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Assédio, estupro e a cultura da passividade

Por João César de Melo, publicado pelo Instituto Liberal

No ano de 2012, estreou no Brasil o filme Cairo 678, que mostra a realidade do assédio sexual no Egito. Baseado em fatos reais, o filme relata os dramas em comum de três mulheres de níveis socioeconômicos diferentes. As três são assediadas na rua e no trabalho. As três são humilhadas até mesmo em família, por maridos e parentes. As três vivem com medo até de manifestar o medo.

Depois de sofrer um estupro coletivo num estádio de futebol, uma delas, a mais rica, resolve engajar-se na causa antiviolência contra a mulher. Tenta os caminhos políticos e burocráticos. Em vão. Outra decide criar um grupo de ajuda, que não consegue fazer nada além de reuniões.

Fayza, a personagem mais pobre e menos articulada, decide resolver o problema esfaqueando os homens que nela se esfregam nos ônibus. Sem olhar para trás, ela apenas cravava a lâmina na região genital do agressor e descia do ônibus em meio a confusão que se seguia por causa dos gritos de dor.

Moral da história: Enquanto algumas mulheres tentavam mudar a cultura do assédio sexual por meio da sensibilização pública, colhendo nada mais do que piadas, Faysa reagiu às agressões, obtendo resultados concretos e muito além do que ela mesma esperava.

Seus atos ganharam as manchetes dos jornais, o que motivou muitas outras mulheres a fazer o mesmo. O próprio marido de Faysa certo dia chegou em casa esfaqueado por uma mulher que ele havia molestado. As reações se multiplicaram de tal maneira que os assédios nos ônibus pararam. Só por imaginar que uma mulher poderia reagir com violência fez com que os homens parassem de agir daquela maneira.

A mulher que inspirou a personagem Faysa não acabou com o assédio e com o estupro no Egito, apenas o diminuiu, mas comprovou que apenas reações práticas geram resultados reais.

O Brasil está muito distante da realidade egípcia, mas ainda é um país com alto índice de assédio e de crimes sexuais, porém, é necessário contextualizar os casos. SIM, há uma cultura do assédio. O olhar maldoso. A cantada. A piadinha sem graça. NÃO, não há uma cultura do estupro. Ninguém aceita o estupro. Até entre bandidos o estupro é repudiado. Estupradores são torturados e mortos nas cadeias. Estupros são cometidos por uma ínfima parcela da população que atua nas sombras por saber que a sociedade não aceita esse tipo de crime.

São dois os pontos que a imprensa e que a maioria das pessoas evitam questionar: A correlação entre a educação que os jovens de periferia recebem nas escolas públicas com a delinquência juvenil; a campanha que governo e sociedade fazem para que as pessoas nunca reajam às agressões.

O primeiro ponto foi explorado no artigo anterior. Vamos ao segundo: Quando governo e sociedade se unem para defender a ideia de que as crianças não devem revidar o bullying que sofrem, que as pessoas não devem reagir a assaltos, que um cidadão não pode ter uma arma para defender sua família, seu negócio e sua própria vida, não deveria causar surpresa o fato de que algumas pessoas se sintam confortáveis para agredir, roubar, matar e estuprar outras pessoas.

Soma-se à cultura da passividade a cultura da impunidade que é sistematicamente defendida pela esquerda.

Ao cobrar que o estado não trate com rigor os adolescentes que roubam e matam, estão estimulando que adolescentes roubem e matem. Ao estimular o aborto, estão estimulando o sexo irresponsável. Ao estimular o sexo irresponsável, estão estimulando o estupro.

Enquanto a esquerda tenta aprovar leis que oferecem todo tipo de amparo aos criminosos, a direita tenta aprovar leis que punam com rigor os criminosos. Enquanto a esquerda luta contra agressões sexuais levantando cartazes, a direita diz que as mulheres devem reagir contra todos que lhes agridem.

A esquerda prega que o pobre é incapaz de cuidar de sua vida e que a mulher é incapaz de se defender. A esquerda prega uma sociedade de coitadinhos e coitadinhas.

A violência contra a mulher só acabará quando a cultura da passividade for substituída pela cultura da autodefesa, com as mulheres sendo ensinadas desde cedo a reagir a qualquer tipo de agressão. Primeiro, com os pais dando à suas filhas cursos de artes marciais e um conselho: Machuque quem tentar te agredir. Depois, dando a elas uma arma e outro conselho: Mate quem tentar te estuprar.

Don’t tread on me.

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