O meu “querido” Rio de Janeiro cansa. Como cansa! Capital nacional da esquerda caviar, ícone da “malandragem” que assola nosso país, o Rio é uma espécie de Brasil ampliado. Se o “jeitinho” é uma mazela nacional, no Rio ele existe em dobro. Se a violência é um problema no país todo, no Rio ela vive dentro dos bairros mais nobres, em favelas dominadas pelo tráfico bem ao lado do metro quadrado mais caro do país. Se o petrolão e a Petrobras causam danos graves ao Brasil, no Rio isso significa a falência total.
E é nesse ambiente desesperançoso que o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, mostra-se também abatido, cansado. Segundo reportagem do GLOBO, ele estaria quase desistindo de seu trabalho, sem o tradicional otimismo que demonstrava antes, apático:
A falta de perspectivas para planejar a política de segurança no ano das Olimpíadas, em decorrência da crise financeira do estado, motivou o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, a fazer um desabafo: “Já pensei várias vezes em largar o cargo”. Embora tenha dito que ainda pode dar sua contribuição, Beltrame, sem o otimismo que virou sua marca registrada ao longo dos nove anos na pasta, afirmou nesta terça-feira que, como administrador, fica angustiado por não ter o que fazer, pois não há dinheiro nos cofres do estado. O orçamento inicial da pasta, que inclui as polícias Militar e Civil, além do Instituto de Segurança Pública, era de R$ 11,6 bilhões no início do ano. No entanto, por causa do contingenciamento imposto pela Secretaria de Fazenda, o valor caiu para R$ 7,88 bilhões.
— A gente vê o estado numa situação de miserabilidade, a ponto de os salários dos servidores, principalmente inativos, não serem pagos. Programas de metas de incentivo aos policiais e o Regime Adicional de Serviço (RAS) foram por água abaixo (no mês passado, o governo do estado pagou os atrasados de novembro). Vejo as aeronaves e os carros blindados, que a polícia foi buscar lá fora, parados. É uma situação complicadíssima, que, sem dúvida, compromete o trabalho da segurança pública — afirmou.
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— Acho que ainda há muita coisa a ser feita pelo Rio. Graças à Comissão de Segurança da Alerj, o projeto das UPPs é o único que ainda não parou. Mas, se a gente não tiver um estado estruturado economicamente, não há política pública que se sustente — disse ele. — Eu tenho fôlego para fazer os projetos que me comprometi a executar. Obviamente que, na medida em que não consigo concluí-los, sem dúvida alguma não preciso ficar aqui.
As UPPs animaram muita gente, era algo novo, diferente, ainda que merecessem as críticas que receberam de alguns formadores de opinião, como Reinaldo Azevedo, que a chamava de “política de espanta ladrão”. Mas havia uma estratégia para quem não desejava lançar o Rio numa guerra civil completa. Primeiro, dominar o território. Depois, resgatar o lado social nessas favelas. Só que tudo isso parece ameaçado agora. Uma gestão temerária, dependente demais do petróleo, inspirada em seu aliado no governo federal, irresponsável, populista, acabou quebrando o estado.
“Ele está num estado de depressão enorme. Viveu a glória de ter enfrentado, de forma criativa, o domínio territorial do tráfico. Devemos isso a ele. Beltrame sempre foi bem disposto, com respostas diretas. Hoje, está apático”, comentou Carlos Minc. Sua apatia é o retrato de um Rio de Janeiro apático, dominado pelo crime, tomado por bandidos que acabam defendidos pela elite da esquerda caviar, como se fossem “vítimas da sociedade”.
Uma ciclovia que cai três meses após sua inauguração, matando duas pessoas, eis outro retrato da “cidade maravilhosa”. É tudo muito esculhambado, muito desorganizado, feito nas coxas. A impunidade impera, a ideologia retrógrada de esquerda campeia. Os “intelectuais”, artistas engajados e servidores públicos em busca de privilégios pululam. Sindicalistas oportunistas estão por todo lugar. É “malandro” demais para otário de menos.
Eis a tese que defendo e desenvolvo em meu novo livro, Brasileiro é otário? – O alto custo da nossa malandragem, pela editora Record, que deve ser lançado nos próximos meses. O fenômeno é nacional, claro, mas o caso do Rio é pior, e uso como base, inclusive comparando num capítulo com a América, onde vivo há um ano. É covardia. E o principal empecilho ao nosso progresso é a mentalidade, a cultura do brasileiro em geral.
Beltrame tentou remar contra essa maré e fazer um trabalho sério, ao que tudo indica. Não conseguiu grandes resultados. Mas não podemos desistir. Não podemos entregar o Rio ao PSOL da vida, o que seria o caos total, a barbárie. As pessoas de bem precisam lutar. Sei que tudo isso cansa muito. Mas a alternativa é ver o Rio todo virar uma grande favela. Os “intelectuais” e artistas, nesse caso, não achariam tanta graça, vendo seus luxuosos apartamentos no Leblon e Ipanema despencando de valor.
Eles costumam enaltecer as “comunidades pobres” de longe, e justificam a bandidagem e cospem na polícia até um bandido aparecer em suas vidas, quando torcem para um policial estar por perto. Pura hipocrisia. Nem todos podem ir para Paris como Chico Buarque ou Zé de Abreu. Por isso mesmo é preciso enfrentar o problema com coragem e realismo. Não é fácil manter a esperança. Mas o fatalismo em nada ajuda. Se acharmos que o Rio (e o Brasil) jamais terá jeito, aí que ele não terá mesmo.
Força, Beltrame! E que outras pessoas sérias e com determinação de combater o câncer da impunidade e da “malandragem” surjam na vida pública e também na iniciativa privada. Foram empresários unidos que conseguiram, em parceria com o governo, melhorar a situação no Espírito Santo, longe ainda do ideal, mas melhor do que o caos de antes. O Rio está um caos. Eu sei, pois estive quase abril todo lá, e minha família e amigos vivem na “cidade maravilhosa”.
O Rio tem vocação para o fracasso “charmoso”. Mas não precisamos aceitar isso como um destino inexorável. O que precisa mudar é a mentalidade, a cultura, a atitude!
Rodrigo Constantino