Eu bem que tentei. Ofereci gratuitamente meu curso “Bases da Economia” a Jair Bolsonaro, que educadamente aceitou o presente. Meu objetivo era ajudá-lo nessa trajetória mais liberal. No passado, não vamos esquecer, Bolsonaro chegou a acusar FHC de crime de lesa-pátria por ter privatizado a Vale. Desde então ele veio demonstrando mais bom senso, alguma afinidade maior com o liberalismo. Mas ainda comete escorregadas imperdoáveis.
Como ao criticar a PEC 241, mais conhecida como PEC do Teto, que tenta impor um limite aos gastos públicos descontrolados. Acabei de publicar um texto bom de Percival Puggina sobre o assunto. Mas Bolsonaro preferiu uma linha populista, no pior estilo Benjamin Steinbruch, “desenvolvimentista”, focando apenas naquilo que se vê e ignorando tudo aquilo que não se vê, como diria Bastiat.
Entendo a preocupação do deputado com os militares, com seu principal eleitorado, e também seus pares de antiga profissão. Ele tem razão de reclamar do salário desses militares, bravos defensores da soberania nacional, e apontar as discrepâncias com relação aos demais servidores públicos, especialmente os políticos. Mas calma lá! Falar que basta reduzir a taxa de juros Selic para poupar é colocar a carroça na frente dos bois, confundir sintoma com causa do problema, apelar para soluções mágicas sensacionalistas. Vejam o vídeo caseiro gravado pelo deputado:
Até “Barrosão” se mostrou mais antenado e consequente do que Bolsonaro nesse caso. Vejam o que o ministro do STF disse (do Antagonista): Na decisão que indeferiu o recurso do PCdoB contra a PEC 241, o ministro ressaltou que “a responsabilidade fiscal é fundamento das economias saudáveis e não tem ideologia”. E acrescentou:
“Desrespeitá-la significa predeterminar o futuro com déficits, inflação, juros altos, desemprego e todas as consequências negativas que dessas disfunções advêm. A democracia, a separação de Poderes e a proteção dos direitos fundamentais decorrem de escolhas orçamentárias transparentes e adequadamente justificadas, e não da realização de gastos superiores às possibilidades do Erário, que comprometem o futuro e cujos ônus recaem sobre as novas gerações.”
É isso mesmo. Que Bolsonaro esteja incomodado com os ganhos relativos dos servidores públicos, tudo bem, isso é legítimo. Mas que se coloque contra o limite dos gastos totais, isso é simplesmente absurdo! Que o setor público é privilegiado no Brasil não resta a menor dúvida. Claro que não são os militares os culpados, mas impedir o aumento dos gastos públicos totais é um passo fundamental para resgatar nossa economia.
Bolsonaro deveria fazer o curso urgentemente, para não repetir baboseiras como esta, de que basta diminuir a taxa Selic para poupar recursos públicos. Para reduzi-la, antes é preciso cortar os gastos públicos. A taxa de juros poderá então cair, como consequência dessa redução e das reformas estruturais.
PS: Parece que, felizmente, o deputado já voltou atrás e mudou de ideia. Menos mal. Mas não muda o fato de que seu embasamento teórico acerca do liberalismo precisa avançar, justamente para que ele não tenha recaídas estatizantes como esta. É preciso compreender bem o funcionamento da economia para entender a importância da redução dos gastos públicos gerais para o país.
Rodrigo Constantino
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