Por Roberto Rachewsky, publicado pelo Instituto Liberal
Os Estados Unidos da América tinham um diferencial como nação que com o tempo foi perdendo vitalidade, o individualismo. Representava a base moral para a construção de uma sociedade vigorosa, não pela união das partes, mas pelo fortalecimento de cada membro que constitui aquela comunidade, através da defesa rigorosa dos direitos individuais, reconhecidos como inalienáveis e indissociáveis do homem que os possui incondicionalmente, enquanto aceita e respeita que os demais seres humanos como ele, também os possuem.
Não há contrato social firmado entre os indivíduos que participam da sociedade americana, como deveria ser nas demais sociedades. Há, para aqueles que usam o que diferencia os seres humanos dos demais seres vivos, a faculdade do uso da razão, amparados pelo que a realidade nos coloca e a lógica valida, a compreensão e a aceitação tácita que temos na vida, na liberdade e na propriedade os valores que permitirão a cada um de nós existir de forma independente e autossustentada para que se possa satisfazer os propósitos que escolhemos alcançar para atingirmos a felicidade que dará sentido a nossa vida, enquanto obviamente ela existir.
O misticismo, o altruísmo e o coletivismo que temos visto sendo defendidos nas suas diversas formas, inclusive na grande nação americana, vem corrompendo a moral que deu sustentação à política lá praticada até fins do século XIX. Ainda e forte o apelo e a defesa das ideias originais fornecidas pelo Iluminismo que percorreu a Europa, principalmente a partir da Holanda, da Inglaterra e da Escócia e de alguma maneira com pensadores franceses e de outros países europeus que se posicionaram a favor do indivíduo e da razão contra o estatismo coletivista, a força e a fé.
Passados séculos, vemos que essa batalha entre o coletivismo autofágico e o individualismo redentor segue vívida perturbando a longa caminhada da humanidade em busca da prosperidade, só possível a partir do uso da razão, da ética do auto interesse e da política capitalista, única moralmente compatível com a natureza humana.
Não é preciso assinarmos um contrato social para aquilo que é auto evidente, axiomático, fundamental para o entendimento do porquê vivemos em sociedade e de como devemos nos comportar nessa experiência existencial.
A cooperação entre indivíduos, movida pelo auto interesse racional, fundada nos direitos individuais protegidos por um governo limitado a esse fim, produz os valores materiais, intelectuais e espirituais que qualquer homem livre ou não permite-se sonhar.
Comentário do blog: Como autor do livro Egoísmo Racional: O Individualismo de Ayn Rand, entendo perfeitamente o ponto de vista Objetivista do autor. Mas hoje confesso ter mais receio quanto a esse diagnóstico. Sem dúvida a América foi construída sobre a ideia do individualismo, das liberdades individuais, da razão, contra os diferentes tipos de coletivismo tribal. Mas não só isso. Não seguiu a linha do Iluminismo francês racionalista, mas a britânica/escocesa com mais apreço pelas tradições. Todos os presidentes eram protestantes, à exceção de JFK, que era católico. O DNA dos WASP é evidente na formação da América. É preciso tomar cuidado, portanto, para que essa visão racionalista não se torne anti-religiosa, ou acima de tudo anti-cristã. Não foi apenas o auto interesse que moldou essa grande nação, mas também a noção de sacrifício em prol do conjunto da obra, do todo, o espírito cívico, sem descambar para um coletivismo que transforma cada indivíduo em simples meio sacrificável. Quantos homens fardados não deram a vida pela liberdade, movidos por patriotismo? A América é, afinal, uma interessante mistura de individualismo e patriotismo, de razão e fé. E é isso que a torna tão excepcional, em minha opinião.
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