O Brasil costuma ser dividido entre dois extremos: de um lado, os derrotistas, aqueles pessimistas crônicos que repetem que o país nunca terá jeito, pois seu povo é uma porcaria. São fatalistas, parecem depositar pouca confiança na capacidade de mudança das pessoas e mesmo de uma cultura. Do outro lado, há os ufanistas, os “polianas”, aqueles que já acham que o país é o máximo, que somos a última Coca-Cola do verão, e que quem não enxerga essa maravilha toda tem mais é que se mandar para Miami.
Considero os dois casos equivocados, e até patológicos. Em meu livro novo Brasileiro é otário? – O alto custo da nossa malandragem, busco exatamente um equilíbrio mais realista. Apesar de reconhecer todas as mazelas e defeitos apontados pelo primeiro grupo, tento não cair nesse pessimismo crônico paralisante. Ao mesmo tempo, podemos aceitar algumas qualidades apontadas pelos ufanistas, mas sem se fechar para as críticas duras e necessárias.
Claro, como quero muitas mudanças em meu país, acabo me alinhando mais ao primeiro grupo, pois considero as críticas fundamentais. Mas eis a diferença: devem ser críticas construtivas, buscando soluções, alternativas, oferecendo propostas. Criticar por criticar, repetindo que somos mesmo um lixo, em nada ajuda. Apenas gera um gozo mórbido naqueles que estão presos ao destino da nação, ao mesmo tempo em que parecem sonhar com uma espécie de “juízo final”.
Lendo os jornais de hoje, percebi os dois extremos. O NYT, após aquela reportagem sobre o biscoito de polvilho, publicou outra em tom bem mais ameno. Na verdade, oposto: o jornalista da vez, Roger Cohen, disse estar “cansado” de tanto pessimismo dos brasileiros, e resolveu tecer elogios ao país, focar em sua capacidade de superação.
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