhão nos custos de gravação. Ainda assim, infinitamente menores do que aqueles para se contratar uma orquestra de 50 músicos e o espaço para os vários ensaios. Eu teria que pagar uns 2000 dólares. Uma quantia irrisória, convenhamos. Mas recusei. Hoje me arrependo um pouco.

Voltando para a sinfônica de Sydney, foram muito bem, considerando que fizeram apenas dois ensaios. Mas talvez por causa disso, entre os minutos 3 e 4 de música os trombones e os tímpanos soaram com um compasso de defasagem, o que deixou os trechos “dodecafonistas”, ou melhor “cacofonistas”. Ao longo da peça os trombonistas aprontaram uma ou outra. Quando tocam não devem ouvir senão eles próprios, não têm retorno do resto da orquestra. Acho que isso contribuiu. Então… Qualquer dissonância não é minha… rsrs! 

Eis aqui a performance da orquestra:

Não sou entendido em música clássica, sou apenas um consumidor esporádico. Gostei do resultado. Mas pelo visto se trata de coisa refinada demais para os brasileiros, pela ótica da elite formadora de opinião, que prefere glamourizar o funk, ou então reverenciar nossos compositores de MPB tratados como sumidades e também grandes intelectuais. É, de fato, uma patota.

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Nela não há espaço para talentos independentes, de quem não está disposto a fazer o jogo político de cartas marcadas. Um MC desses que “canta” sobre como quer explodir algum prédio, matar um policial ou destratar uma mulher será recebido em programas de televisão e tratado como um grande pensador e artista. Um pichador vândalo que suja muros da cidade será reverenciado por sua “arte” subversiva. Mas um “compositor” que teve sua música tocada por uma orquestra em Sydney? Sequer será notícia…

É triste, muito triste. Porque há no Brasil esse outro lado, claro que há. Só que ele não recebe muito a luz do dia, pois não é do interesse dos “formadores de opinião”…

Rodrigo Constantino