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O apresentador Bill O’Reilly, do O’Reilly Factor, programa líder de audiência há 15 anos no horário de pico da emissora, está fora da Fox News. O comunicado da empresa diz de forma seca:

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“After a thorough and careful review of the allegations, the Company and Bill O’Reilly have agreed that Bill O’Reilly will not be returning to the Fox News Channel.”

As tais alegações são de assédio sexual. O NYT reportou acordo com pelo menos cinco mulheres, no montante de $ 13 milhões. Houve uma debandada de anunciantes, o que colocou forte pressão na emissora, cujo ex-CEO e braço-direito de Rupert Murdoch também saiu recentemente por escândalos da mesma natureza.

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O’Reilly nega as acusações, e diz que só fechou acordo para poupar seus filhos de mais exposição e estresse. Seu programa atrai cerca de 4 milhões de telespectadores por dia, e como um deles posso atestar a qualidade das entrevistas e das opiniões embasadas do apresentador, sempre firme na hora de cobrar dos outros coerência.

É lamentável, portanto, que o próprio Bill esteja nessa situação agora. Se as acusações forem verdadeiras, ele merece pagar caro por isso. O sucesso e o poder podem subir à cabeça mesmo, e é uma das premissas do conservadorismo que o homem é um ser imperfeito, sujeito a cair em tentações e errar.

Uma das grandes diferenças entre a esquerda e a direita é justamente essa: há hipócritas em ambos os lados, mas quando um esquerdista adota postura hipócrita, normalmente é para favorecer seus parentes, não o contrário. Ou seja: um típico ícone da esquerda caviar prega o socialismo, a saúde e a educação públicas, a libertinagem, mas se for um hipócrita, melhor para seus filhos, pois isso quer dizer que viverão sob o capitalismo e terão acesso às melhores escolas e hospitais particulares, além de uma formação mais rigorosa. Mas quando um conservador é hipócrita, é para prejudicar seus familiares, como no caso de traições amorosas. Isso diz muito sobre quem tem os melhores valores, não necessariamente quem os segue na prática…

Com um salário de $20 milhões por ano, fora a venda de livros que quase sempre entram na lista dos mais vendidos, dinheiro não será um problema para o desempregado Bill. Mas sua imagem sai bastante arranhada disso tudo (o que não muda uma só vírgula das verdades políticas que ele defendia). Há que se dar o benefício da dúvida a ele, claro. E de fato existem indícios de que o Media Matters, de esquerda, estaria por trás da enxurrada de cancelamentos de publicidade. Glenn Beck teve acesso a um email que levanta suspeitas de uma ação orquestrada pelo site “progressista”:

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Ainda que tenha sido uma campanha difamatória orquestrada, isso não muda o fato de que pairam suspeitas sobre o apresentador. E se elas forem verdadeiras, isso é muito grave e depõe contra sua pessoa. Mas liberais e conservadores não devem ter gurus ou proteger seus aliados, e sim seus valores e princípios. Não podemos adotar um duplo padrão moral, que cobra dos outros aquilo que não cobramos dos nossos. Essa atitude costuma ser mais comum justamente na esquerda, que não tende a julgar o ato em si, e sim quem o praticou.

Bill O’Reilly pode ser uma decepção como pessoa se tudo for verdade, mas isso em nada muda seu talento como apresentador, entrevistador e divulgador das boas ideias conservadoras. Seu programa era um marco da televisão e deixará saudades. Dana Perino tem substituído Bill temporariamente, mas não tem a mesma pegada. Eric Bolling já substituía às vezes o apresentador, mas sem o mesmo brilho também. O público perde, mas a moralidade deve estar acima disso.

E sem dúvida outros nomes virão, como o de Tucker Carlson, que já tem feito um grande sucesso no programa novo que foi criado no horário das 9 p.m., logo após o O’Reilly Factor. Mantendo-se fiel aos valores, e não aos humanos imperfeitos, o conservadorismo pode sobreviver a esses tropeços. Eles são inevitáveis quando lembramos que somos todos humanos, demasiado humanos…

Rodrigo Constantino