O presidente Jair Bolsonaro, nesta quarta, usou a rede social para destacar a tendência de alta do Ibovespa, principal índice de ações brasileiras, que atingiu sua máxima histórica. Ele apontou para o grau de otimismo dos investidores com o novo governo:
De fato, como podemos ver no gráfico abaixo, o Ibovespa segue firme e forte, e isso se deve mais a fatores internos do que ao resto do mundo:
Bolsonaro está certo ao ligar o desempenho da Bolsa com as expectativas dos investidores com seu governo. Mas seria recomendável cautela aqui. Em primeiro lugar, porque a Bolsa é um mecanismo de antecipação de expectativas, ou seja, procura descontar as previsões do futuro. Se aquilo que era previsto pela maioria não se confirmar, a decepção é imediatamente precificada, e as correções podem ser abruptas.
Ou seja, se por um lado os investidores estão mesmo apostando em reformas positivas que valorizariam os ativos brasileiros, por outro lado isso significa que o governo precisa entregar resultados, e logo. A paciência dos investidores não é infinita, e eles, ao contrário de muitas pessoas, inclusive do governo, entendem a urgência dessas mudanças, especialmente na Previdência.
Em segundo lugar, é bom lembrar que os preços dos ativos oscilam. Até Lula e o PT tentaram se vangloriar quando o Ibovespa entrou num “bull market” durante sua gestão, apropriando-se dos méritos que, na verdade, pertenciam ao crescimento chinês e ao baixo custo de capital nos países desenvolvidos. Mas e quando a tendência é de baixa? E quando entramos num “bear market”?
Aí o discurso muda, os “especuladores” passam a ser os culpados, há um “ataque especulativo” contra o país etc. Já vimos esse filme antes inúmeras vezes. É natural do mundo da política ser seletivo e hipócrita, adotar narrativas enviesadas e lembrar da Bolsa apenas quando interessa.
Bolsonaro merece créditos pela alta do Ibovespa, sem dúvida. Foi sua vitória que gerou esse clima de empolgação. Foi a indicação de Paulo Guedes para o ministério da Economia que produziu essa animação embasada. Mas… é preciso deixar o homem trabalhar agora, conter os obstáculos criados pelos militares, investir na articulação política, aprovar reformas profundas.
Ou isso, ou essa tendência de alta irá se reverter rapidamente, e Bolsonaro terá de esquecer que existe a Bolsa, pois ela estará alertando para os perigos à frente. Já se uma reforma previdenciária decente for mesmo aprovada e os privilégios do setor público forem mesmo combatidos, o céu é o limite para o Ibovespa…
Rodrigo Constantino
