Menos divertido é olhar o quadro de medalhas dos Jogos e constatar que a nos distanciar do mundo lá fora está bem mais do que uma questão gastronômica. Os reveses brasileiros em importantes esportes coletivos e o perrengue para chegar às mais de 20 medalhas imaginadas pelo COB e por analistas são um lembrete, ainda que simbólico, da cruel competição entre países que é o mundo.
Para quem passou uma ditadura abastecido pela ideia do Brasil Grande, acostumado a crer na panaceia da amarelinha, é um tapa na cara.
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A importância do comércio exterior no nosso PIB não é nem metade da média mundial. Em proficiência no inglês, aparecemos no 41º lugar numa lista de 70 países. Temos uma percepção sub-representada do significado da Ásia, o lugar que mais e mais concentra a espécie humana —a explosão por lá diminui o peso relativo do berço esplêndido daqui.
Pois é. Não é agradável ser trazido novamente de volta ao planeta Terra, mais especificamente ao Brasil real. Mas é parte necessária de qualquer mudança possível. “Nosso maior ciclo de investimento olímpico produziu uma festa bonita, suficiente para exterminar qualquer complexo de vira-latas. Mas não resultou num claro sucesso competitivo. Um pouquinho mais de sangue nos olhos e autocrítica não nos fariam mal em nenhum front”, conclui Dias.
Onde ficar nessa coisa toda? Minha coluna na Gazeta do Povo de hoje tenta extrair algumas lições importantes do megaevento. Novamente, tem tom mais crítico do que ufanista, pois se tiver de escolher um deles, com uma arma apontada para minha cabeça, confesso que ficaria do lado dos pessimistas. A diferença é que não considero essa desgraça toda um destino inexorável.
Sem fantasias, sem ilusões, podemos melhorar, e muito. Depende de nós. Um primeiro passo seria, talvez, abandonar o derrotismo crônico. Um segundo, igualmente relevante, seria parar de repetir que já somos o máximo, pois não somos, e essa mentira serve apenas para nos afastar do esforço necessário para, quem sabe, um dia sermos.
O Brasil tem poucos motivos para ‘orgulho nacional’ hoje. Um fato que precisa ser encarado com coragem. Mas temos potenciais. Não será nada fácil lapidá-los, mas não é impossível. Temos a chance de sermos um “grande ator” no mundo um dia. Desde que não aceitemos com passividade que “está tudo bem”. Não está. Ao contrário: está tudo mal, muito mal. Mas podemos reagir.
Rodrigo Constantino