Por Ricardo Bordin, publicado pelo Instituto Liberal
Costuma ser cômico quando os adeptos do politicamente correto (leia-se: projetos políticos estatizantes travestidos de boas intenções) esticam tanto a corda do cerceamento do discurso e do direcionamento das ações humanas conforme seus próprios desígnios que acabam, eventualmente, por atingir uns aos outros.
Tal qual ocorreu, por exemplo, quando o Ministro Barroso, fervoroso caudatário da legalização do comércio de drogas pesadas (cocaína em especial) e da descriminalização do aborto (ato odioso por ele já liberado para gestações com menos de três meses), viu o mundo “progressista” desabar sobre sua cabeça ao referir-se a Joaquim Barbosa como “negro de primeira linha”. Típico fogo “amigo” (pero no mucho) trocado entre revolucionários Toddynho.
Mas a pendenga da vez extrapolou as raias da esquizofrenia e da comédia pastelão: um “ator” (categoria profissional acostumada a depender de financiamento estatal até para levantar da cama) atacou uma colega de ofício pelo fato de que ela, vejam vocês, teria praticado apologia ao consumo imoderado de…LEITE!
Interessante. Muito embora seja o leite um dos alimentos mais completosque existem, o rapaz canaliza toda sua fúria virtual contra o consumo do aparentemente inocente líquido, fazendo uso de palavras muito duras para dirigir-se a uma mulher que só queria dar dicas para quem fica estufado após ingerir laticínios.
Pois bem: em não tomando leite, como será que o protagonista do conflito substitui seus importantes nutrientes no cardápio? Vamos às alternativas disponíveis:
1) Será que ele gosta de verdura (no bom sentido, claro)? Isto é, será que Dado costuma procurar em vegetais diversos as substâncias de que necessita para sua subsistência, pois assim evitaria o sofrimento das pobres vaquinhas leiteiras? Bem provável, uma vez que estamos diante de um vegano declarado, e não lhe restam muitas opções, convenhamos.
Contradições à vista: a atividade agrícola causa consideráveis impactos ao meio ambiente em decorrência da aplicação de agrotóxicos, fertilizantes e adubos. E é bom que se diga: ainda bem que a agricultura faz uso de tais defensivos químicos, pois foi justamente a partir se seu advento que epidemias de fome deixaram de ser tão comuns e passaram a ser quase que exclusividade de nações assoladas por governos totalitários e/ou teocracias islâmicas – características partilhadas pelos países em grave crise humanitária (mais a Coreia do Norte, claro).
Graças às pesquisas do cientista Walther Nernst, a partir das quais tornaram-se possíveis a fabricação de fertilizantes artificiais e a própria concepção de agricultura em escala industrial (aliada à evolução da logística de transportes e do maquinário agrícola), alimentos outrora escassos tornaram-se abundantes, baratos e acessíveis – a tal ponto de alguns indivíduos darem-se ao luxo de querer proibir alguns deles, como no caso em estudo. A produção em massa reduz o custo unitário dos bens produzidos, e não foi diferente com a comida.
Como explica Leandro Narloch no Guia Politicamente Incorreto da História do Mundo:
Antes de Haber, a agricultura era sonho dos sustentáveis – desde que o sustento não seja o de vida humana. Não havia pesticidas ou fertilizantes sintéticos. Os agricultores evitavam as pragas e as doenças das plantas com técnicas milenares; o esterco e as sementes vinham da natureza. Famílias plantavam e colhiam com as mãos ou com poucas ferramentas rudimentares. Esse mundo idílico e ecologicamente correto tinha um resultado: a fome. Como a produção dependia da fertilidade do solo e da disponibilidade de adubos naturais, as colheitas eram ralas – um hectare rendia com sorte 700 quilos de trigo, um quarto do que se produz hoje. A falta de variedades mais resistentes deixava a plantação vulnerável demais ao clima. Por causa disso, faltar comida era rotina. A fome matou 10% dos ingleses entre 1315 e 1317, um terço dos russos entre 1601 e 1603, 10% dos franceses e noruegueses no fim do século 17, quase 20% dos irlandeses entre 1845 e 1849, entre muitas outras crises de alimentação.
E agora? Como conciliar a ânsia “por um mundo melhor” com a necessidade de encher a barriga?
2) Ora, basta aderir à comida orgânica, certo?
Pesquisadores da Cornell University realizaram uma experiência oferecendo dois produtos alimentícios totalmente idênticos a pessoas comuns, mas alegando, todavia, que um deles seria orgânico. O resultado: a vasta maioria declarou que achou menos calórico e mais nutritivo o falso orgânico, e ainda admitiu que pagaria até 25% a mais em relação ao alimento comum.
Este experimento, por si só, já diz muito sobre esta mania natureba: tudo se resume a marketing para ganhar dinheiro de indivíduos que querem comprar a sensação de estarem não apenas se alimentando de forma mais saudável, mas também salvando o planeta.
Em 2012, a universidade de Stanford realizou o mais amplo estudo comparativo entre alimentos orgânicos e seus similares convencionais, o qual acabou por concluir que os primeiros não são, em hipótese alguma, mais nutritivos do que os segundos.
Mas este fator não guarda relação com o caso em questão, uma vez que Dado Dolabella está(ria) mesmo interessado é na qualidade de vida dos bichinhos e na preservação da natureza, segundo consta, correto?
