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As dificuldades do ajuste fiscal de Joaquim Levy
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Joaquim Levy deveria olhar mais para o corte de gastos do que para aumento de impostos.

O programa “Entre aspas” da GloboNews recebeu ontem os economistas Samuel Pessôa e Mansueto Almeida para um rápido bate-papo sobre o ajuste fiscal do ministro Joaquim Levy. A entrevista é curta e deveria ser vista por todos, pois o assunto pode nem interessar a todos, mas sem dúvida irá impactar o bolso de todos. E ambos fizeram uma análise boa da situação, incluindo os motivos que nos trouxeram até aqui e os desafios que teremos de enfrentar.

Vale notar que os dois são economistas ligados de alguma forma aos tucanos, e eram cotados para a equipe de Aécio Neves caso eleito. O bom senso em relação aos desenvolvimentistas da Unicamp ligados ao governo Dilma salta aos olhos. Dito isso, não são exatamente economistas da vertente liberal. Isso fica claro no decorrer da entrevista, onde aumento de imposto é visto com naturalidade e programas como o Minha Casa, Minha Vida são elogiados.

Samuel Pessôa chama a atenção para o fato de que muito dos gastos públicos é compulsório,  ou seja, faz parte da Constituição e seria, portanto, uma espécie de “pacto social” feito pela sociedade brasileira. Os governos teriam margem de manobra menor do que pensamos, e sem as reformas estruturais, ou seja, sem um novo “pacto social”, as despesas não podem ser cortadas na magnitude necessária.

Mansueto Almeida lembra que Levy é um técnico, não um político, e que o ajuste fiscal precisa de uma liderança política. Afinal, cortar gastos e aumentar impostos nunca é uma tarefa fácil, e a resistência será grande. Sem um político habilidoso para costurar isso, os obstáculos serão enormes, especialmente quando lembramos que a magnitude do ajuste necessário já é absurda.

Os gastos podem ser, em grande parte, compulsórios, mas isso não quer dizer que não houve espaço para muitos erros por parte do governo. Ambos reconhecem que o governo Dilma errou muito, principalmente ao esconder o custo de vários programas, como os subsídios do BNDES, por exemplo. Estes já custam mais do que o Bolsa Família, mas por não serem expostos diretamente, a população acha que não existem, que são “grátis”.

Enfim, o ajuste fiscal de que o Brasil precisa será doloroso, e ainda não se sabe se será politicamente viável, já que temos uma presidente fraca e seu próprio partido contra as mudanças necessárias. Muitos petistas sequer entenderam ainda que se a gestão econômica continuar como antes, o Brasil perde rapidamente o grau de investimento, e que isso significa fuga de capitais do país com um impacto profundo sobre todos nós.

Se a análise de Samuel Pessôa está correta, então a sociedade brasileira também tem boa parcela de responsabilidade pela situação, não só por ter eleito Dilma, mas por ter demandado, via votos para deputados e senadores no passado, um governo que faz “tudo pelo social” e deixa os custos disso de lado. O papel do estado precisa ser repensado urgentemente. Com tantas funções, a conta não fecha, e teremos um endividamento e uma carga tributária cada vez maiores, impedindo um crescimento sustentável e mais acelerado da economia.

Rodrigo Constantino

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