Há quase meio século, logo após a polêmica decisão Roe v Wade, que liberou o aborto, centenas de milhares de pessoas se reúnem todo ano na famosa Marcha Pela Vida. Mesmo sob o intenso frio de Washington, a marcha atrai multidões. Trata-se da maior manifestação americana, pacífica, e por uma causa que não afeta diretamente aqueles envolvidos, mas sim os bebês que ainda nem nasceram. Em 2019 ela se deu no dia 18 de janeiro, e uma vez mais foi sucesso de público.
A mídia prefere ou ignorar a marcha, ou dar-lhe um destaque bem tímido, ainda mais se comparado ao tipo de cobertura de outros eventos, como as marchas feministas. Quando jornalistas falam da marcha, normalmente o fazem com desdém e lançando mão de caricaturas, como se fosse um movimento predominantemente masculino, com velhos conservadores religiosos e alienados. Na verdade, a imensa maioria do público presente é jovem, e também feminino. Mas relatar isso vai contra a agenda da imprensa, alinhada ao feminismo radical.
Outra tática da mídia é a famosa “cortina de fumaça”. Para desviar a atenção do evento, faz-se necessário encontrar algum factoide qualquer para substituir as polêmicas debatidas na imprensa. E foi justamente o que fez a mídia mainstream. Um caso insignificante, que jamais mereceria destaque nacional, ganhou as manchetes dos principais jornais e canais de televisão americanos. E pior: de forma totalmente mentirosa, manipuladora, falsa.
O episódio ocorreu com alunos de uma escola católica do Kentucky. Vale ressaltar que estamos falando de adolescentes, com seus 16, 17 anos. No sábado, dia 19, um vídeo se tornou viral ao mostrar um grupo de alunos católicos supostamente confrontando um manifestante indígena. Um dos garotos aparece sorrindo na imagem, o suficiente para diversas acusações de insensibilidade e racismo por parte desses brancos cristãos.
Rapidamente a imprensa farejou a sua oportunidade. O nativo americano deu uma entrevista à CNN em que contou apenas mentiras, distorcendo tudo o que acontecera. O “jornalismo” da emissora comprou sua história sem qualquer crítica ou curiosidade para averiguar os fatos. Ironicamente, eles estavam disponíveis para quem quisesse conhecê-los. A versão integral do vídeo fora publicada na internet, e tem cerca de duas horas. Lá fica claro o que realmente se passou, e não foi nada parecido com a narrativa divulgada pela mídia.
Não houve qualquer agressão. O garoto que sorri na imagem estava tentando manter a calma e evitar justamente o acirramento dos ânimos. O manifestante indígena é que caminhou na direção dos alunos – que participavam de outro protesto pacífico e vinham sendo ofendidos pesadamente por um terceiro grupo – e começou a bater um tambor diante de seus rostos e acusá-los de exploradores, alegando que suas casas tinham sido construídas com o sangue de escravos. Havia com ele companheiros filmando tudo. Ou seja, o intuito era óbvio: provocar uma reação violenta e pegar tudo em vídeo.
Não foi possível. Os meninos católicos se mantiveram relativamente calmos, à exceção de um ou outro que gritou palavras de volta. O rapaz que mereceu os ataques mais nefastos nas redes sociais, e cuja família chegou a ser ameaçada de morte depois, tentava impedir o escalonamento da confusão. Ele e seu irmão mais velho publicaram textos na internet explicando o que aconteceu de fato, condenando a inquisição apressada das redes sociais, e realçando seus valores cristãos, rechaçando qualquer racismo.
O teor das escritas mostra que estamos diante de jovens decentes, não de líderes de uma nova KKK prontos para apedrejar minorias. Não obstante, esse foi justamente o tom das reações, incluindo lideranças democratas. Teve gente “progressista”, que prega a “tolerância”, promovendo uma campanha de linchamento dos alunos. E claro: Trump era o alvo verdadeiro, e foi mencionado por vários também. Todo o episódio ganhou uma proporção absurda, e a inversão dos fatos não incomodou a imprensa, mais preocupada em encaixar a coisa em sua narrativa ideológica. Um índio “agredido” por alunos brancos católicos é um prato apetitoso demais para se resistir…
Bastava ver o vídeo, porém, para derrubar as mentiras do manifestante nativo. Ele diz que foi impedido de avançar em direção ao Memorial Lincoln, e nas imagens está claro que nada disso aconteceu. Foi ele quem procurou a confusão, que partiu para ofensas, e a reação dos alunos foi até um tanto civilizada diante da provocação. Faz tempo que a mídia mainstream não liga mais para a verdade. Sua obsessão em atacar Trump e o que ele supostamente representa é maior do que qualquer compromisso com a ética jornalística.
Mas a estratégia funcionou, ao menos para o público que ainda consome “informação” nessas fontes. A Marcha Pela Vida, com quase meio milhão de pessoas, foi ignorada sem maiores constrangimentos, pois havia uma pauta mais “relevante”. A Marcha das Mulheres, com tom feminista radical e que não atrai nem a décima parte da manifestação contra o aborto, também foi destacada para abafar o grito conservador, e sem mostrar o claro viés antissemita que tomou conta dela, com a presença de muçulmanas extremistas.
Recentemente, o fato de a esposa do vice-presidente Mike Pence ter aceitado dar aulas numa escola cristã também mereceu a atenção da mídia, com duras críticas. Pence foi uma das estrelas na Marcha Pela Vida, entrevistado ao vivo por Ben Shapiro. Karen Pence foi a vida inteira dedicada a essa causa, estudou em escola cristã, o casal professa abertamente a fé cristã, mas pelo visto tudo isso é novidade e motivo de espanto para os jornalistas.
O destaque foi o fato de que a escola não encoraja ou aceita professores e alunos assumidamente homossexuais. As manchetes todas chamavam a atenção para esse fato: “mulher de Pence vai dar aula em escola que veta comunidade LGBT”. Mascarar o preconceito ao cristianismo, a intolerância para com a fé cristã, com o discurso de luta pela inclusão e tolerância foi uma jogada canalha da turma, mas é o que sempre vemos.
O que se espera de uma escola cristã, comprometida com os valores e crenças do cristianismo, é justamente isso: que tais valores sejam transmitidos com rigor naquele ambiente particular. Se nem isso é permitido mais, se a “segunda-dama” dos Estados Unidos é vítima de ataques nefastos só porque é cristã e age como tal, então estamos muito perto de o cristianismo ser banido pelo “Estado laico”. É o desejo inconfesso dessa gente que quer mudar essencialmente a religião mais importante do Ocidente.
Diante de tudo isso, cabe perguntar: até onde vai a podridão ideológica da mídia?
Artigo originalmente publicado na Gazeta impressa