O lamentável episódio envolvendo Eduardo Bolsonaro e Alexandre Borges, no qual o deputado usou uma imagem postada em perfil privado e fechado para difamar um “ex”-aliado e importante defensor da direita no Brasil, serviu para separar o joio do trigo na direita nacional. Infelizmente, há uma turma radical e revoltada (com razão) que adota uma postura tribal similar à da esquerda, de “nós contra eles”, e basta desviar uma vírgula da cartilha para se tornar inimigo. Não beija a mão do “mito”? Então não serve!
Tal intransigência pode ser útil para formar um exército de soldados numa guerra, mas não é muito saudável para criar uma nova direita no país, com alicerces intelectuais e com sólidos valores morais, além de preparada para debates construtivos. Os fins nobres não justificam quaisquer meios. Marcelo de Paulos escreveu uma dura crítica ao deputado e seus seguidores mais fanáticos. Eis um trecho, no qual sou inclusive mencionado:
Pausa para reflexão: estamos falando de um mandatário de uma das mais altas casas legislativas do país ferindo a privacidade de um cidadão comum para conduzir um “assassinato de reputação” com o intuito de marcar alguns pontos políticos.
Poucos minutos depois da publicação, um enxame dos fiéis seguidores dos Bolsonaro populava o post, elevando a retórica a acusações pessoais, ofensas e até ameaças. Pelo menos um assessor parlamentar do deputado foi visto “tretando” na tarde de quarta-feira, dia útil na Câmara, provavelmente a soldo do contribuinte.
A causa declarada de tamanha fúria é João Dória ser visto por uma facção da direita (na qual os Bolsonaros prosperam) como o símbolo máximo do socialismo fabiano, a esquerda insidiosa que atrapalharia o avanço de uma direita verdadeira. Para essa turma, não hostilizar o “alto tucanato” é o mesmo que apoiá-lo. Posar para uma fotografia, então, deve equivaler a crime de lesa-majestade.
A causa real é que Dória representa uma ameaça eleitoral a Jair Bolsonaro, especialmente no cenário de disputa por um eventual segundo turno contra Lula. Demonizá-lo é questão de sobrevivência para as pretensões políticas dos Bolsonaro, que parecem sinceramente acreditar na viabilidade da candidatura de Jair.
No entanto, para decepção do parlamentar, dezenas de pessoas vieram a público para apresentar seu apoio ao comentarista. Rodrigo Constantino publicou um bom resumo desses apoios. Dia afora, emergiram fotos de Jair e Eduardo Bolsonaro posando ou fazendo campanha ao lado de personalidades que eles mesmos consideram eminências pardas do socialismo Fabiano (principalmente políticos do PSDB e membros do MBL), expondo a hipocrisia do ataque.
Mas, enquanto alguns “conservadores” apelam para o “vale tudo” da política, os verdadeiros conservadores, aqueles que tentam criar uma cultura conservadora de boa estirpe no país, seguem na luta, com debates, artigos e ativismo, sempre calcados nas boas ideias e nos bons argumentos. É o caso de Bene Barbosa, o herói da causa armamentista, aquele que vem defendendo praticamente sozinho o direito básico de o cidadão ter ou portar uma arma de fogo.
Bene Barbosa terá um debate hoje justamente com ele, o prefeito João Dória, a quem tem feito duras críticas por sua defesa do desarmamento civil. Vai tentar mostrar ao prefeito o caminho certo não só para preservar as liberdades individuais como para proteger a população. Eis o convite para o evento:
Dória não é um socialista “fabiano” (termo que inúmeros “conservadores” descobriram “ontem”, desconfio), tampouco um “cavalo de Troia” tucano plantado deliberadamente para impedir a derrota do socialismo no Brasil. Essa tese é simplesmente ridícula e absurda.
Dória é um empresário de sucesso que, como a maioria no país, não possui uma sólida bagagem ideológica. Identifica-se com certos valores liberais por puro pragmatismo e experiência, não por profunda leitura (o que, convenhamos, também não é o caso de Jair Bolsonaro, que nunca deve ter lido os principais autores conservadores).
E, por personalidade, demonstra ter mais testosterona do que a maioria dos tucanos. Por isso tem avançado dentro do partido e, por pressão externa, sido constantemente considerado para a candidatura em 2018. Mas isso, reparem, é apesar do PSDB, não por causa dele. Dória está enfrentando os caciques de seu partido, não sendo alçado por eles numa mirabolante estratégia das “tesouras”. Seus maiores obstáculos estão no próprio PSDB, em FHC, Serra e Alckmin.
Tentar trazer Dória mais para a direita, portanto, é a estratégia mais natural e óbvia de qualquer conservador realmente preocupado com o Brasil, já que ele tem evidentes chances em 2018, se for candidato. Ninguém diz que Dória já é de direita, nem ele mesmo. Mas ele tem bom senso, bons assessores liberais, e pode muito bem “vir para o lado bom da força”, ainda que parcialmente. Fechar-se a essa possibilidade para considerar que somente o “mito” representa a direita (o que nem é o caso), seria burrice, ou cálculo político que só interessa aos próprios Bolsonaros.
Nós, que lutamos acima da política, que olhamos para a política como reflexo das ideias disseminadas e da mentalidade reinante no país, não podemos agir de forma tão mesquinha e limitada. Seria um tiro no pé. E por isso que Bene Barbosa aceitou participar de um debate com Dória, justamente para tentar convencê-lo de que a política desarmamentista é um enorme equívoco.
Mas, para alguns “bolsominions”, Bene Barbosa, como Alexandre Borges antes, já virou um “doriana”, só por aceitar debater com o terrível, maquiavélico, monstruoso socialista em pele de empresário liberal. Assim não dá, gente. Menos, bem menos…
Rodrigo Constantino
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