Por Isadora Darwich, publicado pelo Instituto Liberal
Suponhamos o seguinte cenário: tenho 10 anos de idade e estou brincando com duas amigas, mas quero todos os brinquedos para mim. Se eu dissesse o que realmente quero ninguém iria concordar comigo e eu ficaria de fora, já que não sei brincar e trapaceio.
Então, eu convenço uma amiga de que a outra vai roubar os brinquedos dela se não estabelecermos uma ordem, e que precisamos de alguém para controlar aquela “bagunça”. Em seguida, faço o mesmo com a segunda amiga. Agora não apenas elas acham que precisamos de alguém pra controlar a brincadeira, mas, também, estão uma contra a outra brigando. Eu sugiro que façamos uma votação (afinal isso é uma democracia!) e elas, obviamente, votam em mim. Fico com tudo o que queria e elas continuam discutindo. Com 20 anos, se eu fizesse isso, seria manipuladora e, se eu ainda fizesse isso com 30 anos, eu seria política.
Essa metáfora do mundo real chama-se lucro político. Eu não produzi nada, eu não criei nada, não gerei bem-estar para ninguém, mas eu menti, dizendo ser capaz de administrar os recursos de outros melhor que eles mesmos e peguei para mim. Se eu pego tudo, chamamos isso de corrupção; se eu pego uma parte através de impostos, por exemplo, chama-se espoliação. O que revolta o brasileiro hoje não é só a corrupção, mas temos que aprender a dar nome e voz à nossa revolta.
Espoliação é fazer algo que seria crime caso se tratasse de uma pessoa qualquer, como tirar de alguém o fruto do seu trabalho, tornado legal por ser um processo feito pelo governo. Claro, a corrupção é algo ainda muito pior.
Mas a destruição da economia, da criatividade e da renda dos cidadãos brasileiros não é fruto dela. É fruto da espoliação crescente e sistemática. Uma das tantas músicas do Cazuza que poderia ter sido escrita sobre o Brasil atual diz:
“Não me convidaram
pra essa festa pobre
que os homens armaram pra me convencer
a pagar sem ver
toda essa droga
que já vem malhada antes de eu nascer”
Ela resume o que muitos brasileiros sentem hoje diante de tanta espoliação. Uma palavra que só aprendi no terceiro ano de faculdade. Nunca nenhum professor de história, filosofia ou geografia política me ensinou. Muito provavelmente porque eles nem mesmo conhecem seu significado. Ninguém me convidou para essa festa pobre e, podem ter certeza, eu não aceitei pagar um absurdo de impostos arbitrários antes mesmo de conseguir me sustentar.
Os problemas brasileiros não começaram com partido nenhum, com político nenhum. E, enquanto o povo se matar em discussões acaloradas sobre lealdade e diferentes agendas partidárias, saibam que em Brasília só se escutam risadas. Lá, na capital isolada, é como nos castelos dos feudos da era dos servos: ninguém é inimigo e todos se aliam por um objetivo comum que é sugar tudo que a população brasileira tem.
Entretanto, como aqui é o Brasil, tem gente que não tem nada para ser sugado, poderiam dizer. Os que dizem isso, não deveriam subestimar o quão maquiavélico um político pode ser. Aliás, o termo maquiavélico surgiu porque Maquiavel, já no ano de 513, descreveu e aconselhou muito precisamente como os políticos, na época príncipes, deveriam ser manipuladores e controlar a população. Políticos desenvolveram um sistema chamado assistencialismo, em que ele pode te explorar mais um pouquinho até você não ser mais capaz de produzir. Você não tem nada? Sem problemas! Eu pego de outra pessoa e te dou “esmola” (Bolsa Família); prendo-te em um sistema de crédito artificial (Caixa Econômica Federal) com uma dívida e juros que você nem mesmo entende, então imagina se algum dia você vai conseguir pagar?!
Acham muito absurdo o que eu estou falando? Vamos dizer que existem políticos que querem fazer o bem e são bem intencionados, pelo menos antes de começarem seus mandatos. Se você acredita realmente que o candidato “A” em quem você votou tem suas necessidades como prioridade e quer, sinceramente, representar o que você acredita, te digo que, no mínimo, ele acredita que é melhor que você. Um político sou eu com 10 anos pegando os brinquedos das duas amigas e colocando uma contra a outra. Mesmo que minha intenção não seja apenas ter mais brinquedos (bens, poder, fama e fortuna), sinto-me na capacidade de julgar o que é melhor para as duas. Acho que elas não são capazes de escolher por si mesmas a melhor forma de brincar (ou viver).
Tudo que um político diz comprova meu ponto de vista: Você só vota nele porque ele te diz que pode decidir melhor do que você o que fazer com o seu dinheiro. Você foi inteligente, eficiente e capaz para produzir, contudo quem sabe bem a melhor forma de gastar o dinheiro é ele. Portanto, antes de tudo, tenha orgulho do seu povo e não dos seus políticos. Eles não têm orgulho de você. Acorda e mostra tua cara, Brasil!
* Isadora Darwich, formada em Relações Internacionais pela Ibmec MG, trabalhou na Câmara de Comércio Índia-Brasilé co-autora do artigo “Abstentionism, Blank Vote and Invalid Ballot Papers: Evidences from Brazil and E.U.” aceito no VII Congresso da Associação Mineira de Direito e Economia (2015) e na 2016 Conference of the Public Choice Society Fort Lauderdale, Flórida (EUA), já foi assistente de pesquisa no departamento internacional do Cato Institute, hoje vive em Washington DC trabalhando no movimento pela liberdade e faz pesquisa de mercado em uma fundação que investe em bolsas para Ensino Superior.
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