O pré-candidato do PSL à Presidência da República, o deputado federal Jair Bolsonaro, afirmou nesta quinta-feira, 19, que “jamais” se comprometeu com os partidos que rejeitaram alianças com ele nos últimos dias. Bolsonaro enfrenta dificuldades para compor alianças desde que assumiu a disposição de concorrer ao Planalto nas eleições 2018.
Em menos de 48 horas, ele ouviu um “não” do PR, comandado pelo ex-deputado Valdemar Costa Neto (SP), e do nanico PRP – legenda do general da reserva Augusto Heleno Ribeiro, cotado até então para ser o vice na chapa. Caso não consiga romper o isolamento, Bolsonaro vai dispor de apenas 8 segundos em cada bloco no horário gratuito de rádio e TV que começa em 31 de agosto.
“A maioria da imprensa cria falsa narrativa como se tivesse sido descartado por fulano e cicrano. Jamais me comprometi com nenhum dos citados. Sempre deixei claro que meu partido é o povo e agora tentam desonestamente inverter a situação para mais uma vez nos descredibilizar!”
Nesse cenário de “partidos” que não passam de siglas de aluguel, corruptas e sem ideologia, essa guinada popular (populista?) é tentadora, faz sentido. Mas é perigosa também. Democracia, por mais imperfeita que seja, é feita com partidos políticos. Bolsonaro vai “bypassar” o Congresso? Se for eleito, mesmo isolado e com o minúsculo PSL, como pretende governar?
São questões delicadas que todo defensor do capitão deveria levar em conta. Afinal, liberais e conservadores costumam defender uma democracia representativa, com base em seus representantes eleitos. Essa coisa de “democracia direta” que liga governante e “povo” de forma mágica sem intermediários normalmente é bandeira da esquerda revolucionária e nunca acaba bem.
Cheguei a escrever um texto afirmando que o pragmatismo de Bolsonaro iria decepcionar os “bolsominions”, e que isso era bom para o país, pois a alternativa era mesmo uma postura intransigente e fanática que poderia ameaçar a democracia. O próprio Bolsonaro, não custa lembrar, defendeu a ideia de uma aliança com o PR, questionando os críticos “puristas” se deveria apanhar de todos sem condições de reação, por falta de tempo de TV e queda de alcance nas redes sociais.
O “centrão” tenta chegar a um acordo justamente para sobreviver ao risco Bolsonaro:
Após desistência de aliança com Jair Bolsonaro, o PR de Valdemar Costa Neto decidiu fechar acordo com o centrão para que o grupo apoie candidato único à Presidência. Dividido entre Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB), o bloco quer afunilar para uma decisão final já nesta quinta-feira (19), em café da manhã com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Com a decisão, o PR se junta a DEM, PP, SD e PRB. Juntos os cinco partidos somam 163 deputados federais e o PT tem 61 e o MDB, 51. São as duas maiores legendas da Câmara.
Graças a essa bancada de deputados, uma decisão em bloco do Centrão joga no colo do escolhido para candidato a presidente 171 segundos no horário eleitoral de televisão. Como comparação, Jair Bolsonaro tem garantidos apenas 8 segundos de tevê – o PSL, partido do pré-candidato, conta com 8 deputados.
Ao fim do encontro, apesar da indefinição sobre o nome a ser apoiado, havia uma unanimidade: o grupo vai caminhar junto. Costa Neto disse que vai acompanhar o grupo. Os colegas confirmaram.
“É impossível haver divisão. Eu me comprometi que se eu for vencido, vou acompanhar a maioria. Isso já está definido”, disse Ciro Nogueira.
Seja qual for o escolhido, participantes do encontro afirmam que o candidato a vice na chapa já está decidido. Saiu como favorito o nome de Josué Alencar (PR), filho do ex-vice-presidente José Alencar.
O melhor argumento de defensores de Bolsonaro é que uma aliança agora poderia manchar sua imagem e agregar pouco, pois ele provavelmente estará no segundo turno. Depois, o tempo de televisão é dividido meio a meio de qualquer forma. Pode ser essa a estratégia, ou ao menos o motivo que justifique maior intransigência nesse momento.
Mas pode ser também uma real incapacidade de articular e contemporizar, o que pode agradar aqueles enojados com a política atual e esses “partidos” podres, com toda razão, mas que assusta os realistas e práticos que querem saber, de fato, como governar o país dentro da democracia, por mais defeituosa que seja.
Se Bolsonaro não consegue atrair e fechar sequer com os partidos que têm mais apoiadores seus, como o de Magno Malta e o do general Augusto Heleno, então como vai montar uma base governista para aprovar as reformas necessárias? Fazer essa pergunta é uma obrigação de todas as pessoas sérias preocupadas com o destino do país.
A alternativa é repetir, como uma criança mimada ou um fanático ingênuo, que depois o capitão decide como resolver tais dilemas. Ora, o “povo” não estará ocupando as mais de 500 cadeiras do Congresso para votar as medidas apresentadas. Lá estarão os deputados eleitos por esses partidos que viraram as costas a Bolsonaro.
Rodrigo Constantino
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