Jair Bolsonaro foi atacado sistematicamente, de forma injusta, pela imprensa brasileira. O viés de esquerda da imensa maioria dos jornalistas ficou evidente nas manchetes, reportagens e colunas. Não adiantou e o capitão de direita foi eleito presidente. Agora, Bolsonaro demonstra certa sede de vingança. Em seu primeiro discurso como presidente eleito, alfinetou os veículos de comunicação que o difamaram e perseguiram. E ameaçou cortar verbas públicas do jornal Folha de SP por suas “fake news”.
Mas tal postura não é a mais republicana. Que Bolsonaro foi mesmo alvo de ataques chulos e ideológicos não resta a menor dúvida. Ele tem todo direito de se sentir incomodado, injustiçado e até indignado, desejando retaliar quem fez de tudo para que fosse derrotado. Só que a presidência é uma instituição da República e não deve ser utilizada para fins pessoais. A relação promíscua entre governo e imprensa no Brasil é o grande problema, que abre espaço para esse tipo de coisa.
Bolsonaro, durante a campanha, tinha desafiado o grupo GLOBO, alegando que recebiam mais verba pública do que sua audiência justificava, e que num eventual governo seu a coisa seria revista e proporcional. Até aí, menos mal. Mas, novamente, quando há muita verba estatal envolvida, temos esse risco de uso político para chancelar veículos “amigos” e punir os “inimigos”. O PT fez muito isso, como sabemos. Não devemos aplaudir se a direita fizer o mesmo, com sinal trocado.
Alexandre Borges comentou em seu Twitter: “O erro começa quando jornal depende de governo (propaganda e empréstimos) para sobreviver. Proíbam propaganda estatal, acabem com o BNDES e façam jornais viverem de leitores, será bom para ambos e para a democracia”. Eis aí o caminho ideal do ponto de vista de um liberal republicano.
Carlos Andreazza, que tem sido crítico de Bolsonaro, também condenou qualquer uso do estado para intimidar a imprensa: ““(…) no que depender de mim, imprensa que se comportar dessa maneira indigna não terá recursos do governo federal”. A fala de Bolsonaro, presidente eleito, sobre a Folha, é inaceitável. Não gostou de algo, vá à Justiça. Reagir usando dinheiro público é que não dá”.
Fernando Holiday, do MBL, foi na mesma linha: “Vendo o JN penso que o Presidente tem de ter cuidado com as declarações, por exemplo, me pareceu que ele pretende retirar verbas da @folha porque foi alvo de mentiras em alguns casos. Mas nenhuma mídia deveria se manter às custas do governo e não só a que o presidente considera fake”.
Podemos compreender a revolta de Bolsonaro. Sabemos como a mídia mainstream distorce tudo contra ele, contra a direita em geral. Flávio Gordon resumiu com ironia como são produzidas as reportagens: “Como surgem as matérias da Folha de S. Paulo? 1) Jornalista “ele não” de cabelo roxo chega na redação com olhos inchados; 2) Numa catarse coletiva com seus colegas, xinga muito Bolsonaro de X e Y; 3) Publica matéria com a manchete: “Internautas dizem que Bolsonaro é X e Y”. Fim”.
Ainda assim, a postura de Bolsonaro deve estar acima desse desejo por vingança. Usar o peso financeiro para enquadrar jornalistas do ponto de vista ideológico é um perigo. Se a direita fizer, perde a moral para condenar a esquerda, que sempre fez. O ideal, repito, é afastar governo de imprensa, reduzir as verbas públicas, e adotar um critério objetivo e republicano para as existentes.
Que Bolsonaro tenha a grandeza de não se rebaixar às práticas petistas. A Folha está cada vez mais desacreditada por suas mentiras. Mas não é por isso que deve ter verba estatal cortada. Quem discordar porque, afinal, estamos em uma guerra cultural contra a esquerda, deve entender que, numa guerra de vale tudo, a verdade costuma ser a primeira vítima. A guerra é contra o abuso de poder estatal sobre a imprensa, não contra o abuso da esquerda sobre a mídia.
Rodrigo Constantino
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