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BNDES: o banco de fomento da Odebrecht (e de Angola e Cuba)
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Sob pressão, o BNDES resolveu se antecipar e divulgar algumas informações sobre seus financiamentos externos. O banco fala, agora, em transparência, mas o que veio à tona demonstra a importância de se investigar mais a fundo as decisões tomadas pela instituição comandada por Luciano Coutinho. Afinal, não seria exagero algum se o BNDES fosse descrito, a partir de hoje, como o banco de fomento da Odebrecht.

Das 539 operações divulgadas pelo banco, nada menos do que 411 foram para a Odebrecht, ou seja, mais de 76% do total. Em termos de volume financeiro, dos quase US$ 12 bilhões emprestados, mais de US$ 7 bilhões foram para os cofres do grupo de origem baiana. Isso dá mais de 60% do total. Em outras palavras: o foco externo do BNDES passava, necessariamente, pelas obras da Odebrecht. E a maioria em Angola, país insignificante em termos comerciais para o Brasil, mas que levou quase 30% do total dos financiamentos (Cuba, outro país minúsculo e miserável, levou mais de 7% do total). Critério estritamente econômico?

A taxa média de juros cobrada do grupo ficou em 5% ao ano, com um prazo médio de 10 anos. Ora, o governo brasileiro não consegue se financiar a esta taxa no exterior! Toda a torcida do Flamengo e do Corinthians gostaria de um subsídio desses, o que anula praticamente a necessidade de ser eficiente na execução das obras para ter rentabilidade. É um maná dos céus, ou, para ser mais preciso, dos cofres públicos.

Como já acusei aqui diversas vezes, o BNDES sob o PT se transformou num enorme instrumento de transferência de riqueza dos mais pobres para os mais ricos, tudo, não custa lembrar, gerido por um governo de esquerda, que sempre coloca, ao menos no discurso, seu foco nos mais pobres. O trabalhador José, a doméstica Maria, cada um de nós ralou boa parte do ano para permitir que Marcelo Odebrecht ficasse ainda mais bilionário, em contratos com regimes ditatoriais aliados do PT. Parece roteiro de filme do 007!

Os demais grupos favorecidos também são construtoras grandes, mas a proporção da Odebrecht no total chama a atenção de qualquer um, até de um cego. O que há por trás disso? Luciano Coutinho gosta dos lindos olhos de Marcelo Odebrecht? A equipe técnica do BNDES avaliou cada operação com total isenção e concluiu que as obras da Odebrecht eram, de longe, as melhores? Qual o critério utilizado?

Eis a pergunta que não quer calar. Os brasileiros têm o direito de saber. Ao tomar a dianteira e divulgar esses dados, o BNDES tentou acalmar aqueles que demandavam maior transparência e pressionavam por investigações do TCU e até mesmo uma CPI. Talvez o tiro tenha saído pela culatra. O que veio a público é impressionante: uma só empresa nacional levar quase 70% de todo financiamento é algo sem precedentes.

Coutinho é o homem por trás da “seleção dos campeões nacionais”. O mesmo que, na década de 1980, defendia a Lei da Informática e a Cobra, fabricante nacional de tecnologia. Pelo visto, Coutinho tem muito apreço e carinho pela Odebrecht. Lula também. Mas esse “capitalismo de estado”, defendido por nossa esquerda nacionalista e estatizante, não funciona. Além de ineficiente, tende a fomentar muita corrupção.

O BNDES precisa ser investigado, e isso agora é uma urgência. As autoridades responsáveis precisam mergulhar em cada contrato, esmiuçar cada página e linha de rodapé do departamento jurídico do banco, para ver se encontram alguma pista concreta do que pode explicar uma preferência tão gritante. Talvez seja tudo legal, claro. Não são amadores. Mas mesmo se for tudo legal, com certeza é completamente imoral!

Rodrigo Constantino

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