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Belicismo ou realismo? Ou: O que Orwell tem a ensinar sobre o pacifismo de Gandhi?

A estratégia mais utilizada pelos “progressistas” nos debates é tentar monopolizar os fins nobres e rotular seus adversários com base em suas supostas intenções malignas. Assim, a esquerda quer mais controle sobre a venda de armas ou mesmo bani-la porque se preocupa com as vítimas de crimes, enquanto os conservadores defendem a Segunda Emenda porque são “belicistas”.

Foi exatamente o tom do pequeno editorial do GLOBO em uma reportagem sobre o CPAC, o principal evento da direita conservadora no mundo, que reúne mais de 10 mil pessoas em Washington nesses dias. A imagem que o jornal tentou transmitir foi uma de reunião de malucos, de uma seita de “extrema-direita” que adora armas e poluição, e odeia mulheres e gays. E eis o pequeno editorial:

Mas vamos parar para pensar um pouco sobre o que está sendo dito em tão poucas palavras. Em primeiro lugar, há um esforço em ridicularizar a postura de Trump, que tem sido até bem moderada nesse caso. Após ele ouvir “relatos dramáticos” dos sobreviventes, ou de parte deles (os que não batiam com o script foram ignorados pela mídia), ele defendeu que professores armados seriam a solução.

Ele não defendeu exatamente isso, mas disse que se uma pequena parte do staff fosse treinada para poder portar armas nas escolas, desgraças como essa poderiam ser evitadas. E está errado? E o mundo não ficou revoltado com a notícia de que havia um policial armado na escola, mas que ele se recusou a agir, a se arriscar para defender as crianças?

Ora, se ficamos indignados com um oficial que estava armado no local e nada fez, qual seria a diferença de ter outros com o mesmo treinamento portando uma arma? Não aumentaria as chances de alguém com coragem enfrentar o maluco assassino? Se o coach de futebol o fez sem arma, não haveria uma possibilidade de vitória bem maior caso ele tivesse uma pistola? Talvez Nikolas Cruz não tivesse matado 17 pessoas. Qual o grande absurdo de defender pessoas preparadas com armas em escolas?

Essa pergunta nos remete ao segundo ponto importante: o jornal parece acreditar que é uma loucura pensar em colocar os alunos “em meio ao fogo cruzado”. Mas caramba! A alternativa é ter os tiros saindo em uma só direção: naquela dos alunos! Nenhum tiro disparado contra o assassino, que teria toda a tranquilidade do mundo para alvejar os demais. Desde quando “fogo cruzado” é uma opção pior do que “massacre pacífico”?

Imaginem a mesma lógica nas favelas: a polícia não mais entraria com fuzis para evitar o risco de “fogo cruzado” e “balas perdidas”. Qual seria o resultado? Fácil: somente policiais mortos, como alvos fáceis dos bandidos armados, como patinhos sentados aguardando o disparo.

Por fim, o editorial trata os defensores da alternativa conservadora endossada por Trump como idiotas irracionais, que querem combater o perigo das armas com mais armas. Mas o perigo não é exatamente “das armas”, e sim dos malucos e marginais que usam armas para seus crimes e atentados! E contra esse perigo, claro que armas podem ser parte da solução: somente elas podem parar esses loucos armados.

“Olho por olho e a humanidade acabará cega”, disse o pacifista Gandhi. Mas sempre lembro da análise de George Orwell sobre o indiano: sua postura romântica é inócua quando do outro lado tem bandidos ou ditadores. Perguntem aos tibetanos. “O jeito mais rápido de encerrar uma guerra é perde-la”, disse Orwell. A alternativa à frase de Gandhi é essa: olho por nada e uma parte da humanidade acabará cega; a parte desarmada e pacífica.

Ou alguém acha que a melhor forma de enfrentar o maluco armado era com um buquê de flores?

PS: Talvez uma imagem possa ajudar, já que os assassinos podem ser malucos, mas não são necessariamente burros:

Rodrigo Constantino

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