Após um breve discurso genérico e sóbrio, o presidente Jair Bolsonaro respondeu perguntas feitas por Schwab, idealizador do evento. Também não chegou a entrar em grandes detalhes, mas reforçou a agenda de reformas liberais, em que o peso do estado será tirado das costas de quem produz. Seu governo, disse, pretende reduzir o tamanho do estado e investir em educação, além de comercializar com o mundo todo. Nesse sentido, o novo governo representa um ponto de inflexão, onde questões ideológicas ficarão de fora.
Como o PT tinha levado um fator ideológico forte para dentro do governo, Bolsonaro tem boa dose de razão ao falar dessa inflexão sem ideologia. Mas ela não é totalmente verdadeira. Mesmo o pragmatismo é uma ideologia, claro, e nesse sentido todos temos ideologias. Mas meu ponto é outro: há, sim, um fator ideológico na gestão Bolsonaro, especialmente na parte externa.
O embate entre o liberalismo pragmático de Paulo Guedes e a visão mais ideológica da “cruzada” dos seguidores de Steve Bannon está evidente, e já foi tema de comentários meus. O ministro Ernesto Araújo está longe de ser alguém mais imparcial ou pragmático. O jovem assessor especial, Filipe G. Martins, aluno de Olavo de Carvalho, tampouco. Ambos enxergam o estado como um instrumento para missões mais ambiciosas, ou mesmo megalomaníacas, no combate ao marxismo cultural e ao globalismo.
E, nesse processo, o pragmatismo comercial pode sair prejudicado. Afinal, o maior parceiro comercial do Brasil não é a América de Trump, e sim a China “comunista”. Não está claro como será essa tensão entre Guedes e Araújo, entre o liberalismo e o nacionalismo populista inspirado em Bannon.
Que o governo Bolsonaro representa mesmo um ponto de inflexão em vários aspectos é um fato inegável. O ranço socialista já era, é coisa do passado, ficou preso com Lula em Curitiba (apesar de ainda abundar nas escolas, universidades e imprensa). Mas resta saber como o fator ideológico da “direita alternativa”, um tanto reacionária, vai impactar a tomada de decisões não só na geopolítica, mas também internamente. O veredicto ainda não saiu sobre essa importante questão…
Rodrigo Constantino
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