O presidente interino Michel Temer completa 100 dias de governo com pouco para mostrar: a credibilidade da equipe econômica ou o discurso mais duro do Itamaraty contra a Venezuela, por exemplo. E uma promessa de reformas que limitem os gastos públicos. Mas por ora é isso: promessa. E há recuos preocupantes também, como com a negociação com os estados acerca de suas dívidas.
Temer diz que seus 200 dias (final de novembro, portanto) é que demonstrarão a que veio. Como a Folha resume, eis seu desafio: “Na encruzilhada em que o presidente interino se encontra, o cenário positivo para ele é manter controlada sua base parlamentar, aprovar a emenda do teto do gasto e criar um ambiente econômico que permita o início do ciclo de redução de juros. Se essas metas forem alcançadas nos próximos cem dias, seu governo estará consolidado e ele entrará de vez no rol dos presidenciáveis para 2018”.
Espera-se que ele não queira ser um presidenciável em 2018, assim como seu poderoso ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. É exatamente isso que pode levar a um recuo nas reformas necessárias, tidas como “impopulares”. Quem quer ser candidato não pode se dar ao luxo de “ir pro pau”, de enfrentar os desafios sem se preocupar apenas com votos daqui a dois anos.
É por isso que o PSDB foi se reunir com o presidente interino. Um misto de preocupação política com econômica. Claro, se Temer ou Meirelles tiverem a pretensão de disputar as eleições, isso significa um problema político para os tucanos. Mas sejamos bondosos: se eles agirem assim, isso também representa um problema econômico para o país, e o PSDB, como fiel escudeiro das reformas, não pode aceitar isso. Por esse motivo, ambos teriam acertado maior participação do PSDB no governo:
Ficou combinado que o líder do governo no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), passará a integrar as reuniões no Palácio do Planalto do núcleo econômico do governo.
“Eles pediram, com toda razão, uma maior participação no processo de formulação do governo”, disse à Folha o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil), que participou do jantar no Palácio do Jaburu do presidente interino com líderes do PSDB.
Segundo Padilha, foi um encontro de “aproximação”, no qual os tucanos manifestaram o desejo de “construir coletivamente” as principais medidas do governo Temer. “O pedido deles é procedente. Eles vão participar mais. Os outros aliados, também”, afirmou o ministro da Casa Civil.
Mesmo que por interesses políticos, os tucanos estão certos e agindo em prol do Brasil dessa forma. Cobram que Temer precisa ser mais duro nas reformas econômicas, e é exatamente disso que o país precisa agora. Nas palavras de um tucano, o PSDB quer ser sócio de um governo que vença a crise econômica, não de um que não a resolva. Ao embarcarem no governo Temer, decisão que foi motivo de controvérsia na época, o PSDB apostou nas mudanças com cores mais liberais. Agora Temer precisa entregar o prometido.
“O presidente não tem a possibilidade de errar de agora em diante. Nós apresentamos a ele os mesmos temas que já tínhamos apresentado, de reformas estruturais no País. O que nós ouvimos do presidente Michel e de alguns dos seus principais assessores, é que ele tem absoluta disposição de inaugurar na semana que vem um tempo novo em seu governo, onde a agenda de reformas seja clara e o governo como um todo, não apenas o PSDB ou alguns dos aliados, lute por ela. Uma agenda que vai recuperar o País”, afirmou Aécio após o encontro.
Segundo Aécio, Padilha teria mostrado que o governo segue preocupado com a crise econômica, e teria dito mais de uma vez que o país está “à beira do precipício”. Espera-se que não seja apenas retórica para acalmar os tucanos. O país está mesmo flertando com o abismo ainda, e é muito cedo para comemorar qualquer coisa. Só colocar uma equipe respeitada não é suficiente. Nem perto disso. É preciso aprovar as reformas.
Como já argumentei aqui, usando metáforas de guerra, a questão é de vida ou morte, e a batalha principal é a fiscal. Nisso, ao menos, os tucanos acertam. Muito aquém das medidas liberais de que o país precisa, é verdade. Mas são eles os maiores defensores de peso no Congresso da direção correta que devemos seguir, e têm pressionado Temer nesse sentido. Por isso a fala de Aécio Neves está correta: Temer não tem a possibilidade de errar.
Pode até parecer injusto politicamente ele e seu ministro Henrique Meirelles irem para o sacrifício e, com isso, ajudar a pavimentar o caminho dos tucanos à presidência em 2018. Mas a História saberá julgá-los de forma adequada: terão sido, se fizerem isso, os grandes responsáveis pelo resgate do Brasil, que afundava rapidamente após 13 anos de desgraça petista. A escolha, portanto, é abrir mão da próxima eleição e entrar para a História. Parece uma boa alternativa.
Rodrigo Constantino
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