Por Rafael Valladão, publicado pelo Instituto Liberal
Na última sexta-feira, Lula foi liberado pela Justiça para acompanhar o velório de seu neto, Arthur, morto aos sete anos, vítima de meningite meningocócica. Não havia nenhuma cortesia: a Lei de Execução Penal, em seu artigo 120, garante a saída temporária de detentos em caso de morte de familiares do preso. A lamentável morte de Arthur sensibilizou a todos que possuem um coração vivo e pulsante: ninguém deseja a morte de familiares de ninguém, ainda que este alguém seja um criminoso condenado a anos de cadeia por saquear os cofres públicos e aviltar a República.
A liberação, porém, criou apreensão sobre qual seria o comportamento de Lula no velório. Será que o patriarca petista iria utilizar o caixão do próprio neto como palanque? Será que Lula teria a baixeza moral de subordinar a morte de um familiar à promoção de seus interesses políticos? Será que o ex-presidente agiria como um sociopata incapaz de sentir remorsos? Como disse o economista Rodrigo Constantino, participando do programa Os Pingos nos Is, um eventual comício de Lula no sepultamento do próprio neto diria ao mundo quem é Luiz Inácio da Silva. Só não houve comício, porque os agentes da Polícia Federal impediram, na medida do possível, a entrada de simpatizantes do PT no cemitério. Mas Lula afirmou publicamente que levaria ao seu neto o “diploma de inocência” quando o encontrasse no céu, e que “os ladrões chegaram no poder, mas que ele não é ladrão”.
Para surpresa de quem esperava alguma fortaleza de Lula, o ex-presidente retomou a narrativa vitimista da perseguição política que estaria sofrendo por parte da Justiça e da Polícia Federal, todos envolvidos na conspiração antipetista da Lava Jato. Pegou o microfone para se defender das acusações que o levaram à cadeia, mas o fez da forma mais desprezível e abjeta: sobre o corpo morto de Arthur da Silva, uma criança inocente. Arthur não escolheu nascer na família do ex-presidente, mas Lula decidiu valer-se do próprio neto para se promover como heroico mártir dos pobres e oprimidos. Graças aos esforços da Polícia Federal, Lula não repetiu o vergonhoso comício que fez durante o velório da própria esposa, Marisa Letícia, que o acompanhou desde os tempos de líder sindical. Quando foi enterrar a esposa, Lula atacou a Lava Jato e combinou lágrimas com imprecações.
O que esses dois episódios lamentáveis nos mostram sobre Lula? Das duas uma: ou ele é, de fato, cínico e dissimulado ao ponto de utilizar dois velórios como comícios, aproveitando-se da comoção pública para se promover politicamente; ou ele acredita na própria inocência como um esquizofrênico delirante que recusa as evidências da realidade e se esconde na própria fantasia. Talvez Lula sofra de megalomania e se acredite um deus profanado pelos fiéis da igreja que chefiou durante oito anos. Talvez o ex-presidente seja um sociopata inveterado, não sabemos. O certo é que Arthur da Silva não mereceu o avô que teve. Não podemos ignorar que Lula já deu provas da própria baixeza moral quando explorou politicamente dois cadáveres da família.
É mesmo difícil discutir aspectos morais em celebridades políticas. Os profissionais da política são geralmente especializados em cinismo e dissimulação, são atores na cenografia social que desempenham o papel de homens exemplares, criaturas moralmente superiores e iluminadas por Deus em meio à escuridão mundana. Mesmo nas maiores democracias do Ocidente, como na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos, existe uma tendência de os políticos falsearem seus méritos morais para se encaixarem no gosto popular. Em países como o Brasil, historicamente tomado por populistas e demagogos da pior espécie, a tendência se acentua. O personagem político deve suplantar o indivíduo moral para conquistar votos e se manter no poder. Por isso, é difícil discernir onde começa um e termina o outro.
Acontece que políticos como Lula se acostumam a confundir o homem privado e a pessoa pública. O populismo e a demagogia exigem dos políticos a confusão existencial entre o homem que assina decretos e o homem que escova os dentes pela manhã; entre o indivíduo que brinca com os animais domésticos e o personagem que discursa publicamente sobre um palco. Para persuadir os eleitores de que é um homem comum, o demagogo deve primeiramente convencer-se, deve crer que sua identidade é a mesma diante do espelho e diante das câmeras. Como os alemães que choravam ao encontrar pela primeira vez o seu fuhrer, Lula deve sentir-se digno e heroico quando se observa no espelho e encontra o pai dos pobres, um homem santo.
Quando Maquiavel afirmou que o príncipe deveria saber ser mau e cruel quando necessário, ele sabia que o povo espera sempre de seus governantes a altitude moral dos santos. É natural que assim seja, faz parte do desafio político. O que Maquiavel não escreveu é o que Lula faz hoje: sabe ser mau e cruel para sustentar uma narrativa, e acaba se convencendo que sua maldade e sua crueldade são justificáveis. Quem chamou Maquiavel de sádico e cínico não conheceu Lula.
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