É óbvio que há muito oportunismo por parte dos críticos internacionais e nacionais, que incluem de Macron ao Papa, mas eis o ponto: a postura do governo (e do presidente) forneceu o pretexto de que necessitavam para essa campanha internacional. Bolsonaro deu o combustível que usaram para espalhar o incêndio político, e isso pode custar muito caro ao Brasil.
Negar a enorme mancha na imagem do nosso país perante o mundo é escolher a cegueira. Não importa tanto que seja com base em distorções ou mesmo mentiras, que ninguém esteja falando, por exemplo, das queimadas que já consumiram 700 mil hectares na Bolívia. Em política – e geopolítica – o que importa é mais a percepção do que a realidade.
Ou os bolsonaristas não entendem mais o que é guerra cultural? William Waack, com sua ampla experiência internacional, fez uma análise do estrago em nossa imagem, e afirmou que nunca viu algo dessa magnitude antes:
O presidente Bolsonaro, em vez de “lacrar” nas redes sociais, ridicularizar governantes de outros países e acusar sem provas as ONGs, deveria ser simples e objetivo, reconhecendo o problema das queimadas e tomando medidas concretas para resolve-lo. Mas não adianta, é da sua natureza: ele gosta é de “mitar” nas respostas. E com isso jogou lenha na fogueira, deu a senha que faltava para os oportunistas.
Foi o que concluiu Rogério Weneck em coluna no Estadão, alegando que os lobbies do protecionismo agrícola internacional festejaram a insensatez do governo brasileiro:
Constrangido e perplexo, o País vem acompanhando as agressões gratuitas do governo a autoridades ambientais da Noruega, da Alemanha e da França, agravadas por declarações sarcásticas e desairosas do presidente sobre a chanceler Angela Merkel.
[…]
Mundo afora, os lobbies do protecionismo agrícola nos países importadores de commodities agropecuárias brasileiras festejam a cada dia os desatinos da área ambiental do governo. A imprensa alemã já clama por sanções às exportações do Brasil.
Sobram razões para que o agronegócio esteja alarmado. Há muito em jogo. É preciso pôr fim à insensatez, conter os danos e, tão logo quanto possível, tentar restaurar a imagem do País no exterior. A dúvida é se o agronegócio acredita que a penosa restauração que se faz necessária poderá ser feita com Ricardo Salles à frente do ministério do Meio Ambiente.
Os adultos na sala querem produzir alimentos e sabem que precisam jogar de acordo com as regras internacionais, inclusive pagando pedágio ideológico para o movimento ambientalista, extremamente poderoso. São interesses pragmáticos de quem representa a locomotiva da economia nacional. Por outro lado, vemos os “revolucionários de Twitter” achando o máximo o futuro embaixador dos Estados Unidos, filho do presidente, chamando indiretamente o presidente francês de “idiota”. O que temos a ganhar com essa postura?
Bolsonaro quer replicar em tudo o estilo de Trump, mas precisa entender que são situações muito distintas. Trump pode falar grosso com o resto do mundo pois é o xerife e o cofre do mundo, e ONU e companhia dependem dos Estados Unidos. No caso do Brasil, somos nós que dependemos do resto do mundo. A tática do confronto do bolsonarismo pode nos custar caro.
Enquanto o mundo todo detona a postura do governo brasileiro na questão da Amazônia, por oportunismo ou não, o companheiro de Bolsonaro, Donald Trump, permanece em conveniente silêncio. Em geopolítica não dá para contar apenas com os “laços pessoais”, algo que o “homem cordial” brasileiro não costuma entender. O que vale são os interesses!
Eis que o pretexto da defesa da “soberania nacional” por conta da Amazônia voltou a unir olavetes, militares e até comunistas como Aldo Rebelo. Enquanto isso, os produtores rurais, que carregam nossa economia nas costas, perdem o sono sabendo que os “revolucionários de Twitter” estão no comando, apostando no confronto e no caos.
Quando as retaliações internacionais começarem a doer para valer no bolso dos ruralista, aí o governo será forçado a colocar para escanteio, em seus devidos lugares e na bolha da internet, esses incendiários jacobinos, que parecem desejar uma guerra. Ou isso, ou o governo pode perder o apoio da bancada ruralista, o que seria fatal para sua sobrevivência política…
Rodrigo Constantino
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