O deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) elogiou nesta quarta-feira, 25, o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) e disse que os dois têm “muito em comum”. Os dois se colocam como pré-candidatos e podem disputar a Presidência da República no próximo ano. A declaração foi dada em entrevista a uma rádio cearense.
“No Ceará tem um ex-governador que me critica e fala que não concorda nada de mim”, disse Bolsonaro. “Temos muitas coisas em comum. Nossa defesa é pelo Brasil, mas pecamos às vezes pelas palavras que dizemos. Ele uma vez perdeu a eleição presidencial porque falou que a missão mais importante da mulher era dormir com o marido. Qualquer palavra nossa, que somos pré-candidatos, o mundo cai em nossa cabeça”, afirmou Bolsonaro à Rádio Assunção.
Na semana passada, Ciro foi criticado por ser machista ao dizer que o “momento é de testosterona”, comentando a possível candidatura de Marina Silva (Rede). Em 2002, quando se lançou à Presidência, o ex-governador cometeu uma gafe ao dizer que sua então mulher, Patrícia Pillar, tinha “um dos papeis mais importantes” na campanha, que era “dormir” com ele.
Ciro já chegou a dizer que Bolsonaro era “mais íntegro” do que tucanos e, na terça-feira, 24, afirmou que os votos do deputado devem migrar para ele em 2018.
A troca de afagos entre ambos é um golpe de esperteza do “coroné nordestino” e um tiro no pé do capitão. Ciro, malandro que é, está de olho nos votos dos “bolsominions”, e sabe que se reconhecer certas semelhanças pode conquistar alguns desses eleitores mesmo, que buscam um perfil de “paizão macho” que vai resolver tudo no grito, consertar o Brasil na marra.
Mas o contrário não é verdadeiro: eleitores de Ciro não vão migrar para Bolsonaro. Ciro é e sempre foi de esquerda, tendo sido do governo petista, se aproximado dos sindicatos. Depois de várias trocas de partido, Ciro está no PDT de Brizola, de onde saiu Dilma também. Ciro é o establishment que Bolsonaro quer atacar!
Carlos Andreazza fez uma breve análise do grande equívoco do deputado:
Tenho nada com isso, e não importa – para a análise político-eleitoral – que sejam mesmo parecidos: mas Bolsonaro vai caindo na armadilha de Ciro antes do que eu imaginava.
Estou sem tempo para comentar detidamente agora, mas pergunto: qual a finalidade de uma declaração como esta se é altamente improvável que um – um mísero – eleitor de Ciro migre para ele?
Terá já Bolsonaro pensando, porém, no sentido oposto dessa migração?
Ciro, sim.
De resto, as chances de Bolsonaro passam pela afirmação (e reafirmação) de sua singularidade – em nada ajudada por essa confissão de semelhança.
Até podemos tentar entender o cansaço de Bolsonaro em ser execrado pela mídia por qualquer deslize, enquanto Ciro, igualmente falastrão e verborrágico, goza de uma blindagem maior. A esquerda tem salvo-conduto mesmo, Bolsonaro não sabe? O duplo padrão é constante e expõe a hipocrisia dos jornalistas.
Se Bolsonaro dissesse um terço das baboseiras que Ciro ou mesmo Lula dizem, ele seria ainda mais massacrado do que já é, enquanto os outros, por serem de esquerda, acabam sempre aliviados. Mas quando a direita faz concessões à esquerda, é sempre um tiro no pé: a esquerda nunca vai migrar para a direita.
Geraldo Alckmin aprendeu isso do jeito duro em 2006, quando foi “acusado” de defender as privatizações e resolveu virar um outdoor ambulante de estatais. Conseguiu a façanha de ter menos votos no segundo turno! Se é para votar em estatista demagogo, a esquerda sempre vai preferir o original em vez da cópia.
O que tem permitido o crescimento de Bolsonaro nas pesquisas é justamente ele bater nesse establishment todo, que é de esquerda, focar na questão da segurança (e devia falar menos de economia por enquanto, para evitar tropeços), e atacar sem dó nem piedade o PT e seus satélites, suas linhas auxiliares, das quais Ciro Gomes faz parte, é um ícone!
Ter “muito em comum” com alguém feito Ciro Gomes deveria ser motivo de vergonha, portanto, não de orgulho, e por puro pragmatismo Bolsonaro deveria guardar para si essa opinião. Externá-la é algo que só interessa ao próprio Ciro Gomes, o capacho do PT.
Rodrigo Constantino