Na trave de novo: animais criados em fazendas que produzem produtos orgânicos não levam uma vida tão melhor assim. O Comitê Científico Norueguês para segurança alimentar não encontrou diferenças significativas na incidência de doenças quando comparou fazendas convencionais com suas similares orgânicas. A aparente “liberdade” por eles usufruída nestas últimas também não constitui vantagem, visto que se elevam os riscos de contrair parasitas e ficar exposto a predadores.
Fazendas orgânicas demandam menos energia para seu cultivo e desprendem menos gases de efeito estufa, sim. Mas elas apresentam um grande revés: por não utilizarem fertilizantes e pesticidas no processo, elas são muito menos eficientes do que fazendas tradicionais – ou seja, necessitam de bem mais área disponível para produzir a mesma quantidade de alimento.
Para ser mais preciso, é necessário 82% mais terra para produzir carne orgânica. 200% para trigo orgânico. E 59% para leite orgânico (opa, foi mal). E mais áreas destinadas para agricultura significam menos reservas naturais preservadas. Por demandarem mais terra, horas de trabalho e capital investido, o alto custo dos alimentos oriundos de fazendas orgânicas redundam em preços proibitivos para boa parcela da população, fazendo deles um luxo de poucos. Acabar com a inanição de milhões de pessoas mundo afora, portanto, não consta do repertório dos orgânicos.
Por fim, a agricultura orgânica utiliza agrotóxicos “naturais” em sua produção, como sulfato de cobre, que pode causar doenças no fígado em moradores de regiões circunvizinhas.
Então o caminho para Dado aliviar a consciência e a fome ao mesmo tempo, aparentemente, não é por aqui.
3) Então será que a solução não é consumir menos alimentos de origem animal mesmo?
Esta é a concepção dos chamados reducetarianos, os quais evitam, sempre que possível, comer carnes, peixes, frutos do mar, ovos e laticínios, sob o argumento de que “a criação de animais para a obtenção de alimentos derivados gasta recursos naturais e usam-se grandes áreas de terra para cultivo de grãos e cereais para ração e também para a criação de animais, em vez de alimentos vegetais para as pessoas”. Desenvolveram eles até mesmo um website por meio do qual seria possível calcular o quanto se poupou de água e de emissão de gás carbônico ao deixar de comer carne pelo menos uma vez por semana.
Mais falacioso impossível. Aproximadamente 70% de toda a água disponível no mundo é utilizada para irrigação de plantações. No Brasil, esse índice chega a 72%. Além disso, já restou comprovado que o nível de CO2 na atmosfera aumenta após a elevação da temperatura global, e não o oposto. Mas pelo menos para vender livros de dieta a prática tem se mostrando bastante eficaz.
Dado continua faminto e frustrado. Lamentável.
Mas em busca de algum alívio para a alma enquanto toma um copo de leite ou come um bife, bastaria ele comparar, por exemplo, como são abatidos animais de corte em frigoríficos de grande porte e em estabelecimentos de fundo de quintal: aqueles não tem tempo para esperar um boi morrer sangrando e estrebuchando no chão. Eles precisam que sua morte seja rápida, por uma questão de produtividade, e indolor, para que o sabor de sua carne não seja afetado pelo estresse da agonia.
E o que dizer das vacas leiteiras que passam o dia calmamente ouvindo música relaxante porque, ao fazer isso, o produtor obtém incrementos significativos na ordenha?
Moral da história: os mecanismos de estímulo do livre mercado (a demonizada busca por lucro) se encarregam de reduzir o sofrimento dos animais que abastecem nossa mesa diariamente – não por conta de alguma suposta bondade que ecochato nenhum possui de fato, mas sim por uma mera questão de pragmatismo.
Chama a atenção ainda o fato de que Dado diz estar preocupado com as mamães vaquinhas, mas agride mulheres com uma espontaneidade notável, tanto verbalmente quando com porrada mesmo. Declarar-se defensor de conceitos abstratos como humanidade ou natureza é fácil mesmo; difícil é amar o próximo.
Aliás, não fossem o veganismo e o feminismo movimentos irmãos de armas, preocupados tão somente com suas agendas políticas anticapitalistas e intervencionistas, a esta altura, certamente, textões espumando de raiva já estariam entupindo a TL do agressor. Mas que nada: vale tudo em busca do objetivo comum de dividir a sociedade entre opressores e oprimidos, colocando mulheres contra homens, negros contra brancos, homossexuais contra heterossexuais e, por que não, herbívoros contra carnívoros, vejam só.
Depois disso, é só pedir para o Estado acalmar os ânimos, conferindo-lhe mais poder para comandar cada passo dos cidadãos, enquanto ele distribui privilégios. Se “carne é crime” (mesmo sendo a ingestão regular de carne o que permitiu mudanças cruciais na raça humana, como o desenvolvimento do cérebro), então talvez seja hora de o governo vigiar e punir estes trogloditas de bigodinho de leite também, pois não?
Em vez de achincalhar com Dani Suzuki por motivo tão torpe, Dado poderia prestar aconselhamentos a outro colega seu de trabalho que tem consumido uma outra substância branca que não tem feito muito bem a sua carreira…
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