Reproduzi hoje trechos do artigo do general Rômulo Bini, publicado no Estadão, como contraponto ao que disse o comandante do Exército sobre aqueles que clamam por “intervenção militar”, que seriam uns “malucos”. Foi minha publicação de maior audiência no dia, o que demonstra como o tema é sensível. Cada vez mais gente começa a considerar que uma atuação dos militares para impor ordem e impedir a bagunça que reina em nossa política não seria nada absurdo.
Discordo dessa solução, mas consigo entender o desespero. Diante da maior depressão já criada pelo governo, no caso o petista, e da total falta de credibilidade daqueles que precisam arrumar a casa, mas estão enrolados até o pescoço com a Lava Jato, o povo se sente refém dos corruptos e impotente. Não acho que esgotamos as vias de mudança de dentro do próprio sistema, por mais carcomido que esteja. Mas acho legítimo fazer coro ao alerta do general.
Eu mesmo tenho feito tal alerta há anos, repetido em vários artigos que, se as elites políticas não tiverem a exata noção do que está em jogo, poderão acabar alimentando o monstro que colocará a democracia toda em xeque. Estão, em suma, brincando com fogo. E nada ilustra melhor isso do que as recentes decisões do governo fluminense, que optou pelo aumento de impostos após ter falido o estado. Foi tema da coluna de Carlos Alberto Sardenberg hoje no GLOBO:
Tarde bonita, fim de expediente, você se acomoda numa mesa de frente para o mar de Copacabana e pede um chope. Pronto, você está colaborando para financiar as joias do Sérgio Cabral. E, a partir de março, vai dar uma colaboração extra, pois a Assembleia Legislativa do Rio aprovou um aumento do ICMS sobre cerveja e chope.
Simples assim. Parte do rombo nas contas do governo fluminense vem da corrupção. O faturamento extra de uma obra — para financiar a propina — é custo, despesa adicional, gasto que virou dívida. Ao aumentar impostos para tapar os rombos, o governo do Rio e a Alerj estão mandando para o contribuinte a conta que inclui a roubalheira.
[…]
Está em curso uma mudança cultural na administração pública. Envolve também as pessoas, os cidadãos acostumados a demandar tudo do governo. Não vai ser fácil. Temos visto manifestações contra o teto de gastos, portanto, por mais gastos, e contra o aumento de impostos.
Ou muda isso, ou vamos ter que tomar mais uns chopinhos para ajudar o pessoal.
Eis o ponto: o clima está mesmo mudando, e as pessoas estão mais informadas, graças às redes sociais, e menos tolerantes com os abusos do poder. Ninguém aguenta mais imposto! Essa definitivamente não é a saída. Se os políticos optarem por esse caminho mais fácil, para evitar o confronto com os grupos organizados das minorias privilegiadas pelo estado, vão acabar fomentando uma revolta muito maior por parte da maioria silenciosa. E aí o bicho vai pegar, pois essa turba não vai aceitar mais simplesmente afogar as mágoas da crise com uma cervejinha – mais cara.
O jornalista Roberto Dias, da Folha, também escreveu sobre o assunto hoje, afirmando que os políticos que aí estão não têm moral alguma para propor aumento de impostos, e alertando para os perigos revolucionários dessas medidas:
Em depoimentos formais, dezenas de executivos de algumas das maiores empresas do Brasil estão afirmando que um número significativo de pessoas eleitas para cargos públicos utilizaram caminhos que, no fim das contas, desviaram dinheiro dos contribuintes para o bolso delas e de seus partidos.
Que moral têm essas pessoas eleitas para exigir que a sociedade repasse mais dinheiro para o controle delas neste momento? A volta do zum-zum-zum de aumento de impostos é um acinte por si só.
Em alguns lugares do país, a facada tributária não é apenas conversa. O Rio de Janeiro acaba de elevar alíquotas de ICMS, e outros Estados estão no mesmo caminho. No caso do Rio, a previsão é que o pacote aumente a receita em R$ 800 milhões no ano que vem —só para comparar, apenas o ex-governador Sérgio Cabral está sendo acusado de desviar mais do que um quarto desse valor.
Na esfera federal, o Congresso com maior avaliação negativa já registrada pelo Datafolha se ocupa de mudanças necessárias que envolvem corte de gastos, como a PEC do Teto, e enfrentamento de privilégios, caso da Previdência. Mas essa estrutura carcomida pelas suspeitas não tem estatura para pedir que os cidadãos joguem mais dinheiro numa máquina cheia de furos.
A história está cheia de exemplos de líderes políticos que deram um passo em falso ao achar que havia condição de tomar mais dinheiro da sociedade —a Revolução Francesa é o mais notório deles. A indignação pode ter lá seu efeito anestésico, mas a anestesia uma hora passa.
O ambiente intelectual no Brasil está contaminado pela revolta, pela indignação, pelo sofrimento pesado com a crise ao mesmo tempo em que mais e mais escândalos de corrupção vêm à tona, além de esquemas absurdos de uso de privilégios estatais para beneficiar uma minoria organizada. Até quando o povo vai aceitar isso passivamente? Até quando?
Até aqui, o monopólio da violência tem ficado, para não variar, com a esquerda. Os black blocs, os “estudantes”, os sindicalistas que vão “protestar” contra a PEC do Teto, contra o corte dos gastos, contra o fim de alguns privilégios, são esses que quebram tudo, jogam rojões, invadem, depredam.
Não é da índole da população brasileira seguir tais rotas vermelhas. Tanto que as manifestações dos patriotas costumam acabar em samba e cantoria. Mas há um limite para o “pacato cidadão” para quem tudo é festa. E justamente por isso mais e mais gente, cansada, sem esperanças, pede a tal “intervenção militar”. Seria um grito de desespero de quem não vê mais saída pacífica alguma para a situação calamitosa em que o país se encontra.
Ou as lideranças políticas entendem o recado e confrontam os grupos organizados e privilegiados, ou pode ser que a classe média trabalhadora, tão odiada por essa elite esquerdista, realmente saia do controle de vez. Aumento de imposto, não! É corte nos gastos públicos, apenas isso que pode ser feito. Ou corremos mesmo o risco de uma revolução, ou então uma intervenção para impedir uma revolução…
Rodrigo Constantino
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