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Brasil e Argentina discutem criação de moeda única: péssima ideia!

Brasil e Argentina estão discutindo a criação de uma moeda única para o Mercosul, que já tem até um possível nome: peso real. O assunto foi debatido entre representantes dos governos dos dois países na viagem do presidente Jair Bolsonaro à Argentina, na quinta-feira (6).

Na manhã desta sexta-feira (7), Bolsonaro confirmou que foi o primeiro passo em direção a uma moeda única no Mercosul. “É o primeiro passo para um sonho de uma moeda única. Como aconteceu com o euro lá atrás [na União Europeia], pode acontecer o peso real aqui”, disse ao deixar o hotel onde estava hospedado em Buenos Aires. Bolsonaro voltou nesta sexta para o Brasil.

“Meu forte não é economia, mas acreditamos no feeling, na bagagem, no conhecimento e no patriotismo do Paulo Guedes, ministro da Economia, nessa questão também”, afirmou. O Banco Central (BC) divulgou nota nesta sexta-feira (7) negando que esteja estudando uma moeda única com outros países do Mercosul.

“O Banco Central do Brasil não tem projetos ou estudos em andamento para uma união monetária com a Argentina. Há tão somente, como é natural na relação entre parceiros, diálogos sobre estabilidade macroeconômica, bem como debates acerca de redução de riscos e vulnerabilidades e fortalecimento institucional”, diz a nota.

Já tive a oportunidade de debater com Paulo Guedes esse assunto, e percebi que ele tem certa obsessão pelo tema. Era um dos poucos pontos de divergência entre nós. Para Guedes, uma moeda comum seria uma forma de criar uma “âncora fiscal”, impondo disciplina aos países menos responsáveis. Era esse o argumento de alguns defensores do euro também.

Na prática, porém, acabamos com alemães trabalhadores sustentando servidores públicos gregos. Se paulistas já carregam nas costas parte do nordeste brasileiro, teríamos de adicionar ainda o peso de argentinos desempregados ou venezuelanos falidos. A ideia de uma moeda comum como forma de controlar os gastos públicos é, no mínimo, muito perigosa.

Não é ideia nova de Guedes, como já disse. Joel Pinheiro resgatou um texto antigo, e brincou: “A ideia de uma moeda única entre Brasil e Argentina (e o resto da América Latina) não é de hoje. Em artigo de 2010, Paulo Guedes já a defendia. O objetivo: caminhar rumo à “Grande Sociedade Aberta”. Soros curtiu esse sonho globalista.”

Alexandre Borges criticou: “Peso real?? Guedes, numa boa, sou seu fã mas me ajuda a te ajudar. Esquece isso!”. O deputado Paulo Eduardo Martins foi na mesma linha: “Sobre a moeda única com a Argentina, grande Paulo Guedes, bora tomar um choppinho e esquecer isso?”

Pedro Menezes, colunista da Gazeta, ironizou: “Jorge Luís Borges, melhor nota sulamericana no PISA, cordilheiras, alfajor, Lionel Messi, idade mínima de aposentadoria mais alta do continente, empanadas, torcida que canta até perdendo, Mafalda e parrilla, mas Bolsonaro quer pegar a moeda, justamente o que os caras tem de pior.”

Fernando Ulrich profetizou: “Na vã tentativa de criar o peso-real, parimos o “realito”, uma criatura bem intencionada, mas que só mal nos trouxe. Esse será o texto na capa do meu livro, depois que a moeda comum entre Brasil e Argentina for lançada e der errado. O título? “Moeda comum, infortúnio latino”.”

E Helio Beltrão, por fim, lembrou do que Thatcher pensava sobre a moeda comum na Europa, e alfinetou: “Thatcher ao Delors, presidente da EU à época, “the euro is socialism through the back delors” (trocadilho com back door). Já o ‘peso real’ é peronismo pela porta da frente mesmo. Vão criar o CUpom: Comitê Unificado de Peronismo por Operações Monetárias.”

Com todo o respeito que tenho pelo meu ex-chefe e melhor ministro da Economia que o Brasil já teve, preciso constatar que essa ideia da moeda comum é péssima. Entendo o racional de Guedes, mas ele está errado nessa. A moeda comum não seria um âncora fiscal, e sim um peso extra que o Brasil que produz teria de carregar, com o perdão pelo trocadilho. Seria uma camisa de força para um casamento indesejável, sem cláusula de divórcio. Esquece isso, Guedes!

Rodrigo Constantino

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