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Dois artigos publicados hoje no GLOBO mostram a enorme distância entre uma análise séria e outra, bem, um tanto chapa-branca. No primeiro deles, assinado pelo jornalista José Paulo Kupfer, ficamos com a nítida impressão de que o pessimismo todo em relação ao futuro econômico, especialmente caso Dilma seja reeleita, não passa de uma “aposta fuleira”. Diz ele, após condenar do ponto de vista ético e moral o relatório do Santander que simplesmente apontou a correlação entre pesquisa eleitoral e bolsa de valores:

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O exemplo já ficou batido, mas vale a pena evocar as eleições de 2002 para entender o ponto. Os indicadores macroeconômicos estavam, na época, tão ou mais deteriorados do que agora, mas os analistas de mercado avaliavam que a economia entraria em colapso, não com a continuidade do governo instalado, e sim com a vitória da oposição, na figura “esquerdista” e “intervencionista” de Lula da Silva, que subia nas pesquisas. Com base nessa aposta, os índices de ações entraram numa montanha-russa e a taxa de câmbio explodiu.

Vitorioso, Lula não só adotou uma política econômica diferente da que o mercado preconizava que adotaria como, rapidamente, dissolveu a profecia de que a economia, com ele no comando, despencaria no precipício. Ficou claro que, se os indicadores econômicos estavam caindo pelas tabelas, os fundamentos da economia, bem ou mal, continuavam preservados, possibilitando uma rápida recuperação e um relativamente prolongado período de crescimento.

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Nada impede que, com sinais trocados, se repita agora um roteiro semelhante ao de 2002. A suposição de que a presidente Dilma continuará teimando em não arrumar a casa pode, afinal, se revelar verdadeira, mas tem, rigorosamente, quase tanto valor quanto a de que algum candidato oposicionista detém a chave da instantânea correção de rumos e, mais do que isso, da imediata e consistente retomada do crescimento.

O resto não passa da mais literal — e grosseira — especulação.

Não sei por que o “esquerdista” e o “intervencionista” referentes a Lula ficaram entre aspas. Mas o fato é que, naquela época, os ativos reagiam ao próprio discurso do candidato, tanto que ele precisou escrever a tal Carta ao Povo Brasileiro e negar três décadas de bravatas para conseguir se eleger. Caso Lula tivesse colocado em prática aquilo que sempre pregara, a “especulação” seria absolutamente acertada, e graças a ela Lula teve de recuar. Era uma novidade, não custa lembrar.

Hoje é completamente diferente. O PT está no poder há 12 anos, e Dilma já foi testada – e reprovada. Os analistas sabem muito bem o que nos espera, e não é nada belo de se ver. Todos sabem que Dilma criou os problemas atuais que levaram a essa estagflação, e que não é capaz de reverter o quadro. Ela mesma é incapaz de reconhecer seus erros e apontar soluções.

Portanto, não há nada de “grosseira especulação” aqui, no sentido pejorativo que o jornalista tenta dar ao termo (expliquei aqui as vantagens da especulação, atividade fundamental da economia). Há, isso sim, a clara perspetiva de que mais quatro anos de PT e Dilma seriam terríveis para nossa economia e, por tabela, para o valor de nossos ativos. É o que conclui o economista Rogério Werneck, no outro artigo do jornal:

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O que Dilma Rousseff e a cúpula do PT estão tentando fazer é interditar parte desse confronto de visões prospectivas. Querem ditar quais segmentos da sociedade civil podem participar desse debate e quais não podem. O que lhes falta é uma Lei (Rui) Falcão que imponha um regime em que a CUT possa brandir à vontade o mantra de que a vitória da oposição é receita certa para arrocho salarial, mas instituições financeiras não possam nem mesmo afirmar que a vitória de Dilma seria deletéria para acionistas da Petrobras e de empresas do setor elétrico.

Melhor faria o Planalto se, refeito do surto de autoritarismo, tentasse entender o que vem alimentando a onda de pessimismo de que se queixa. Logo perceberia que o problema básico é o discurso escapista do governo. Ainda não se tem a menor ideia do que Dilma faria em 2015 para enfrentar o grave quadro de estagflação que o país enfrenta. Para continuar fechada em copas sobre a definição da sua equipe econômica, a presidente vem alegando que, por ser supersticiosa, prefere não antecipar nomes antes de ser reeleita.

Mas esse suposto sigilo esconde um segredo de polichinelo. Quem quer que tenha acompanhado de perto a política econômica nos últimos anos bem sabe que, se reeleita, a presidente não abrirá mão de continuar a controlar pessoalmente a formulação e a condução da política econômica.

É dessa percepção de que nada vai mudar que advém boa parte da onda de pessimismo que tanto incomoda o governo.

Werneck está certo, Kupfer errado. Um está do lado da análise imparcial, independente, e o outro do lado de quem tenta desqualificar as críticas totalmente embasadas ao governo Dilma. Aposta fuleira, como podemos perceber, é insistir no modelo defendido pela presidente Dilma.

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Rodrigo Constantino